Há quem se revolte com o facto de a vacina contra a Covid-19 ser obrigatória em certos países. Depois, há o Québec, com um primeiro-ministro a dizer que quem não se vacina tem de pagar uma taxa extra de imposto de saúde. No dia seguinte ao anúncio vacinaram-se mais de cem mil pessoas. Enfim, eu sou a favor da vacinação. Sou mais ainda quando percebo que uma parte significativa das pessoas que vai parar aos hospitais não a tem. A vacina aligeira sintomas, é um facto. Não será a 100%, claro, cada organismo é um organismo. Seja como for, sou a favor (não creio que a minha mãe se tenha preocupado ou interrogado com a composição das vacinas do sarampo, da pólio ou da meningite antes de me levar à pica em criança). 

No caso do voto – que é um direito que as mulheres em Portugal só tiveram tarde e a más horas –, creio que a obrigatoriedade faria sentido. Quem não vota não se interessa por política, oiço dizer. Não querem saber, insistem. Tudo certo, mas vão à escola pública, ao hospital? A pachorra que tenho para a malta que se queixa e manda postas de pescada nas redes sociais, a maioria sem saber a fundo sobre tema algum, é abaixo de mínima. É inexistente. Quando é esta malta que engorda os números da abstenção, faço por eliminá-la dos meus contactos. Se não votas, não te queixes. Parece-me muito simples. 

As pessoas deviam perceber a diferença de programas, de ideologias, de propostas. A iliteracia política é uma realidade quase ofensiva para uma sociedade que tem o talento para a queixa, e para invocar com desdém o tal “eles”, que são os tipos que se chegam à frente e fazem por governar. Há coisas mal feitas? Participem, reivindicar é um direito, mas não o façam tipo treinador de bancada. Sejam activos. Levaria, o voto obrigatório, as pessoas a entender melhor os partidos, os programas? Não tenho a certeza. O que sei é que o abstencionismo tem níveis demasiado elevados e que isso não favorece a democracia e o seu exercício saudável. 

Vivemos uma ditadura, por isso temos a obrigação de evitar certos cenários. Sim, a palavra “obrigatório” é uma chatice, podemos discutir liberdade individual e tudo o que quiserem, mas uma coisa é certa: se não formos todos votar de forma esclarecida, a democracia está em perigo. E a nossa democracia nem 50 anos tem. É triste, esta sensação de que a temos de salvar. Não sei quem ganhará as eleições de domingo, não sou vidente e tenho pouca fé nas sondagens. Para mim, importa que seja uma eleição participada, informada e com a ideia de democracia bem presente. Caso contrário, acreditem que vamos ter muitas saudades do que perdemos.  

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