Num futuro, não muito distante, seremos todos mestiços. Quando digo mestiços, digo que seremos todos um misto entre humano e máquina. Teremos implantes cerebrais com ligação directa ao wi-fi, lentes de contacto com realidade aumentada, entre outras coisas, mais ou menos necessárias para a nossa sobrevivência e/ou entretenimento. Tudo isto trará várias questões que terão um impacto gigante na nossa vida e convivência enquanto espécie. Por exemplo:
- Teremos de fazer revisão como fazemos com o carro? Quem tem pernas biónicas ou olhos artificiais terá de fazer uma revisão anual para verificar se está em condições para circular na via pública? Sendo que, em muitos casos, são os homens que levam os carros das mulheres à revisão, como vai funcionar neste caso?
- Teremos de andar com membros sobresselentes como fazemos com o pneu do carro? Se sim, onde o transportaremos? Numa mochila? Num trolley a fazer barulho pela calçada das cidades? E podemos escolher o membro? Se tivermos vários membros biónicos, qual escolhemos? Acho que sabemos com qual todos os homens andariam prevenidos, não fosse falhar o que têm implementado no momento; possivelmente, seria como as chaves de fendas que têm várias pontas, de vários tamanhos e feitios para todos os gostos.
- Existirão filtros de beleza em real-time? Com as lentes de realidade aumentada, podemos, por escolha nossa ou da outra pessoa, vê-la em tempo real com um filtro de beleza, mascarando, assim, todos os camafeus. Toda a gente sabe que não se deve dormir com lentes e que, por isso, no dia seguinte de manhã é que se vislumbrará a verdadeira cara da pessoa, podendo haver arrependimento. No fundo, já acontece isso com a maquilhagem, a fraca luz da discoteca e, sobretudo, com o álcool.
- É certo que em breve comunicaremos por telepatia, transformando os nossos pensamentos em zeros e uns e transmitindo-os directamente para a o chip cerebral de outra pessoa. Como é que isto irá funcionar? Haverá notificações de nova mensagem no cérebro? Ficará lida instantaneamente e as pessoas ficarão a saber que as estamos a ignorar? Se alguém nos hackear o cérebro ficaremos com vozes na cabeça e a pensar que somos esquizofrénicos ou que acreditamos em Deus?
- Deixará de haver discussões no café sobre a idade de uma determinada celebridade ou sobre o ano em que saiu determinado filme ou música, já que todos estaremos ligados em tempo real à internet, com conhecimento instantâneo – a singularidade – e as conversas com os amigos deixarão de fazer sentido. “Ontem vi um documentário interessante…” é uma frase que deixará de existir, pois todos teremos o mesmo conhecimento numa só consciência global. Nada do que possas dizer aos teus amigos será novo e todos seremos muito cultos e interessantes e, por consequência, seremos todos desinteressantes.
- Com o upload da consciência para a cloud seremos virtualmente imortais. As relações irão mudar já que casar deixará de fazer sentido pois jurar amor eterno passa a parecer muito tempo. Filhos? Teremos? Quereremos deixar descendência se formos imortais? Teremos essa necessidade ou viveremos em mundos virtuais onde alugamos crianças durante umas horas até começarem a chorar e termos de mudar a fralda? Algo me diz que esta app fará a delícia dos pedófilos.
Estas e outras questões se levantam com o aproximar da próxima revolução genética e de integração da tecnologia com a biologia humana. Esta crónica passará a ser escrita pelo meu assistente pessoal – Fábio Sandro – que será uma inteligência artificial muito mais eloquente e interessante do que eu, enquanto estou nas Maldivas a fazer orgias com várias robôs sexuais voluptuosas que me dizem que eu sou o melhor na cama que já tiveram. Mal posso esperar pelo futuro.
Sugestões e dicas de vida completamente imparciais:
Para rir: Consciente, de Luís Franco-Bastos
Para ver: Searching, de Aneesh Changanty
Para ler: Filho da Mãe, de Hugo Gonçalves
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