E esta cena de estar calor em Agosto? Muito estranho. O clima anda todo trocado, não tarda em Dezembro vai estar frio, vão ver. Há umas semanas todos nos queixávamos que o Verão nunca mais chegava, muitos diziam ter sido a Maria Leal a afugentá-lo com o seu chamamento. Nos últimos dias todos reclamamos com o facto de Portugal se ter transformado numa espécie de caldeirão do diabo onde somos cozinhados vivos. A espécie humana é assim, insatisfeita por natureza. Queixamo-nos da seca e depois das inundações. Queixamo-nos do frio e depois dos incêndios com o calor. Somos uns mimados que querem um mundo perfeito e ameno só para nós. Distanciámo-nos da natureza e achamos que ela deve ser feita à nossa medida. Nunca vi uma sardinha queixar-se do frio ou do calor e até uma andorinha, quando acha que está frio, muda-se sem se queixar.

O clima e as catástrofes naturais fazem-nos sentir pequenos. Fechados nos nossos apartamentos uns em cima dos outros, com o ar condicionado ligado, achamos que controlamos tudo, mas mal metemos o pé na rua percebemos que somos impotentes. Acho que é por isso que nos queixamos tanto do clima: porque não o conseguimos controlar. Adoramos queixarmo-nos do que não podemos mudar, caso contrário teríamos de fazer alguma coisa além de reclamar.

Somos injustos com o sol quando ele nos dá vida e, principalmente, tema de conversa nas viagens constrangedoras de elevador com aqueles vizinhos com os quais não temos afinidades. “E este calor, hein?”, deve ser das frases mais ditas por estes dias. “Pois, está impossível”, respondemos. “Pois é, pois é, só se está bem na praia e é dentro de água!” diz-nos, ao que retorquimos com um sorriso amarelo e um “Ora bem, nem mais”. No entanto, o sol e o clima não servem apenas para aproximar desconhecidos, existe, também, uma espécie de rivalidade quanto ao calor: gostamos que seja na nossa cidade que faz mais calor mesmo que não o toleremos. Há uma espécie de competição climatérica: “42 aí em Lisboa? Ui, isso é para meninos, aqui na Amareleja estão 45.” Nem quero imaginar a luta que deve estar nas empresas, por esta altura, com tudo à bulha por causa do ar condicionado. Uns querem meter a temperatura no nível em que dá para refrescar cerveja, outros queixam-se que estão a levar com muito frio nas costas e depois ficam com dói-dói na garganta.

Por falar na Amareleja, este calor dá o mote para várias equipas de reportagem se meterem nos carros e visitar terras do interior – esquecidas e que nunca têm direito a ser mencionadas nas notícias – para perguntarem a pessoas aleatórias na rua “Está calor, não está?”. Jornalismo bacoco que constata o óbvio e que, pior, contribui para o aquecimento global porque duvido que tenham ido de carro eléctrico. Ainda para mais, é um jornalismo inútil porque já todos sabíamos que estava calor ao ver as fotografias dos termómetros dos carros partilhadas amiúde nas redes sociais. Salvam-se as reportagens na praia que, embora também elas inúteis e sem conteúdo jornalístico, mas que sempre servem para vermos corpos semi-nus. Aliás, é só para isso que são feitas e é só por isso que gostamos do verão.

Sugestões e dicas de vida completamente imparciais:

Quando apertarem a mão a alguém com este calor, façam favor de limpar o suor primeiro.

Se fizerem sexo com este calor, usem um resguardo na cama para não ensopar o colchão.

Bebam muitos líquidos e não mandem beatas pela janela do carro.