As muitas sondagens, todas com tendências idênticas, também mostram que mais de um terço dos eleitores ainda está na indecisão, não tanto sobre votar à direita ou à esquerda, mas em quem dentro de cada um dos blocos.
A pré-campanha foi longa e dominada por monólogos com insultos, mas há a sensação de que é hoje que tudo começa a decidir-se. Há a novidade de dois debates arranjados à última hora para confronto entre os líderes. O primeiro é nesta segunda-feira, ou segundo já amanhã. Um erro num dos debates tende a tornar-se fatal para qualquer dos candidatos. O eco dessa falha vai ecoar e ampliar-se até ao domingo que é de votos.
A discussão política em Espanha está dominada por dois temas: a questão catalã, que também é a territorial e da identidade da Espanha, na versão espanholista e na independentista catalã, e a novidade da erupção forte da ultra direita Vox.
O PP faz da Catalunha a sua principal arma eleitoral: abre o programa a prometer “decidida ação política” para “derrotar” o nacionalismo. O PSOE coloca-se negociador, passa ao de leve pela questão com o anúncio da intenção de “impulsionar a autonomia”. Mas os socialistas também são inflexíveis, até quanto à possibilidade de referendo.
O independentismo catalão, com o peso de 17 deputados entre os 350 no parlamento espanhol, no último ano, fez cair dois governos de Espanha, o de Rajoy e o de Sánchez. Agora, vários dirigentes independentistas estão a antecipar que “tendo de optar pelo mal menor”, se necessário, viabilizarão um governo do PSOE para evitar o bloco da direita. Sánchez sabe que qualquer sinal de ligação aos independentistas pode ser-lhe fatal. Ao mesmo tempo, anseia não ficar dependente do voto catalão.
A decomposição da direita espanhola em três partidos (PP, Ciudadanos e Vox) alterou o quadro político espanhol: há muitos eleitores indecisos, a pulular entre um outro, alguns, provavelmente, só decidirão no local de voto no domingo. A fragmentação do bloco à direita em três partidos encaminha para a perda de lugares na distribuição pelo método de Hondt.
A lei eleitoral espanhola proíbe a divulgação de resultados de sondagens na semana que antecede as eleições. Os últimos principais barómetros ou estudos de opinião foram publicados entre ontem e hoje pelo El País e pelo El Mundo e pelo ABC. Estas três sondagens mostram quase o mesmo retrato a uma semana das eleições; há um partido, o PSOE, que se destaca (129 deputados no El País, 122 a 133 no El Mundo, 134 a 139 no ABC), depois, no segundo lugar distanciado está o PP (75 lugares no El País, 74 a 86 no El Mundo, 81 a 86 no ABC), depois, no terceiro lugar aparece o Ciudadanos (49 deputados no El País, 48 a 56 no El Mundo, 42 a 44 no ABC); para a quarta posição há no El País um quase empate entre os partidos nas extremas, o Podemos com 33 lugares e o Vox com 32, enquanto no El Mundo o Podemos (30 a 41) supera o Vox (20 a 32); no ABC, o Vox (30 a 32) ultrapassa o Podemos (27).
Todas as sondagens mostram que os eleitos por partidos nacionalistas (em especial os bascos) serão determinantes, tendencialmente a favorecer as esquerdas, e, eventualmente, os independentistas (possivelmente uns 20 deputados) serão decisivos para viabilizar maiorias.
Tudo segue muito empatado entre direitas e esquerdas. Toda a gente joga muito nos debates consecutivos, hoje e amanhã. Pedro Sánchez, líder do PSOE, está na frente e preferia não ter de passar por este corpo a corpo desejado por todos os adversários. A crispação dentro do debate pode ajudar a aliviar a crispação nas ruas nesta semana política decisiva em Espanha. As provas eleitorais não ficarão por aqui, porque um mês depois há Europeias que em Espanha também coincidem com eleições autonómicas e municipais.
Para começar, o voto do próximo domingo tende a instalar um labirinto no fragmentado parlamento de Espanha e a impor grandes esforços de compromisso para formar uma maioria que desempate a Espanha.
A TER EM CONTA:
Como interpretar o tanto ódio que provocou o martírio no Sri Lanka? Atacar a convivência religiosa (atacadas três igrejas cristãs)? Ataque aos estrangeiros por serem considerados importadores do cristianismo (atacados três hotéis)? Desestabilizar o país, dez anos depois do fim da guerra civil? Que inferno nesta Páscoa no Sri Lanka.
A União Europeia ajudou a esbater a tensão na Irlanda do Norte. O Brexit contem a ameaça de fazer ir pelos ares a frágil paz negociada há 21 anos. A morte, por bala perdida, da jornalista Lyra McKee reaviva o temor de regresso da guerra civil. Derry nunca neste tempo conseguiu chegar a oferecer futuro.
O que é que levou a que a ficção se tenha tornado realidade na Ucrânia?
Passam cinco semanas sobre os dias em que a tempestade desabou sobre o centro de Moçambique. The New York Times cumpre o dever de voltar ao lugar da notícia. Também The Independent.
Estamos no ano do bicentenário do Museu del Prado. Se não é possível a visita em Madrid, há a explorar a visita virtual. Já agora, também a memória audiovisual do Prado.
Almodovar, Bellocchio, Jarmusch, os irmãos Dardenne, Elia Suleiman e os brasileiros Dornelles e Mendonça filho entre os cineastas candidatos à Palma de Ouro do Festival em Cannes entre 14 e 25 de maio.
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