Há novidades no arranque da campanha: a sondagem do Centro de Investigações Sociológicas (CIS), de Madrid, aponta que o independentismo roça mas não alcança a maioria e que o partido espanholista Ciudadanos, conduzido na Catalunha pela jovem muito carismática Inês Arrimadas, apanha os independentistas da Esquerda Republicana (ERC) como partido mais votado, embora estes continuem na frente do número de deputados, efeito do peso do voto urbano.
Tudo está à tangente: o conjunto de partidos independentistas soma 44,4% das intenções de voto; os constitucionalistas ficam a apenas uma décima, 44,3%. Os independentistas aparecem com perda de 3,4 pontos percentuais em relação ao anterior parlamento.
Em número de deputados, no mapa do CIS, o bloco independentista baixa dos 72 deputados que tinha no anterior parlamento, para 67, ficando a um lugar da maioria absoluta. O conjunto dos partidos constitucionalistas (Ciudadanos, PSC e PP) fica pelos 59 a 60 deputados. Portanto, panorama muito complicado para a formação do governo em Barcelona.
Um outro dado a ter em conta nesta campanha catalã: quatro dos líderes independentistas estão na prisão e outros em auto-exílio, em Bruxelas. O Supremo Tribunal de Espanha decidiu, precisamente no dia de arranque da campanha oficial, manter na prisão Oriol Junqueras, o líder de um partido principal, a Esquerda Republicana da Catalunha, também Joaquim Forn, o ex-Secretário (ministro) do Interior, tal como os dois Jordis, Sanchez e Cuixart, líderes de ONG separatistas. O Supremo, em Madrid, pode pretender ignorar a política, mas, na prática, acaba de prestar um grande serviço aos independentistas: dá-lhes discurso de denúncia das prisões, da arbitrariedade do poder espanhol e alimenta a vitimização. Está encontrado um fator de mobilização para o voto contra o poder espanhol sobre a Catalunha. O "efeito mártir" rende votos.
Até ao fim de semana, especulava-se que o Supremo poderia decidir a libertação dos dirigentes políticos catalães. Isso aproximaria a campanha eleitoral da normalidade desejável e poderia abrir caminhos para ser explorado o muito difícil refazer da convivência democrática.
Os cidadãos eleitores, de um campo e de outro estão exaustos. Também indignados. A transferência de votos do PP para o Ciudadanos reflete, no campo constitucionalista, a reprovação da postura do governo de Rajoy. A cidadania está revoltada com a incapacidade dos políticos para construírem propostas que permitam sair do atual bloqueio. Assim, perde a Catalunha e perde a Espanha.
TAMBÉM A TER EM CONTA:
Muito interessante leitura longa (sabe bem, encontrar histórias tratadas em profundidade) no The Guardian: a política portuguesa perante as drogas não deveria estar a ser seguida em outros países?
A história de Esraa, contada pelo The New York Times: pode-se ser mulher independente no Cairo?
Trump sempre no centro do furacão e por entre ventos contrários. Ora vê o Russiagate a ameaçar a Casa Branca, ora consegue vitórias relevantes: o Congresso aprovou a brutal redução de impostos para as grandes empresas (júbilo republicano, tudo outra vez a aplaudir o presidente) e o Supremo cancela as decisões judiciais que barravam o controverso decreto migratório de Trump. O Supremo desprezou o argumento dos juízes do Maryland e do Hawaii que considera a discriminação religiosa (origem muçulmana) incompatível com a constituição dos EUA. O hiperativo presidente também acaba de cortar muito aos parques naturais nos Estados Unidos.
A vida dos jornalistas mexicanos acossada pelo terror.
Uma primeira página escolhida hoje.
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