Na apresentação do Orçamento do Estado para 2023, Fernando Medina falou ao país enquanto exibia diapositivos. Entendo a ideia de passar uma mensagem esperançosa, mas a verdade é que podia também ter exibido alguns dianegativos. É que, nos últimos anos, o governo do PS especializou-se em mostrar apresentações em PowerPoint que mostram uma versão demasiado optimista da realidade: trata-se de um fenómeno designado diapositividade tóxica. Alguns socialistas justificaram a escolha de Costa para as Finanças com o facto de Medina ter tido um bom desempenho à frente da Câmara. Eu acho que foi porque Medina tem um bom desempenho à frente das câmaras. Tem aquele ar sofrido e bonzinho de quem não tenciona espoliar os rendimentos às famílias portuguesas. Não é um profeta da desgraça, mas sim um profeta do estado de graça em que o governo que tomou posse há seis meses se pretende manter.
Durante os anos em que esteve à frente da Câmara de Lisboa, Medina deve ter adotado, pelo constante convívio, as expressões dos agentes da Polícia Municipal. Se repararmos, a forma como se tem dirigido aos portugueses anda muito perto de "Não há nada para ver aqui! É circular, cidadão". E esta forma de comunicar medidas através de gráficos em PowerPoints ajuda a distrair da realidade. Atualmente, somos como uma criança a ler uma banda desenhada que talvez não seja para a sua idade - a história é violenta, mas como é à base de desenhos as famílias não ficam assim tão preocupadas. Olhando bem para os gráficos, concluímos que, por exemplo, as mexidas no IVA da eletricidade conduzem a uma poupança média de uns incríveis 75 cêntimos por mês. Em princípio, torramos logo essa margem a assistir às longuíssimas conferências de imprensa de Medina.
O Governo está viciado em dar boas notícias. O Orçamento do Estado prevê um aumento da receita na saúde, mas aposto que o dinheiro vai ser todo gasto na especialidade oftalmológica. Mormente, em óculos de lentes cor-de-rosa. No dia anterior, António Costa já tinha recolhido os louros do acordo firmado com os parceiros sociais. Para o PS, foi um acordo em sede de concertação. Para os portugueses, foi um acordo em sede de concerto, uma vez que é claro que nos estão a dar música.
A Euribor está a explodir, 20 euros no supermercado qualquer dia já não chegam para um lanche, mas para evitar uma espiral inflacionista, o governo entrou numa espiral negacionista. Ao mesmo tempo, fala-se dos "maiores aumentos de sempre". Um aumento de rendimentos abaixo da inflação é como oferecer um enxoval de recém-nascido a uma criança de ano e meio. Ninguém nega que é um investimento avultado, se tivesse sido oferecido mais cedo teria dado jeito, nesta fase honestamente não serve.
O ministro das Finanças apresentou-se ao serviço como herdeiro do optimismo de Costa, mas não é disso que o país precisa agora. O optimista Fernando Medina necessita de um pouco do ADN do pessimista Henrique Medina Carreira para se dirigir com realismo aos portugueses. Para que Fernando Medina continue a ter uma carreira, é bom que se torne no Fernando Medina Carreira.
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