Onde está e como se pode reforçar o peso da Régua? Este é um trocadilho ao qual espero conseguir responder nos próximos parágrafos, sendo uma questão que deverá motivar e que espero que tenha motivado todos os agentes políticos do concelho na preparação destas eleições autárquicas da Capital do Douro Vinhateiro.

Antes de refletir sobre a cidade, é fundamental fazer uma breve análise demográfica. Os últimos Censos de 2021 revelam que o Peso da Régua perdeu 15% da população entre 2011 e 2021, muito mais do que qualquer outro concelho da NUT II, ao contrário que acontecia noutras décadas. Este é um facto que deverá preocupar todos os reguenses, principalmente os agentes políticos: é um reflexo da cidade e da evolução que tem tido nos últimos anos.

Inquestionavelmente, o combate a este decréscimo deverá ser a bandeira de qualquer autarca e de todos os agentes das terras com menor pressão demográfica.

Quem por esta altura estiver a ler este apontamento poderá estar a praguejar e a arranjar justificações de inferioridade para responder a este decréscimo: ora atirando para a falta de oportunidades no Interior, ora para litoralização do país e dos apoios. Claro que são pontos legítimos, mas será que não é possível lutar contra estas realidades?

O que faz com que hoje a nossa cidade não seja um concelho atrativo para a população, sobretudo jovem? O que poderá fazer com que um jovem reguense regresse a casa?

Para além da paixão pela cidade e a proximidade aos amigos e família, é difícil encontrar outras boas razões. Faltam fatores dinamizadores que façam com que os reguenses voltem e faltam instrumentos e ofertas que captem famílias jovens a escolher a Régua para o seu futuro familiar e profissional. Do ponto de vista profissional, faltam oportunidades; e dizer que as grandes empresas se fixam predominantemente em Lisboa e nos grandes centros, como dizem muitos agentes políticos locais, é uma justificação insuficiente.

A verdade é que a pandemia veio acelerar vários processos, mudar outros e mostrar que a geração mais formada e qualificada de sempre em Portugal foi e é capaz de se adaptar. Há um grande número de empresas e de profissionais a procurar soluções alternativas aos grandes centros urbanos, a locais de trabalho alternativos – muitos deles à distância. Esta digitalização permitirá melhorar áreas como o turismo, como os transportes, como a enologia, a agricultura, como a cultura: áreas tão importantes para a região.

Abriu-se um novo espaço para os hubs, para as incubadoras, para os escritórios partilhados. Locais esses que proliferam por todo o território. Conheci há pouco tempo um projeto chamado “Aldeias da Montanha” ao abrigo do qual foram criados locais de trabalho em aldeias no interior de Portugal para que os jovens possam trabalhar a custo zero, ou com um custo muito reduzido. Jovens esses dotados da arte e do engenho que poderão contribuir para uma evolução positiva destas zonas mais abandonadas, tornando-as mais competitivas, dotadas de mais oportunidades e, com isso, capazes de acolher cada vez mais pessoas e empresas.

Se consultarmos a lista do IAPMEI com as incubadoras certificadas, contamos pelos dedos das mãos as que existem nesta região: apenas em Chaves, Vila Real, Bragança e São João da Pesqueira.

Não é do conhecimento de muitos, porque não é um hospital ou um grande evento, mas o Museu do Douro prevê ainda este ano concluir o Crivo, um espaço em que se pretende, entre outros, captar jovens empreendedores.

Infelizmente, parece não se compreender o potencial desta iniciativa do Museu do Douro, que tem sido um dos principais agentes de desenvolvimento da região, mas cujas atividades, embora muito relevantes, têm muita dificuldade em chegar às pessoas – talvez pelo perfil menos exuberante ou imediato do trabalho que está a ser feito.

Apesar de haver quem discorde de mim, temos um exemplo próximo de nós que é um caso de sucesso. O Vila Régia Park é um projeto que já acolhe dezenas de empresas e profissionais que recebem, para além dum espaço de crescimento, o apoio da Câmara Municipal em prol do desenvolvimento.

Outro programa que já é uma realidade em 88 municípios dos 165 que constituem os Territórios do Interior é a Rede Nacional de Teletrabalho. As autarquias disponibilizam meios para que funcionários públicos possam trabalhar no Interior do país com vantagens fiscais. Há programas municipais, intermunicipais e governamentais que podem servir de base e nos quais Peso da Régua se pode inserir para dar um passo na procura de se tornar mais atrativa.

Fala-se no tema das cidades do futuro, ou smart cities, mas a verdade é que não se percebe a real importância que isso tem nos programas para o futuro da cidade, o que mudará na prática.

E se acrescentarmos a isto a proximidade que o Peso da Régua tem à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, uma Instituição de Ensino Superior de excelência cuja função de agente de desenvolvimento da região é por todos reconhecida e que se tornou numa das maiores “armas” para travar esta redução de população da região, torna-se demasiado premente não deixar o comboio partir sem pelo menos “tentarmos comprar o bilhete”.

Este apanhado demográfico é o fio condutor para mostrar a falta de jovens na cidade, servindo muitas vezes de suporte para discursos eleitoralistas, ainda que muitas vezes desacompanhados de soluções que combatam essa falta.

Falta juventude, não tanto nas listas de candidatos, mas no discurso. Faltam momentos em que se desafiam os reguenses a pensar a terra, em contribuir mais ativamente para o concelho e para a região.
Apesar da proximidade entre as pessoas, existe uma barreira entre o comum cidadão e os órgãos dirigentes, como se qualquer crítica construtiva fosse uma crítica ao executivo A ou B. Acontece na Régua e acontece, infelizmente, em muitos outros concelhos semelhantes.

Faltam espaços de debate para os reguenses. É paradoxal: trabalho em Lisboa, numa cidade com mais de 500.000 habitantes, e encontro aqui mecanismos mais próximos de participação autárquica (principalmente através do contacto com as freguesias) do que encontro na Régua, onde todos nos conhecemos.

O discurso de inferioridade não pode ser aceite pelos reguenses. É preciso continuar a manter pontes e a criar outras com entidades (instituições de ensino superior, municípios, entidades governamentais) para atingir um bem comum: o melhor para os reguenses, para os durienses, para os transmontanos, para os portugueses.

Que também a pandemia nos tenha ensinado a estreitar ligações da esquerda à direita. Porque ganhe quem ganhar estas eleições, Peso da Régua precisa das ideias de todos, do contributo de todos para que se possam desenvolver as melhores ideias de todas as partes, para que todos os reguenses sintam a sua voz ouvida, para que tenham um maior sentimento de pertença ao que é feito e projetado.

Respondendo à questão se serviu de mote: esperemos ver o P(p)eso da Régua nos próximos anos, aliado ao desenvolvimento e no “comboio da frente” da capacitação dos recursos da região, nomeadamente a enologia e reforçando as condições para a atração dos mais jovens, sem nunca descurar a importância, experiência e conhecimento das restantes faixas etárias. Em suma, é essencial fazer com que a nossa cidade melhore as condições de vida dos reguenses e futuros reguenses, e que se vislumbre como uma verdadeira opção para as famílias do amanhã.