Um escritor francês, premiado e presença regular na televisão do seu país, afirma que não conseguiria amar uma mulher com 50 anos de idade – a mesma idade do dito cujo senhor –, que os corpos das mulheres mais velhas não são extraordinários como os das mulheres de 25 anos de idade e que, cereja no topo do bolo, que as mulheres mais velhas se tornam invisíveis. Diz tudo isto em declarações à extraordinária Marie Claire francesa (que saudades que tenho da revista em versão portuguesa!).

E, é evidente, as declarações causaram furor nas redes sociais e afins. A minha pergunta, a primeira, é: quem é este senhor? E por que carga de água é que tem palco para tanto disparate? Porventura será muito famoso, ganhou um prémio literário com relevância no mundo das letras, mas quem é? É que malta a ganhar prémios há muita e nem todos são dignos da história da literatura universal. E como se atreve, este cretino? Será para criar soundbites?

Deduzo que possa dar-se ao atrevimento porque hoje é tudo possível. O dito cujo senhor acrescenta ainda que prefere mulheres orientais, porque o seu gosto apurado no que toca a mulheres asiáticas dá-lhe um certo... panache? Acrescenta ainda, este escritor cujo nome escolho não nomear, que pode ser triste e redutora a forma como classifica o aspecto desejável das mulheres asiáticas, mas é ele. Devemos dar-lhe pontos pela sinceridade?

Uma mulher de quase 50 anos, é o meu caso, tem de conviver com várias pressões da sociedade, pode escolher viver melhor ou pior, mas sabe que existem. É evidente que um corpo aos 25 anos não é comparável com um de 50, embora seja relativo, por existirem corpos em todas as idades que podem ser classificados como “pouco interessantes” do ponto de vista estético. O que me perturba nas declarações desta criatura tão versada nas coisas do mundo é – desculpem a repetição – o facto de dizer que as mulheres mais velhas são “invisíveis”. Não somos. As mulheres nunca são invisíveis, não importa a idade ou o corpo. Cada mulher é um ser humano que traz consigo uma experiência, uma história. Haja paciência!

O escritor, torturado por diversas personalidades nas redes sociais, diz que não tem culpa e que não pode ser julgado no “tribunal do gosto”. Há muitas mulheres mais velhas que se riem com tudo isto, eu não consigo. Uma amiga próxima, porém, arrancou-me uma gargalhada ao dizer que aos 50 o sexo é muito melhor, “o escritorzinho é que não sabe e talvez não queira ser confrontado com a sabedoria e experiência que nós, mulheres, acumulamos. Azarinho”.

Que é como quem diz, nous sommes désolés.