- 'Bora jogar à bola?
- Sim, mas só depois do Dragon Ball.

Era assim todos os dias. Até porque a nossa única preocupação, naquela altura, era saber se o Son Goku ia ou não ganhar o Grande Torneio de Artes Marciais.

Quando me perguntam que desenhos animados via quando era pequeno, nunca hesito. Dragon Ball, claro. “Mas porquê?”. Isso pergunto eu. Porquê esse “porquê”? É impossível não gostar do melhor desenho animado do mundo. De sempre. É como perguntar o “porquê” de respirarmos – porque precisamos, não é verdade? Como é que alguém consegue dormir descansado sem saber se o Son Goku e a Bulma iam encontrar as 7 Bolas de Cristal? Ninguém. Se tenho os mesmos amigos praticamente desde que nasci, devo-o ao Goku. Se sei o que é a amizade, devo-o ao Krillin. Se sei o que é deixar o orgulho de parte, devo-o ao Vegeta. Sou capaz de ter aprendido mais com as vozes do Feist e do João Loy, do que com o meu Professor de Religião e Moral.

E para quem ainda não percebeu do que falo ou não se recorda bem – o que na minha opinião é um escândalo e dá direito a uma viagem para Namek. Só de ida –, eu explico. O Son Goku é um Super Guerreiro do Espaço que veio para o Planeta Terra ainda bebé. Cresceu com o avô. Foi enviado do Planeta Vegeta para cá porque tinha “uma força de 10 unidades”, era fraco. A verdade é que se tornou o mais poderoso guerreiro de sempre e agora faz frente a todos aqueles que querem destruir a Terra. Incluindo Freiza, o seu maior inimigo, responsável pela morte do seu pai e por Son Goku ter vindo parar ao nosso Planeta. Para além de aniquilar todos os seus opositores, ele tem outra missão: encontrar as 7 Bolas de Cristal. Com elas pode voltar ressuscitar (mais que uma vez, diga‑se!) os seus fiéis amigos, que perderam a vida em combate. Não sei se costumam ler romances, mas se isto não é apaixonante, então devem pertencer ao exército do Frieza.

Lembro-me que nessa altura todos nós colecionávamos os cartões do Dragon Ball. Uns eram brilhantes, outros tinham duas perspetivas consoante o lado que virávamos, outros ainda tinham o BI de cada personagem na parte de trás, enfim... Eu fiz a coleção toda. Tenho-a em casa, numas micas especiais, dentro de um dossier especial, sem qualquer vinco. Uma vez fui com uns amigos comprar umas saquetas à papelaria do bairro – saudades da Dona Gina – e, uns minutos depois, uns rapazes mais velhos queriam tirar-nos aquele tesouro acabado de adquirir. Não deixei. Preferi perder o amor a duas moedas de 100 escudos do que entregar assim As Forças Especiais de Frieza, o Mr. Popo e o Mestre Kaib com o seu macaquinho chamado...Macaco.

Acho que o que me surpreendeu mais, e o que me fez gostar tanto de Dragon Ball, foi a variedade de histórias. Sim, era sempre a busca das bolas de cristal e “combater as forças do mal” e “lutar com a alma e coragem do dragão”, é verdade. Mas reparem que alguém tinha que salvar a Terra. Todos os dias. Mais, não pode ser questionada a busca incansável pelas bolas de cristal, a culpa é do Yamsha e do Ten Shin Han que estavam sempre a morrer. E isto, é só mais uma demonstração dos níveis de amizade cultivados na série.

Houve Dragon Ball, Dragon Ball Z, Dragon Ball GT. Ao longo destes anos, vimos crescer e fomos crescendo com o Son Goku e com a Bulma. Vimos o nosso melhor amigo casar com a Kika. Vimos também a quantidade de penteados que o Yamsha pode ter, ao contrário do Krillin. Percebemos que o Tartaruga Genial tem 300 anos. Sempre e para sempre. Vimos o Son Gohan tornar-se homem e parar de chorar por tudo e por nada (embora perceba que aturar um “babysitter” verde chamada Satan não seja propriamente a coisa mais fácil do mundo). E todos nós sofremos quando ele, Gohan, que com a ajuda do pai, derrotou o incrível Cell. Só com uma mão, é preciso dizê-lo.

E este é o ponto de partida da nova série de Akira Toriyama. Dragon Ball Super, que volta amanhã à SIC e com as vozes do elenco original. Assim que soube disto, parei de ver a série em japonês. O Kamehameha não tem tanta força em nipónico. Vai ser tão super fixe e já estou tão super ansioso e só espero que o tempo passe super rápido ...desculpem, mas fico super criança quando penso nisto.

"Por isso já sabem, não percam o próximo episódio, porque nós também não", catano que até me veio uma lágrima ao olho...