Nos dias 7 e 8, a Associação LPAZ reuniu na ilha de Santa Maria um grupo de académicos com o propósito de discutir isso mesmo, mas focando os Açores, um território único e essencial tanto para a identidade como para a estratégia portuguesas. As intervenções estão disponíveis no canal de YouTube da LPAZ.

Olhar para o passado permite-nos identificar continuidades, mas também diferenças nas funções desempenhadas pelos Açores. Uma das novidades mais promissoras para o país parece-me ser a projeção do arquipélago como palco diplomático. A perceção dos Açores como ilhas a meio caminho entre as duas margens do Atlântico permite-nos apresentá-las como anfitriões naturais para o diálogo e a cooperação de países da bacia atlântica em face de desafios comuns.

O maior deles é o aquecimento global, com implicações que temos de estudar para as mitigarmos e para nos adaptarmos às que ainda não estamos a sentir. O AIR Centre é uma organização internacional sediada na ilha Terceira em 2016 que se dedica à colaboração científica entre instituições de todo o Atlântico sobre o oceano, o clima, energia e o espaço. O potencial dos Açores nesta área é multiplicado pela instalação em Santa Maria de infraestruturas de grande importância para a Agência Espacial Europeia. A Estratégia para o Espaço do Governo dos Açores tem ambições ainda mais vastas.

Os desafios à segurança do Atlântico também se adivinham formidáveis na era de rivalidade geopolítica que vivemos. Inaugurado em 2021 por iniciativa do Ministério de Defesa Nacional e com sede prevista para a Terceira, o Atlantic Centre dá uma plataforma de diálogo político e colaboração académica para os 21 Estados signatários da Declaração Política Conjunta, e de norte a sul e em ambas as margens do Atlântico.

Dada a incerteza do futuro, a qualidade ideal é aquilo a que Nassim Taleb chama de “anti-fragilidade”: a qualidade de beneficiar da desordem. Não sabemos que desafios nos guarda o futuro, mas fazer dos Açores um palco diplomático para o diálogo e a cooperação na resposta às ameaças que dizem respeito a todos os povos atlânticos é uma excelente forma de dotar Portugal de anti-fragilidade.