Depois de ler o que foi dito no debate, fiquei particularmente fã do professor Filipe Albuquerque Matos. Fã no sentido de fascinado, mesmo, porque me dá ideia que é daquelas pessoas que a qualquer momento vai dizer que o “e-mail” é uma coisa do demo e que tem saudades de quando se comunicava com sinais de fumo. É uma questão de tempo. Mas também não sei se surpreenderá assim tanto os seus fãs, como eu, visto que já disse coisas como “a lei que criminaliza os maus tratos aos animais é um retrocesso civilizacional” ou “por exemplo, se vir um caniche na estrada em dificuldades, recusar-me-ei a ajudá-lo”.

Quando li este exemplo do caniche, confesso que até pensei “calma, não vamos já julgar. Eu também depende, se o caniche estiver com dificuldades a mudar um pneu acho que ele tem que se safar sozinho e não ser um mimado”. Mas depois percebi que as “dificuldades” seriam ter sido atropelado, ou semelhante, e a seguir o professor Filipe Matos rematou com um “porque tenho medo de caniches”, e eu aí achei hilariantemente irónico que uma besta tão grande tenha medo de um cãozito como um caniche.

Parece que lá para o meio do debate também veio ainda à baila a questão da tauromaquia. A professora Mafalda Barbosa disse que “a natureza do touro destina-o à lide, sem touradas extinguir-se-ia” e que “as mais recentes alterações à lei admitem o seu possível sofrimento em nome da fruição cultural e artística do ser humano”. Ora esta! Então tu queres ver que é remotamente possível que os touros não adorem – não estejam ali a dizer “ai, sim… espeta-me mais… espeta-me mais, filha!” – quando aquelas barras de ferro lhes atravessam a carne para gáudio do superior ser humano? Que estranho.

Em 2018, e com todas as provas científicas que existem, achar que os animais são coisas e não seres sensíveis é um bocado como achar que a Terra é plana. Podes fazê-lo, mas as pessoas que não comungam contigo um grau intelectual tão baixo vão desejar que a Terra fosse efectivamente plana e que quem pensa como tu fosse a correr até à borda e não conseguisse travar quando lá chegasse. Só para ver se isto ficava um bocadinho menos poluído.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

- Jain: Estou fascinado com a música desta miúda francesa. Experimentem.

- Seven Seconds: Sei que já recomencei na crónica passada, mas agora já vi os episódios todos. Das melhores coisinhas que anda aí. Esqueçam a Casa de Papel e vejam uma série a sério.