É essa a única explicação para o Óscar do melhor filme ter escapado a Roma, um filme com estética admirável, com poesia visual e acústica a par de vivo realismo, que nos leva, com delicada sensibilidade, ao encontro da ternura e da crueldade, da generosidade e do egoísmo, com foco na vida na casa de uma família da classe média alta, no bairro Colónia La Roma, no México dos anos 70 do século XX.
Este Roma, realizado pelo premiado Cuarón (o terceiro mexicano, depois de Alejandro Gonzalez Iñárritu e Guillermo del Toro a receber o Óscar para melhor realizador nos últimos quatro anos), leva-nos a um cinema que acrescenta caminho ao que foi aberto por Fellini e outros a meio do século XX.
Ao fazer da indígena Cleo a heroína deste filme, Cuarón homenageia a Liboria que cuidou da infância dele naquela casa da burguesia mexicana. Ao mesmo tempo homenageia a dedicação de tantas de todas as empregadas domésticas. Houve um tempo em que eram chamadas de criadas, servas, de facto têm sido muitas vezes anjos da guarda e dedicadas mães de substituição e educadoras, para além de faz-tudo numa casa.
Roma, com prodigiosa fotografia sempre a preto e branco, é um filme sobre sentimentos, mas também relata tudo da vida, dentro e fora da casa, mostra-nos a violência daquele México, também os choques de classes sociais e de etnias naquele México machista.
Este filme de Alfonso Cuáron fica na nossa cabeça e no nosso coração e tem lugar garantido na história do cinema. É improvável que isso aconteça com Green Book e Bohemian Rhapsody, bons filmes, interessantes mas sem maravilharem como Roma.
Claro que muita gente não gostará de Roma. Gente que espera que o cinema tenha ação, suspense, fogos de artifício – é uma preferência legítima – tenderá a perguntar, ao longo deste Roma algo como “mas vai acontecer alguma coisa?” De facto, acontece a verdade e a sensibilidade de um cineasta que relata vidas e homenageia naquela Cleo, empregada doméstica indígena, todas as empregadas domésticas. Faz-nos pensar no que até há tão pouco tempo era (ainda será agora?) a falta de direitos laborais das empregadas domésticas, também no papel delas a substituir a família que não está.
ENTRETANTO, O DIA A DIA SEGUE EM INCERTEZAS:
Para onde vai a Venezuela? A posição espanhola relembra-nos que a força não é solução. Há que forçar negociações para repor a normalidade democrática, defender a dignidade e livrar tanta gente de tanto sofrimento.
Está à vista o adiamento do Brexit? Crescem pressões nessa direção.
Que soluções políticas vai ter a Espanha? As eleições de abril mergulham em incertezas.
O que é que o Vaticano vai fazer a seguir? A vontade do Papa na cimeira contra a pederastia obriga a passos seguintes.
Cinco primeiras páginas escolhidas hoje: esta, esta e esta. Também esta e esta.
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