Para onde vai Israel? Não há eleições marcadas para os próximos tempos, mas os apelos para recurso ao voto multiplicam-se dia após dia, com a liderança de Netanyahu – que já tinha alta desaprovação antes de 7 de outubro – agora com os apoios em quota mínima.
A sondagem realizada e publicada neste último mês pelo canal 12 da televisão israelita está a ser tomada como referência: dá o bloco anti-Netanyahu com a maioria absoluta de 75 lugares entre os 120 no parlamento de Israel. O Likud, o partido liderado por Netanyahu cai de 32 para apenas 16 deputados, enquanto o partido de Unidade Nacional, liderado por Benny Gantz aparece com 31.
A administração democrata em Washington, tal como a diplomacia europeia não escondem que pensam em Gantz como alternativa para liderar um governo israelita capaz de se envolver na pacificação da região.
Benny Gantz, antigo páraquedista, depois, entre 2011 e 2015, Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, participou como militar em todas as guerras e conflitos que envolveram Israel nas últimas quatro décadas. Gantz tem estatura de líder, é popular e respeitado em Israel.
O Estado de Israel, desde a sua fundação em 14 de maio de 1948, teve 22 homens no posto de máximo comando das forças armadas. Destes 22, 12 passaram para a política, entre eles Yitzak Rabin e Ehud Barak, que vieram a exercer como primeiro-ministro. Outros oficiais de alta patente, como Yigal Allon e Ariel Sharon, também chefiaram governo de Israel. Benny Gantz, militar licenciado em História e com muitos contactos em Washington onde teve posto na embaixada de Israel, inscreve-se nessa tradição de generais no topo da política.
Nas últimas eleições legislativas em Israel, votação de repetição em 2022 após sucessivos impasses, o partido de Gantz teve apenas 10% dos votos, perante 23% para Netanyahu. Mas, então, o centrista Yair Lapid era quem encabeçava a oposição de centro-esquerda ao cada vez mais direitista Netanyahu,
Hoje, Benny Gantz é a alternativa. Ele reforçou créditos ao aceitar, após o bárbaro ataque terrorista cometido pelo Hamas em 7 de outubro, integrar o governo de emergência e unidade nacional em Israel. Mas as divergências com as poderosas alas ultra direitista e ultra religiosa são notórias.
Foi a Benny Gantz e não a Netanyahu que a administração Biden abriu as portas há duas semanas para encontros oficiais entre os governos dos EUA e de Israel.
É em Benny Gantz que o n.º 3 na liderança política dos Estados Unidos, Chuck Schumer, líder da maioria democrata no Senado e uma das mais influentes vozes judaicas nos EUA, estava a pensar quando na passada quinta-feira apelou a que os israelitas regressem às urnas para afastar Netanyahu e a extrema-direita do poder — Schumer também defendeu liderança renovada na Palestina.
A comunidade internacional, após seis meses de guerra em Gaza, com brutal e desproporcionada descarga de bombardeamentos sobre a população civil, está finalmente em alta pressão com Netanyahu. Está a exigir-lhe que desista da ofensiva terrestre sobre Rafah. Biden está a colocar a proteção da população civil em Rafah como a linha vermelha que Israel não pode ultrapassar.
Netanyahu parece não entender que as guerras modernas não se ganham apenas com meios militares. Talvez esteja tomado pela noção de que precisa de continuar em guerra para adiar o fim político anunciado. Talvez esteja à beira de perder o controlo dos acontecimentos.
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