Ser mãe e pai é desafiante por si só. Quando os filhos apresentam sintomas ou são diagnosticados com a Perturbação Obsessiva-Compulsiva (POC), acresce a dificuldade e surgem dúvidas. O que precisa, então, de saber como pai/mãe de crianças com sintomatologia da Perturbação Obsessiva-Compulsiva?

A POC está associada a um desequilíbrio bioquímico no cérebro e os primeiros sintomas podem surgir na infância ou adolescência. Esta perturbação é caracterizada pela presença de obsessões – imagens e/ou pensamentos indesejados e persistentes que causam desconforto e ansiedade; e compulsões – respostas de evitamento manifestadas através de comportamentos impulsivos e sentidas como necessárias para neutralizar o desconforto causado pelas obsessões. Contudo, esta sensação de alívio é temporária e os pensamentos obsessivos regressam.

Questionar-se-ão sobre que pensamentos são estes que causam tanto desconforto. Os conteúdos das obsessões estão relacionados com vários temas, entre eles morte, violência, contaminação, religião, comportamentos impróprios ou doenças. A ameaça percebida leva a que a criança tenha sintomas comportamentais compulsivos (limpar, verificar, contar, arrumar, armazenar e orar) e cognitivos (rituais mentais, hipervigilância, preocupação). Estes rituais têm um grande impacto e alteram significativamente o funcionamento do quotidiano da criança e da sua família.

As áreas afetadas são normalmente a escolar (a criança atrasa-se por ter rituais matinais que não podem ficar por fazer e sente dificuldades de concentração nas aulas); a social (evita locais públicos, festas de anos, ir a casa de amigos) e a familiar (não cumpre tarefas - ou cumpre as inerentes aos seus próprios rituais - e não cumpre horários).

Quando chegam à consulta de Psicologia há pais que referem “nós dizemos-lhe para não pensar mais nisso!”, “Já dissemos que fica de castigo se não parar de lavar as mãos a cada minuto”. Reconheço que a intenção dos pais é a melhor. No fundo, o papel que assumem é o de ajudar os seus filhos. Mas a verdade é que, sem querer, estão a invalidar as emoções e a alimentar o funcionamento persistente da POC. Como digo às famílias que procuram ajuda neste combate, preciso que sejam a extensão da terapia em casa. Por esta altura perguntam-me: “Como podemos, como pais, agir?”. 

Sugiro alguns passos a implementar:

  • Parar de ajudar a criança a cumprir os rituais. Por cada vez que a criança cumpre um ritual, a POC ganha força. Queremos enfraquece-la e, para isso, temos de lhe dizer “Não!”. Um exemplo é não voltar para trás para garantir que a porta ficou trancada.
  • As críticas e as punições devem ser retiradas para não serem desenvolvidos sentimentos de culpa em relação às obsessões e compulsões.  A criança precisa de compreender a POC e aprender a controlar os sintomas. Os pais podem auxiliar a recentrar a atenção em momentos de crise, através de exercícios de controlo da respiração, por exemplo.
  • Ajudar a distinguir entre a criança e a POC – “Isto é um comportamento da POC, não é do João”. O João não tem vontade de estar a lavar as mãos a cada minuto, é uma regra imposta pela POC. Sugiro darem um nome à POC e utilizarem-no quando necessário. Desta forma, mostram que “O problema não és tu, é a POC”.
  • Durante o período de aprendizagem e implementação de estratégias que permitem diminuir a sintomatologia apresentada, a ansiedade pode aumentar porque as compulsões não são cumpridas. Os pais podem validar as emoções da criança e demonstrar compreensão – “Percebo que é muito difícil não dar atenção à POC, estás a ser muito forte!”

Em casos de pais separados, os dois devem agir de igual forma perante a sintomatologia apresentada e mostrarem-se consistentes para que a criança não sinta diferença entre as duas casas. 

Receber o diagnóstico de Perturbação Obsessiva-Compulsiva traz desafios diários a todos os elementos da família e torna-se imperativo combater os sintomas para viver uma vida saudável e plena. A terapia farmacológica e a psicoterapia auxiliam não só a criança como a sua rede de apoio.

Lembre-se de que a criança vive em permanente contacto com as regras impostas pela POC e trava uma luta diária contra a ansiedade causada. É muito importante sentir-se incondicionalmente compreendida e validada pela sua família. 

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