Todos temos os nossos preconceitos relativamente a um ou outro grupo de pessoas; por exemplo, acho que todos os gays sabem conjugar o cinto com os sapatos, mas não percebo como é que esses preconceitos levam à homofobia. Numa altura em que o Brasil se prepara para eleger para presidente um homofóbico assumido com muito orgulho – palavras do Bolsonaro – e que por cá temos um André Ventura cujo novo partido propõe o fim do casamento entre pessoas do mesmo sexo, pus-me a pensar nas razões que levam as pessoas a discriminarem outras apenas e só pela sua orientação sexual. Há quem diga que quem é homofóbico é um gay recalcado, mas acho que isso é uma ideia discriminatória pois assume que só os gays podem ser pessoas de merda.

Vamos fazer aqui uma analogia para a qual vou usar pinças: a homofobia é ainda mais incompreensível do que o racismo. Afirmação polémica, bem sei, mas vou tentar explicar. Imaginemos o senhor António que vive numa aldeia e que nunca contactou pessoalmente com um negro. Para ele, a imagem dos negros é moldada pelos filmes, onde muitas vezes são os criminosos; pelas notícias da bandalheira que vai em quase todos os países de África; pelas notícias por cá de bairros como a Cova da Moura; e até pela música em que ele ouve muitas vezes negros a dizer que vão matar a bófia e vender droga. Para o senhor António, esta é a única realidade que ele conhece dos negros e, como tal, é compreensível – embora injusto – que ele forme na sua cabeça o preconceito de que todos são criminosos. Dessa noção, vem o medo e do medo vem a discriminação. O senhor António não é má pessoa, simplesmente não sabe mais e, diria até que ele é racista no geral e que no particular, se aparecer um negro a pedir indicações na aldeia, vai tratá-lo, embora de pé atrás, da mesma forma que trataria um branco. Resumindo: para o senhor António, os negros são todos bandidos e andam a assaltar e matar pessoas e ele sente o seu bem-estar ameaçado.

Agora, debrucemo-nos, salvo seja, na homofobia. O senhor António também não conhece nenhum gay, pelo menos assumido, mas sabe que existem através dos media. O estereótipo formado na cabeça do senhor António é o de que os gays são todos femininos, vestem casacos floridos, gostam de festas e que, de vez em quando, fazem uma marcha onde vão vestidos como no Carnaval do Rio do Janeiro. Então, por que razão é o senhor António homofóbico, odeia gays e acha que não deviam casar? Não sei. Se houvesse notícias sobre gays ao género “Gangue de gays viola sete pessoas numa noite no Barreiro” ou “Gay assalta no metro e só rouba carteiras dos bolsos de trás de homens” ou mesmo “Príncipe Real, o bairro gay onde a criminalidade cresce”, percebia, pois na cabeça do senhor António, um gay podia ser uma ameaça à sua segurança, mas não é o caso. Aliás, de certeza que o senhor António até acha que os gays são mais fracos fisicamente do que os que ele considera serem homens à sério.

A homossexualidade foge da mediana – não da normalidade – percebo que para muitas pessoas não seja o que acham natural, mas o que nos interessa? Se são dois adultos que decidem amar-se ou só fazer amor no rabo de forma consensual, o que nos interessa? O que preocupa a esta gente se podem casar ou não? Acho que há duas razões: uma é a religião, outra é a frustração sexual. Curiosamente, estas duas costumam andar de mão dada. A religião é a mãe de muitos preconceitos e basta olhar para o mundo e perceber que os países mais religiosos, católicos ou muçulmanos, são os mais homofóbicos. Não conheço nenhum ateu homofóbico, mas também devem existir porque também há ateus otários, mas conheço gays católicos que, a meu ver, é como ser toureiro vegan; não faz sentido dar força a uma instituição que discrimina homossexuais. Uma coisa é ser fiel à Igreja Católica, outra é acreditar em Deus e isso já consigo perceber até porque basta olhar para o arco-íris para perceber que Ele, a existir, é um bocado maricas. Com este comentário vou conseguir indignar pessoas religiosas que acham que chamar gay a um ser imaginário é ofensa, e conseguirei ofender pessoas do outro lado da trincheira que dirão que a palavra “maricas” é homofóbica, mesmo usada num texto onde exponho claramente a minha opinião sobre o assunto. É um dom que tenho, o de ofender pessoas dos vários quadrantes.

Relativamente à frustração sexual, acho que é o segundo maior combustível da homofobia e ódio no geral. Todos temos a noção de que os homens gays fazem muito mais sexo do que os heterossexuais. São dois homens a querer e os homens, gays ou não, são uns javardos. Por isso, gera inveja a alguém que não está satisfeito com a sua vida no plano sexual, mas o que é estranho é que isto deveria jogar a favor dos direitos dos homossexuais, pois quem tem inveja deveria ser o primeiro a aceitar o casamento homossexual, porque toda a gente sabe que os casados fazem menos ou nenhum sexo. Aliás, em Portugal, a homofobia deveria ser inexistente, pois num pais que anda, há mais de 40 anos de democracia, a votar PS ou PSD devia estar habituado e até gostar de ser sodomizado.

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Para ver: The Haunting of Hill House, na Netflix.
Para comer: Laranjas.