Parafraseando o célebre filósofo português João Pinto, “prognósticos, só no fim do ano”. Na dura realidade, nem os bruxos nem os técnicos conseguem prever o futuro com precisão. Mesmo sabendo isso, estive a ler uma catrefada de previsões, à procura de um consenso que, esperava eu, aliviasse o meu pessimismo.

Conheço pessoas, como o historiador inglês Peter Francopan, (que entrevistei em junho) que fazem um balanço muito positivo dos avanços da civilização: estamos a progredir em tecnologia, em mortalidade infantil, na medicina, computação, etc. É verdade que todos os anos aumentam os conhecimentos avançados e também os básicos, como a alfabetização. 

Também sei de pessoas, como o economista e ex-ministro grego, Yanis Varoufakis, que pintam a situação na Europa, e por extensão, no mundo, como o caminho para a desgraça.

Mas há avaliações menos extremas e todas elas apresentam cenários problemáticos; ou as coisas ficam como estavam este ano, o que é mau, ou ficam piores, o que é péssimo. Parece que os optimistas desapareceram do mapa…

Em termos ambientais, quanto ao clima a poluição continua a aumentar ao mesmo ritmo dos últimos anos, as reuniões COP e outros fóruns e cientistas reconhecem que está cada vez mais difícil mexer com os termos da equação melhoria climática/progresso industrial. Veja-se, por exemplo, o caso da Europa, que tem as melhores metas a cumprir dentro de cinco ou dez anos. O resultado da implementação dessas metas é a desindustrialização e o encarecimento da produção agrícola.

O sector automóvel na Alemanha e em França está em decadência, com fábricas a fechar e despedimentos em massa, porque os carros europeus são muito mais caros do que os chineses, que não liga a esses problemas; na substituição de veículos a gasolina por eléctricos, os chineses fabricam viaturas tão boas e atraentes quanto as europeias e muito mais baratas. Na agricultura, a proibição dos fertilizantes químicos faz baixar o rendimento das terras, e a regras de sanidade tornam a carne muito mais cara. É por isso que o acordo entre a União Europeia e o Mercosul, há dez anos a ser negociado, não será concluído em 2025.

Por outro lado, as três maiores economias europeias - Alemanha, Espanha e França - continuam sem conseguir aprovar os seus orçamentos, e o resultado é que estão politicamente desorientadas. A Alemanha tem eleições este ano, e é certo que a extrema-direita (xenófoba, anti-imigrantes e pró-Rússia) ficará em segundo lugar - e Friedrich Merz, da CDU, em primeiro. Em Espanha, com um governo de esquerda cada vez mais detestado, por ter feito um acordo duvidoso com os separatistas catalães e não ter uma política de desenvolvimento que se veja, também a extrema direita pode voltar ao poder - o espectro de eleições antecipadas está sempre presente. Em França, se o impasse para formar governo continuar, é possível que haja eleições presidenciais antecipadas em Setembro e a vitória de Marine Le Pen parece inevitável. Já há outros governos de extrema direita na Europa, e todos são mais ou menos pró-Rússia e muito anti-imigração.

A imigração continua a ser um problema, porque ninguém quer os imigrantes, mas também não quer fazer o trabalho que eles fazem. Podemos ver isso muito bem no caso de Portugal, que até é um dos países onde a imigração não tem causado atritos de maior. Numa população de 10,6 milhões, três milhões vivem de pensões, e este custo, assim como a falta da mão de obra, só pode ser aliviado pela presença de um milhão de imigrantes. 

Em toda a União Europeia, assim como nos Estados Unidos, a imigração está descontrolada e a inserção dos imigrantes (por exemplo, ensinando-lhes o idioma do país de acolhimento) não acontece. Em 2025 a situação vai ser a mesma, ou pior.

Por falar em Estados Unidos, o acontecimento mais disruptor da ordem mundial é a tomada de posse de Donald Trump, logo a 20 de Janeiro. Disruptor porque o que ele quer fazer provocará uma catástrofe de proporções bíblicas; e disruptor porque não se sabe se ele fará o que disse que quer fazer. Assim, à perturbação das mudanças, soma-se a perturbação da incerteza. Só para destacar algumas das medidas na calha: deportação de 11 milhões de imigrantes ilegais, aumento das tarifas de importação dos produtos do México, Canadá, China e União Europeia, saída ou esvaziamento da NATO, forçar um acordo entre a Ucrânia e a Rússia (que só pode ser desfavorável à Ucrânia) e apoio incondicional a Israel.

Claro que Trump pode mudar de ideias - nas tarifas de importação, cada vez que fala, diz um valor diferente - ou pode não conseguir deportar 11 milhões de pessoas.

Ainda dentro do tema Estados Unidos, verifica-se o facto inédito de o homem mais poderoso do mundo não ser o Presidente, mas sim um empreendedor nascido na África do Sul, Elon Musk. 

Aliás, pode dizer-se que Musk, um tipo inteligente, ousado e meio destrambelhado, será o homem mais importante de 2025, porque intervém em todos os cenários. Sendo já o homem mais rico do mundo, não há limites para o que possa perturbar e influenciar em todos os continentes.

Mas, opinião minha e de outros analistas, pode dar-se o caso de Trump e Musk se desentenderem, porque Trump não pode permitir que outra pessoa tenha mais destaque do que ele no noticiário. Existem duas facções no Partido Republicano, a MAGA e a Tecnológica, que já estão a competir, e no primeiro ano desta presidência uma delas terá que se impor à outra. Uma vez que Musk não tem legitimidade institucional (não foi eleito) a facção trumpista vai acabar por vencer. Isso não impedirá que Musk use os seus milhares de milhões e a plataforma X para meter o bedelho em toda a parte, como fez o ano passado no Reino Unido e na Alemanha.

No Médio Oriente, a única dúvida para resolver este ano é como ficará a Síria. Seguirá um caminho democrático, por acordo entre as várias partes? Humm, duvido. Por outro lado, tanto a Turquia como Israel estão interessados e absorver territórios sírios. A Turquia, para ganhar terreno ao Estado informal governado pelos curdos; Israel, para alargar a sua margem de segurança. Fora isso, vamos passar o ano sem mudar nada, ou seja, Israel continua o seu genocídio em Gaza e o Hezbolah não consegue recuperar as perdas sofridas em 2024. O Líbano continua a ser um estado lastimoso, desgovernado por todos (cristãos, muçulmanos e drusos) e governado por ninguém.

Na Ásia, também pouco vai mudar. A China não atacará Taiwan em 2025, terá de esperar pela resolução da guerra na Ucrânia para saber qual será a reação internacional. Os conflitos étnicos dentro de vários países asiáticos, não sofrem alterações. O mesmo para a região do SAEL.

Como escreve Sumanta Banerjee no “The Economist”: “O presságio para 2025 é que vai ser uma repetição ainda mais desanimadora de 2024”

E já agora, o que prevejo para Portugal? Em 2025, 38 autarcas chegam à limitação de mandatos e terão de ser substituídos. Isso tem algum efeito prático? Nem por isso. Saem uns, entram outros, iguais aos anteriores. Não haverá eleições legislativas nem presidenciais. Ou seja, “vai-se andando”. Esta expressão idiomática portuguesa não tem tradução à letra em nenhuma língua, porque reflete um estado muito nosso: não estamos parados, mas também não vamos a parte nenhuma. 'Tá-se bem.