Escrever sobre o CDS impõe que se faça um pouco a resenha do que foram os seus antecedentes e, por outro lado, que se analise o contexto político da sociedade portuguesa ao longo desse tempo.

Em termos muito sintéticos, poderemos marcar umas tantas linhas históricas que iluminem a nossa visão da actualidade.

Começaremos pela ascensão do professor Marcello Caetano: preconizou o início da mudança, mas não conseguiu alterar quase nada. A situação militar continuou a degradar-se devido ao arrastamento da Guerra Colonial, o que resultou no movimento que culminou com o 25 de Abril de 1974.

No desenvolvimento do chamado Processo Revolucionário em Curso (PREC), foram accionados os célebres pactos MFA-Partidos. Recordo que tais pactos foram assinados pelos partidos de esquerda e pelos partidos de direita, disfarçados de social-democratas ou de centristas, visto que aqueles que se afirmaram de direita já tinham sido eliminados sob a acusação de reaccionarismo fascista.

Num esforço de valentia, infelizmente de pouca duração, o CDS votou contra a Constituição de 1976. Ora bom, é aqui que eu quero chegar.

Neste momento, passados 44 anos, a sociedade portuguesa aparenta ter como objectivos o dinheiro e a ilusória estabilidade por ele adquirida. Julgo ser a altura oportuna para o CDS retomar as consequências do voto emitido em 1976. Desde logo, para afirmar sem equívocos que o seu caminho não é o socialismo nem a dissolução da família ou o aborto e a ideologia de género. Nem tampouco o casamento entre pessoas do mesmo sexo ou a gestação de substituição ou quaisquer outras questões chamadas fracturantes. Terá de dizer sim à vida e, em definitivo, não à eutanásia e a outros meios de homicídio económico.

Ouvimos todos os dias gritar contra a corrupção. Todavia, a resposta do poder político é sempre a mesma: “À Justiça o que é da Justiça, à Política o que é da Política”, demonstrando ser incapaz de um mínimo de eficácia no combate a este flagelo.

É preciso alterar a Constituição de 1976 para possibilitar um combate à corrupção eficaz - pois que se altere. O eleitorado, através da abstenção, afasta-se dos actos eleitorais; é preciso mudar a lei eleitoral – que se mude.

Tanto se fala, e com razão, em reversão de injustiças. Tenhamos então a coragem de verificar que modificações terão de fazer-se no nosso sistema de justiça para que ela exista.

Ousemos discutir temas como a União Europeia, as Forças Armadas, a Pátria, a regionalização… Oiço os comentadores dos órgãos de comunicação social e fico com a impressão de que vivo numa versão soft de qualquer ditadura socialista, onde só é permitido discordar de assuntos para mim marginais, como o futebol. Nesse domínio a discussão é… livre.

Com o aparecimento da Iniciativa Liberal e do Chega, as águas mornas turvaram-se. Os senhores jornalistas, num repente, viram-se perante um monstro não identificado do qual todos fogem. Esta reacção é própria da total cobardia reinante em Portugal.

Os sociólogos já estudaram esta sociedade e os psicólogos já disseram das patologias que afectam os indivíduos que a integram. Debrucemo-nos sobre esses estudos e configuremos soluções terapêuticas exequíveis para salvar a sociedade e os seus membros da dissolução.

Se o actual sistema partidário não nos representa, então criemos outro. Talvez a velha lei dos partidos tenha que ser reformada.

Já todos percebemos que a fantasmagórica ideia do centro, do ponto de vista político, só existe para quem quer alterar alguma coisa para que tudo fique na mesma.

Depois de tudo isto, resulta óbvio que tanta modificação requer uma análise mais cuidada. Não nos podemos ficar pelo CDS, pelo Chega e pela Iniciativa Liberal. Teremos que atacar aquilo que o sistema considera, por assim dizer, inamovível, ou seja, o PSD.

Aqui temos que voltar ao início: o PPD nasceu como filho dilecto da Acção Nacional Popular. Tal como Marcello Caetano tinha mudado a União Nacional para Acção Nacional Popular, Sá Carneiro mudou-a para Partido Popular Democrático, com as ideias cuja origem é a ala liberal da primeira, desta forma democratizando o que havia para democratizar. Convenhamos que teve sucesso.

Por outro lado, o Partido Socialista teve que se adaptar aos modelos europeus, permitindo-nos a afirmação que se ‘endireitou’, a tal ponto que só as caras nos permitem distinguir a prática política do PS da do PSD. Não por acaso, logo no início o PPD pediu a sua admissão na Internacional Socialista, o que lhe foi negado por veto do PS. O PS poderá mesmo vir a absorver parte do Bloco de Esquerda (como fez com o MES/GIS) e, já agora, deglutir parte substancial dos social-democratas atraídos pelo poder, que dá sempre imenso jeito (!). Tudo isto parte do princípio que somos soberanos.

Ora acontece que a União Europeia se sobrepõe a todas estas considerações. Teremos então de começar por essa discussão. Percebe-se o entusiasmo pela CEE para nos ajudar, de forma decisiva, a combater a ameaça comunista de 1975. Todavia, em Janeiro de 2020, perante o Brexit e a situação internacional, teremos de rever, também aqui, a nossa posição no mundo actual. Desde o século XV, pelo menos, a nossa posição geográfica aproxima-nos do Reino Unido e do Atlântico. A geografia impõe-se pela sua permanência!

Estejamos atentos e mantenhamos a nossa capacidade de decisão sobre o futuro, já que no presente temos que nos ater dos ditames do BCE, tendo os nossos deputados poderes para decidir apenas sobre assuntos fracturantes através da transposição mais ou menos fiel das directivas europeias.

Sujeito-me de bom grado a ser considerado soberanista, quando não invectivado de populista, o que quer que seja que isso queira dizer!

Tenho afirmado aos meus amigos que só votarei num partido de direita que não seja do centro. Isso farei, e estou convicto de que muitos eleitores me acompanham na defesa da identidade cultural e civilizacional de Portugal que, sendo o Estado Nação mais antigo da Europa, não quer uma Europa das regiões e apoia a Europa de Pátrias.