Olá, caros humanos. Para os mais desatentos que não me conhecem, o meu nome é Zaya e sou uma cadela. O meu dono cedeu-me este espaço para escrever umas palavras, diz ele que foi por favor, mas na verdade foi porque ele é preguiçoso e não quis trabalhar.
Eu vim de um canil, fui resgatada, como o meu dono gosta de dizer, mas na verdade ele não me resgatou, não houve nenhuma operação heróica em que ele participou para me retirar de um prédio em chamas ou do fundo de um penhasco. Ele chegou ao canil e trouxe-me. Grátis, ainda por cima, vim eu a descobrir mais tarde. Chamar resgate a isso é o mesmo que chamar activista àquelas pessoas que metem hashtags no Instagram. Bem, mas como cadela que foi abandonada e que veio de um canil, conheço bem o lado pior dos seres humanos e o que custa a vida. Apesar de agora ser uma diva do Instagram (podem seguir-me em @diariodeumabitch) e de dormir sestas em sofás de luxo do IKEA, não me esqueço das minhas origens humildes e de tudo aquilo que passei. A verdade é que olho para o mundo dos humanos e vocês parecem-me meio tolos. Sim, dominam o fogo e sabem cozinhar bacon na perfeição, mas fora isso são um bocado burros.
Primeiro, andam sempre preocupados com tudo e aproveitam pouco a vida. Deve ser de viverem muito tempo, se vos diminuíssem a esperança média de vida para 12 anos como eu, se calhar desfrutavam mais do momento. Vejam os humanos de alguns países com esperança média de vida de 12 anos que estão sempre a sorrir. Como cadela, tenho poucas preocupações na vida. Aliás, tenho poucas em variedade, mas muitas em quantidade. Preocupo-me se os meus donos voltam a casa sempre que saem; preocupo-me se me vão dar comida; preocupo-me se me deixam ir para a cama deles; preocupo-me se irei algum dia conseguir apanhar a própria cauda. Apesar de me preocupar muito, nada disto me tira o sono e não deixo que me atrapalhe as quinze sestas que faço diariamente. Os cães são todos gurus de meditação, menos alguns todos nervosinhos da vida que piscam os olhos por tudo e por nada cada vez que ouvem um barulhinho. Bem, mas a vida de cadela é muito isto, dizem que nós temos cérebros mais pequenos do que os humanos, mas temos é cérebros mais selectivos. Para quê um cérebro grande se é só para estar cheio de preocupações a toda a hora? É a mesma coisa que ter um estômago grande e só comer cocó.
Se os cães mandassem no mundo, lembro-me logo assim de algumas mudanças:
- Todos os humanos teriam de frequentar cursos de obediência. A brincadeira seria obrigatória e o trabalho opcional. Quem quisesse ser cão polícia ou cão guia para os humanos que não sabem desviar-se de postes, tudo bem, era com eles, mas haveria subsídio de brincadeira e não de desemprego.
- O dinheiro seria obsoleto e tudo passava a ter um preço em biscoitos e bacon. Um conto valia 10 biscoitos ou uma tira de bacon.
- A música “Atirei o pau ao gato” seria o hino da alegria, mas não sei se a parte do “Não morreu” se manteria nesta nova versão.
- Os jogos olímpicos teriam muitas diferenças. Lançamento do biscoito, por exemplo. Natação podia ser abolida a não ser que os burros dos cães de água quisessem muito fazer.
- Era aceitável ladrar durante a noite que eu estou farta de levar piparotes na cabeça cada vez que ladro para as escadas à noite. Estou a tentar proteger a casa, mas os burros dos meus donos são mal-agradecidos.
Se os cães mandassem no mundo tudo seria melhor. Não digo que resolvêssemos os problemas todos. Racismo? Por mim mantinha-se, acho os caniches ridículos. Não digo que sejam uma espécie inferior e merecessem morrer, mas digamos que um cão que parece um rato com permanente e que ladra feito histérico a outro cão com 80kg de músculo, inteligente não deve ser. Corajoso? Não, acho que é mesmo burrice. Podiam voltar para a terra deles que é a França e ficávamos todos bem. Eutanásia? Proibida, claro. No mundo dos cães já existe eutanásia há muitos anos e não vejo manifestações a pedir para não matarem os cães velhinhos. Os humanos quando é com eles é que se preocupam, pimenta no cu do gato é refresco.
Um dos problemas do mundo é que os humanos idolatram deuses e cada um tem o seu e depois lutam uns com os outros a marcar território. As mortes em nome da religião são os respectivos deuses a mijar na árvore para dizer que são os maiores. Já houve religiões piores, havia uma no Egipto que idolatrava gatos. Pah, ridículo é o que vos tenho a dizer. Os gatos não querem saber dos humanos a não ser para comer; há quem diga que têm personalidade forte, mas no fundo são é meio idiotas. Se os humanos rezassem ao Deus Cão, tudo seria melhor porque os cães são fontes inesgotáveis de felicidade e gratidão, como um Deus deve ser. Um Deus Gato é um Deus para o qual se está a rezar muito bem e ele todo contente com a reza e, de repente, sem avisar, farta-se, morde e arreganha as unhas em forma de terramotos ou assim. Se Deus é suposto ser amor incondicional, então tem de ser um cão ou, melhor, uma cadela. Aliás, DOG ao contrário é o que? GOD. Agora pensem. CAT ao contrário é o quê? TAC. Alguém gosta de fazer TACs? Não. Agora pensem.
São este tipo de pensamentos que e visão do vosso mundo humano que vão poder ler no meu livro que chega hoje às bancas das livrarias de todo o país. Além disso, ficam a saber como é o quotidiano de uma cadela e as nossas preocupações. Chama-se Por Ladrar Noutra Coisa, Diário de uma Bitch e se forem humanos que não gostam de ir à rua, podem comprar neste link. Comprem e partilhem que, além de estarem a contribuir para eu poder comprar biscoitos e tornar-me independente, ainda ajudam a SOS Animal por cada livro vendido.
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