George Carlin, comediante norte-americano, já falecido (felizmente para ele), disse algo do género: “Pensem no quão estúpida é uma pessoa mediana e agora percebam que metade das pessoas é mais estúpida do que essa.”

Tendo a concordar com essa afirmação hiperbolizada em prol do humor, o que me faz pensar no seguinte: será que queremos políticos que nos representem enquanto cidadãos? É que o cidadão médio não é muito esperto nem muito civilizado. Não quer dizer que não seja boa pessoa e bem intencionado, mas é um bocado burro, vamos ser honestos. Agora imaginem essa pessoa com a capacidade de tomar decisões que afectam a vida de todos. Será melhor um burro bem intencionado ou um inteligente mal intencioado? Nem sei. Claro que estou aqui a colocar-me acima da média, mas a verdade é que todos nos colocamos e nos achamos mais espertos do que realmente somos, o que acaba por fazer de nós todos iguais em termos de burrice. Sou capaz de arrogância e humildade na mesma frase, obrigado por repararem.

A verdade é que todos dizemos que queremos políticos que representem as pessoas, mas é mentira. Não sei se queremos. Por exemplo, eu não sei se quero políticos que me representem. É que eu sei que tenho alguns tiques de ditador e com alguém parecido comigo a conduzir os destinos da nação, muito rapidamente teríamos pena de morte para quem não sabe fazer rotundas e trata os filhos por você. Era um mundo melhor? Era, não vamos mentir, mas não seria justo.

Dizemos que os políticos são todos iguais e que não nos representam, mas acho uma crítica injusta. Se há algo que tenho visto é os políticos a tentarem aproximar-se de todos nós. Por exemplo: representam-nos na incompetência. A maioria de nós é incompetente naquilo que faz, tem pouco brio, vá, muitas vezes não por culpa própria, mas por falta de incentivos e de uma boa gestão. Nesse sentido, Eduardo Cabrita é, talvez, um dos políticos que mais representa o povo, com a diferença de que um cidadão que já tivesse feito tanta porcaria, ou tinha sido despedido ou era sobrinho do chefe. Além de incompetente, conduz, ou é conduzido, em excesso de velocidade. Há algo mais português do que isso? Depois de nos representar tão bem a todos, pedem-lhe a demissão. Depois dizem que querem políticos que se identifiquem com os eleitores. Tretas. Gastam-se milhões em frotas automóveis desnecessárias para a classe política e ele ia circular a 120 km/h, dentro do limite, quando tem um carrão daqueles? Nem eu ando a essa velocidade com o meu Clio de 2002 todo a cair podre, por isso parece-me irrealista e injusto exigirmos mais dos políticos do que exigimos de nós.

Claro que quem lidera tem de dar o exemplo, é certo, mas percebem onde quero chegar. Se calhar, Cabrita tem uma boa desculpa para ir àquela velocidade. Lembrem-se que todos pensámos que Carlos Cruz, quando foi detido em 2003, ia a 200 km/h em direcção a Espanha para fugir e, afinal, era porque a família no Algarve tinha ligado a dizer que se ele não se despachasse as sardinhas ficavam frias? Pronto.

Mais recentemente, tivemos o caso do Paulo Rangel, eurodeputado que viu um vídeo divulgado onde ele vagueava pelas ruas de Bruxelas como quem estava num barco em noite de nevoeiro e forte ondulação. Alguns criticaram, outros defenderam. Ele esteve bem e disse que era algo da vida privada e que ninguém tinha nada a ver com isso, mas desculpou-se dizendo que tinha sido uma noite de excesso. Excesso? Agora apanhar uma bebedeira é um excesso? Excesso é vir de um jantar de amigos sóbrio, isso é que é um excesso condenável. Acho muito bem que se emborrache! Íamos mandar um político representar-nos em Bruxelas e não apanhava pielas? Deputados desses que mandem os Suecos ou os Holandeses, nós somos Portugal! Se é para representar o povo é para beber até pensar que sabe falar francês.

Não me venham falar de quotas e de inclusão. Querem maior representatividade do que termos vários políticos que tentam meter ao bolso e fugir aos impostos? Fazem-no para representar o povo que os elegeu! Vejam Isaltino: condenado por fraude fiscal, abuso de poder e corrupção passiva para acto ilícito e branqueamento de capitais (isto no Linkedin deve ficar a matar) e voltou a ser eleito. Porquê? Porque somos um país de chico-espertos e queremos um igual a nós a governar-nos.

Moral da história? Todos os deputados têm formação superior. A maioria dos portugueses não tem. Todos os deputados ganham bem mais do que a média dos portugueses. Nenhum deputado está desempregado. Muitos portugueses estão. O Presidente da República é um tio de Cascais e a maioria da população revê-se nele? Porquê? Porque bebe umas ginjas e uns bagaços nas festas e dá uns mergulhos no mar. Álcool e mar, aquilo que nos fez dominar meio mundo.

Para ler: Diário de uma Bitch
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