1. A grande conspiração dos taxistas portugueses

«Então não se vê logo que os taxistas são agentes prontos a introduzir sub-repticiamente certas ideias na cabeça dos portugueses? Ah, e enquanto vão picando os pobres passageiros com as tais ideias preparadas por ELES, ainda registam as deslocações e as conversas dos passageiros. Vão por mim! Não sejam ingénuos! E os perfumes que instalam nos carros devem conter químicos perigosos, que nos deixam atordoados...»

Se quiser aproveitar esta teoria original, o leitor não tem de definir as ideias dos taxistas. Basta relatar uma ou duas conversas que já tenha tido (até podem ser verdadeiras) e mostrar, assim, sem margem de dúvida, que os taxistas andam mesmo a infectar-nos com algumas ideias perigosas. Todos os casos em que não ouve disparates da boca de taxistas são para ignorar. É assim que as teorias da conspiração sobrevivem.

Para estar na moda, até pode dar a entender que são os russos que controlam os taxistas. E pode insinuar, assim como quem não quer a coisa, de voz baixinha: «então não se vê pela forma como conduzem?» Faz sentido? Nem por isso. Mas isso não importa.

2. A conspiração dos traços químicos dos aviões

«Sabia que os aviões deitam uns químicos (que se vêem nos traços dos aviões no céu) para nos deixar a todos mais amaciados? Sim, é verdade! Porque é que o governo faria uma coisa tão complicada em vez de deitar os químicos na água? Hum... Não sei. E porque é que os pilotos não se apercebem de nada? São parte da conspiração, claro!... Mas, sim, esta conspiração é demasiado inverosímil... Mais vale acreditar na história dos taxistas malandros!»

Só que, na verdade, há milhares de portugueses que acreditam nisto. Porquê? Não sei bem. Não tem a ver com estupidez: alguns dos teóricos da conspiração (neste caso, dos «chemtrails») são inteligentíssimos. Talvez estas ideias sejam uma espécie de vírus mental que se aloja no cérebro e se reproduz através de certos mecanismos: o medo de ser enganado, a desconfiança em relação ao poder, a necessidade de nos sentirmos na posse duma verdade que poucos conhecem...

O certo é que tantos assinaram uma petição sobre este disparate que ele acabou discutido na Assembleia da República — dizem que foi a primeira vez que se discutiram ideias malucas no Parlamento (mas nisso não acredito eu).

Vamos à última conspiração...

3. A conspiração dos medicamentos vazios

«Sabia que nas farmácias portuguesas se vendem medicamentos que são apenas água e açúcar? Algumas empresas fingem que aquilo tem mesmo efeito e os doentes, por causa dum certo fenómeno psicológico chamado placebo, acreditam mesmo e sentem-se melhor. O problema é que pagam muito dinheiro por... água e açúcar! Isto é permitido por lei, os farmacêuticos sabem, muita gente sabe, mas ninguém diz...»

Ah, espera, esta conspiração é mesmo verdade!

E muita gente diz, só que poucos acreditam. E, no entanto, é assim mesmo: à venda nas farmácias estão medicamentos que não fazem nada de nada ao corpo dos doentes, mas custam dinheiro como medicamentos testados e verdadeiros e, às vezes, até afastam os doentes dos tratamentos a sério.

Não acredita? Percebo que não acredite: é de pôr as mãos na cabeça.

Curiosamente, ninguém acredita na primeira conspiração (a dos taxistas), mas esta é tão absurda como a segunda (a dos traços químicos dos aviões). Já a terceira parece a típica história que deixaria os teóricos da conspiração em pulgas para revelar ao mundo tal manigância (ainda por cima tem grandes empresas ao barulho), mas o certo é que muitos daqueles que acreditam em teorias da conspiração são os primeiros a cair que nem patinhos na patranha dos medicamentos de água e açúcar.

Quer saber que medicamentos são esses? Leia o livro Pseudociência, de David Marçal, ou Não Se Deixe Enganar, da COMCEPT, para saber mais sobre esta conspiração bem verdadeira...

Marco Neves é tradutor, professor e autor dos livros Doze Segredos da Língua Portuguesa e A Incrível História Secreta da Língua Portuguesa. Escreve no blogue Certas Palavras.