Setecentos e cinquenta dólares. Donald Trump pagou menos impostos no ano em que foi eleito do que um português que ganhe o salário médio em Portugal. Estamos a falar de um valor que nem deve dar para pagar uma semana de trabalho ao jardineiro da Casa Branca. Trump ganhou tracção nas presidenciais de há quatro anos pelo seu suposto sucesso empresarial, mas a acreditar nas revelações do The New York Times Trump é só mesmo bem-sucedido na pelintrice.
É sempre divertido comparar o discurso de ódio anti-minorias dos populistas de direita com as suas próprias acções. A política de imigração de Trump separa famílias, mas confirmamos agora que é ele quem é um fardo para os contribuintes. Então não é que os americanos andam a sustentar quem não paga impostos e quem não trabalha? Afinal, Trump passou 279 dias da sua presidência em campos de golfe. É muito tempo. Esperemos que não alcance um segundo mandato, para bem das suas ancas e do Mundo.
O Times revela também que o presidente Norte-Americano tem uma dívida pessoal de 400 milhões de dólares. Alguns Democratas têm dito que esse passivo pode tornar o presidente vulnerável a chantagem de potências estrangeiras hostis. Discordo. Trump já demonstrou que não precisa de pressões para prejudicar o seu próprio país. É muito difícil coagir alguém que já optou pela auto sabotagem. É como ameaçar um exibicionista de gabardine com a revelação de fotos íntimas.
Em relação aos impostos que (não) pagou, é injusto dizer que o problema é só de Trump. A pandemia aumentou desigualdades e enriqueceu os ultra ricos. Trump é só mais um multibilionário que, dado o seu cargo, conseguimos finalmente escrutinar. Quando sair de cena, vários como ele continuarão a deter quase toda riqueza mundial sem contribuir para a comunidade, enfraquecendo e minando a democracia. Por uma razão que me escapa, esta restrita classe económica ainda tem uma guarda de honra de pessoas que um dia acham que vão também elas ser donas de uma fortuna superior a PIBs de países. Talvez se deva a demasiado tempo a assistir a vídeos do guru financeiro Cláudio André.
Surpreendentemente, ainda há espaço político para propostas de diminuição de impostos aos ricos. Em Portugal, acho que se devia implementar a flat tax. Desse modo, os contabilistas dos bilionários não terão de perder tempo a aprender os escalões de IRS e será mais fácil evitarem os impostos. Quanto a Trump, fico preocupado. Se continuar sem contribuir, é possível que seja mais um Presidente a quem “a reforma não chega para pagar as despesas”.
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