Lisboa foi invadida por trotinetes eléctricas, e outras cidades preparam-se para as receber. O propósito é bonito: uma forma rápida e económica de as pessoas se deslocarem nas cidades, diminuindo o trânsito e a poluição.

Só que quem implementou isto esqueceu-se de um detalhe: estamos em Portugal. Podemos ser um país com muitas coisas boas, tantas que nos esquecemos e só nos queixamos, mas se há algo no qual ainda nos assemelhamos a um país de terceiro mundo é a forma como nos comportamos no trânsito.

Não interessa o meio de transporte, até a pé somos umas bestas. O pessoal das trotinetes é como o pessoal que conduz Mercedes e BMWs: estaciona onde quer e acha que a estrada veio incluída quando comprou o veículo; muda de direcção sem avisar e acha-se melhor do que os outros.

Já duas pessoas com trotinetes me fizeram razias a alta velocidade – dentro do mundo das trotinetes, claro – e nem olharam para trás. “Desculpa” e “com licença” não vêm incluídas no starter pack trotineteiro.

Se as pessoas não puxam o autoclismo nos WCs públicos, estávamos à espera de que fossem ordeiros e arrumassem as trotinetes quando já não precisam dela? Palermice de quem achou isso. Já vi trotinetes no chão, abandonadas à sua sorte, à espera de que alguém as resgatasse; vi trotinetes no lixo; outras penduradas em árvores; outras abandonadas na beira da autoestrada, qual cão rafeiro que já ninguém quer ao ir de férias.

O português só trata bem o que é seu. As trotinetes são as mulheres dos outros: é para usar e deitar fora e se ficarem partidas o problema não é nosso. Numa altura em que os números de violência doméstica envergonham Portugal, estamos a dar mais uma desculpa aos agressores. Um olho negro pode ser agora desculpado com “Caí a andar de trotinete” e ninguém vai desconfiar porque é demasiado ridículo para admitir. É como dizer que estamos de diarreia para nos safarmos de um compromisso, toda a gente acredita na nossa honestidade em assumir o desarranjo intestinal.

Depois, há o problema da ilusão da superioridade de muita gente que usa meios de transportes alternativos. Muitos ciclistas acham que, por trabalharem os quadríceps na comutação do trabalho para casa, são, de alguma forma, seres moralmente mais evoluídos. Refilam se alguém se atravessa a pé na ciclovia, mas andam de bicicleta em cima do passeio fora dela, passam de condutores a pedestres sem pedir licença. Já agora, deixo algumas regras de etiqueta para andar de trotinete:

  1. Não sejam otários.

Pronto, já está. Por fim, caros “trotinetistas”, usem capacete. Prejudica o estilo? Certo… É irónico alguém que anda de trotinete não usar capacete porque acha que fica ridículo. Seja como for, estas iniciativas são boas, quanto menos gente a andar de carro melhor, que assim não apanho trânsito e tenho onde estacionar.

Sugestões e dicas de vida completamente imparciais:

- Novo clube de comédia em Lisboa, Maxime Comedy Club, podem ir de trotinete. Bilhetes para as próximas noites neste link.

- Espectáculo de comédia Roda Bota Fora

- O filme Waking Life