Então, Rui Nabeiro – esse homem que, na morte, reúne consenso num país de gente que faz muita conversa a partir da inveja e da dor de cotovelo – terá telhados de vidro. Assim me assegurou uma ou outra alma, depois de eu ter feito um post a homenagear um homem que morreu aos 91, deixando uma obra que poucos podem igualar.

Não se teceram elogios da mesma categoria quando outras grandes figuras do mundo empresarial português morreram. Rui Nabeiro era uma pessoa aprazível, gostava-se dele com naturalidade. O facto de me enviarem mensagens a pôr os pontos nos ii – salvo seja porque, já agora adianto, ninguém foi capaz de me dizer que fragilidades tinha o senhor no seu telhado –, fiquei a pensar na impossibilidade de se festejar alguém por ter sido quem foi. Neste país, já sabemos de cor e salteado, há sempre uma bodega de uma adversativa, um “mas”, um “porém”, “todavia”, “contudo” (e parece que voltámos à escola, desculpem lá isto).

Não tem de existir qualquer oposição, ao trabalho de vida de um homem que quis o melhor para a sua terra e para os seus. Enriqueceu? Ainda bem para ele e para a família dele. Não há mal algum em assumirmos o que fez em prol da comunidade, quando vivemos tempos em que não queremos, verdadeiramente, fazer grande coisa seja por quem for. A pandemia agudizou este sentimento de individualismo, de reclusão, de nos estarmos verdadeiramente nas tintas se alguém tem ou não, desde que nós tenhamos. E a vida é mais pobre nesta versão, a humanidade mais desprezível.

Rui Nabeiro, com os seus defeitos (pronto, o senhor deveria ter defeitos, afinal era humano), foi uma figura ímpar a quem devemos prestar homenagem. Quem disser o contrário deve ir pregar para outra freguesia, porque a mim não me importam as adversativas em tempos de morte. Afinal, se não reconhecemos o bem nos outros, apenas o mal, estamos num nível que não interessa muito estar. Uma atitude elevada implica um pensamento também elevado. Não é ser bonzinho, nada disso, é reconhecer que o Outro, nalgumas coisas, é melhor do que nós.