A indignação dos governos europeus em relação aos incêndios florestais no Brasil traz a oportunidade para os leitores conhecerem um pouco mais a região amazónica. Também é a possibilidade desses mesmos leitores saberem um pouco mais a respeito de seus próprios governantes, ídolos de futebol e astros do showbiz com relação à falta de informação que têm a respeito do assunto.

Por exemplo, a súbita revolta atrelada ao engajamento ecológico de Emmanuel Macron, presidente francês, foi tanta que, possivelmente, uma falha da assessoria fez com que partilhasse no Twitter uma imagem de um incêndio amazónico do fotógrafo Loren McIntyre, morto em 2003, portanto, impossível que tenha sido tirada em 2019.

Artistas, celebridades e atletas também abraçaram a causa sem medo de constrangimento. Pelo Twitter, o consagrado jogador de futebol português Cristiano Ronaldo não viu problema com a imagem usada na partilha. Mas errou o local por alguns milhares de quilómetros e divulgou uma foto de 2013 do Rio Grande do Sul. Madonna e Jaden Smith, filho do ator Will Smith, foram ainda mais longe: pegaram numa de 1989. Só três décadas de atraso. A foto havia sido publicada numa reportagem do The Guardian em 2007.

A região amazónica inclui outros países da América do Sul. O incêndio que acontece atualmente na Amazónia boliviana é o maior de toda a história do país, mas nem por isso sensibilizou a comunidade internacional e o governo boliviano luta com apenas um avião para combater as chamas pelo ar.

A sensibilidade dos governantes das grandes potências com as queimadas no Brasil não é tão altruísta como querem fazer parecer à opinião pública global. Há grandes interesses económicos e estratégicos nesse pacote de conflitos. As queimadas acontecem todos os anos na Amazónia devido ao período de seca e o de 2019 está longe de ser o maior dos últimos dez anos.

Essa preocupação internacional não aconteceu em anos anteriores e isso é reflexo da nova política governamental brasileira com a região. Nos últimos 16 anos a região esteve largada nas mãos de organizações não governamentais que ocupam reservas indígenas com o pretexto de defender a cultura indígena do homem branco opressor. O governo, nesse período, limitou-se a “preservar” terras e mais terras em nome da preservação ambiental. Para se ter uma ideia, há reservas maiores do que muitos países europeus e nelas vivem pouco mais de 20 mil índios.

Com a chegada do governo Bolsonaro ao poder as coisas mudaram. Ao que tudo indica, a preocupação externa não é com o que está sobre a terra e, sim, sob o solo amazónico. Minerais como o nióbio, fundamental para aumentar a liga do aço; ouro, manganês e outros fazem parte dessa riqueza que o Brasil ainda não aprendeu a explorar por falta de interesse político.

Na sequência da pressão externa em defesa do combate às chamas e preservação ambiental, desde 25 de agosto último, toda a região passou a ser considerada área militar, com isso as milhares de ONGs (Organização Não Governamental) ilegais que atuam na região serão obrigadas a deixar o país. Estradas que cortam reservas indígenas estão ocupadas pelo Exército. Até então eram proibidas para os brasileiros. E para passar por elas estes pagavam portagem aos índios. Acredite. ONGs estrangeiras tinham livre acesso. Isso deve acabar.

Durante a última reunião do G-7, que engloba os países mais ricos do planeta, ao tomar a iniciativa de ameaçar com o rompimento do acordo entre União Europeia e a Mercosul, recém-assinado, o presidente francês atirou alto. Utilizando o pretexto das queimadas pretendia, desta forma, atingir o agronegócio e as exportações brasileiras, destruindo a base da economia.

Enquanto Macron ocupava o holofotes com críticas ao Brasil, a diplomacia brasileira fechava as negociações do Acordo de Livre Comércio entre Mercosul e EFTA (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein) que tem um PIB de US$ 1,1 trilhão e é o 9º maior ator comercial do mundo.

É sabido que o Brasil desponta como um dos maiores produtores de soja (quase empatado com o líder, Estados Unidos) e rebanho bovino (desenvolve tecnologia que ameaça a hegemonia europeia). Tereza Cristina, ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, disse no auge da crise, acreditar que não existem razões para eventuais barreiras ao agronegócio brasileiro em razão das queimadas. E declarou: “Nós não podemos dizer que por neste momento termos um incêndio acontecendo, ou uma queimada acontecendo na Amazónia, que o agronegócio brasileiro é o grande destruidor e, portanto, vamos fazer barreiras comerciais contra esse agronegócio”.

O Brasil é um dos países mais preocupados com o meio ambiente e um dos que mais possui áreas de preservação ambiental. No geral, países com mais de dois milhões de quilómetros quadrados protegem cerca de 10% da sua área. Segundo dados da Embrapa — a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária — e do Banco Mundial, cerca de 30% do território brasileiro é protegido, ocupado por parques nacionais e áreas indígenas. Portanto, acusar o governo brasileiro de não proteger o meio ambiente é indecente.