Tudo terá começado com Ladrões de Bicicletas, de Vittorio de Sica. É um filme que arrebatou um Óscar em 1948 e que abriu uma nova era na sétima arte: para além da produção espetacular também havia espaço para a poesia no ecrã.

Veio a seguir o génio de Federico Fellini, criador de um universo povoado por sonhos, obsessões e fantasias. La Dolce Vita é uma extraordinária e impiedosa crónica da decadência moral de uma alta burguesia romana. Amarcord, Fellini 8 ½, Julieta dos Espíritos, La Strada, Casanova, La Nave Va ou As Noites de Cabíria são filmes com terna proximidade que geraram um adjetivo: felliniano.

Logo depois, Michelangelo Antonioni, poeta da imagem, fundador de uma modernidade visual no cinema. Em filmes como A Aventura, A Noite e O Eclipse, soube contar como ninguém mais o isolamento da incomunicação. No cinema de Antonioni as imagens que vemos levam-nos sempre para além do que está a ser dito, não há redundância com os diálogos. São espantosas as personagens que Antonioni nos mostra em busca de identidade.

Pier Paolo Pasolini é outro caso especial no cinema italiao. Talvez mais odiado que amado. Com ácidos e irónicos retratos da Itália do pós-guerra, o misterioso Pasolini é um símbolo da arte revolucionária, desafiadora dos poderes.

A escola italiana de grande cinema continuou com os irmãos Paolo e Vittorio Taviani, com Marco Bellocchio, com outros cineastas. Tem hoje nomes como Nani Moretti, Giuseppe Tornatore, Paolo Sorrentino ou Luca Guadagnino que fazem filmes sempre envolventes.

Mas o maior de todos estes últimos é seguramente Bernardo Bertolucci, autor de inesquecíveis obras-primas. Deu-nos filmes históricos (1900, O Último Imperador, O Pequeno Buda, Os Sonhadores) e filmes que avançam pelas contradições da alma humana (A Estratégia da Aranha, O Último Tango em Paris, Assédio), sempre a cruzar personagens imaginadas com histórias verdadeiras.

A Estratégia da Aranha, baseado num conto de Borges, com um filho à procura da identidade do pai, é uma espécie de introdução a todo o cinema feito por Bertolucci. A exploração da complexidade humana continua, depois, com O Conformista, com Trintignant notável a interpretar a personagem de Moravia – este é, talvez, o mais sedutor dos filmes de Bertolucci.

O grande êxito planetário de Bertolucci dispara em 1972, com o transgressor filme de choque e escândalo Último Tango em Paris, com o soberbo Marlon Brando como protagonista, ao lado da então desconhecida Maria Schneider, espécie de pequeno diabo com cabelos soltos, que consumam em encontros furtivos de alta intensidade erótica (a cena do sexo com manteiga é das mais vistas de sempre nos ecrãs), num amor louco que marca a história do cinema – e a da censura.

Bertolucci é um maravilhoso e profundo contador através do cinema. Deixa-nos a noção de que precisamos de cinema europeu.