Fim à vista? Sim... e não

António Moura dos Santos
António Moura dos Santos

Aconselha a prudência que não se embandeire em arco, especialmente no que diz respeito à pandemia, mas demo-nos ao luxo de, pelo menos, sentir algum otimismo quanto às notícias que hoje foram divulgadas.

Os primeiros mensageiros das boas novas foram os especialistas do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças, que estimam que a maioria dos cidadãos europeus tenha imunidade por infeção ou vacinação anticovid-19 até à primavera ou verão, admitindo consequentes baixas taxas de transmissão e passagem para endemia.

A mensagem é similar à transmitida este domingo pelo diretor da OMS Europa, Hans Kluge, que afirmou que a variante Ómicron, que pode infetar 60% dos europeus até março, iniciou uma nova fase da pandemia de covid-19 na Europa que a pode aproximar do seu fim.

Logo depois, Pedro Simas, investigador do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa adiantou que concorda com o diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS). “Concordo com a OMS. Esta é a evolução normal dos vírus e das pandemias. É isso que a ciência nos diz ao longo dos últimos 100 anos”, referiu Pedro Simas, para quem as assimetrias de vacinação ainda existentes entre vários países europeus está a fazer com que se demore a declarar a transição de pandemia para endemia.

Endemia, recordemos, é quando uma doença pandémica se “normaliza”, ou seja, a sua ocorrência torna-se regular. Para Pedro Simas, “Portugal já entrou em endemia há bastante tempo” e, perante a taxa de imunização situada nos 90% da população nacional, “tem de se voltar à normalidade” com algumas exceções, que passam pela vacinação dos grupos de risco com a terceira dose – idosos e pessoas com doenças associadas -, que podem continuar a usar máscara.

Para o investigador, o uso generalizado da máscara deixou de ser necessário nesta fase, a testagem de despiste do SARS-CoV-2 deve apenas ser feita “em contexto hospitalar” e cabe às famílias “fazerem a sua autogestão” através de testes.

Já ao fim da tarde, foi difundido um estudo do Instituto Superior Técnico que calcula que, já no final de fevereiro, em Portugal “toda a população terá alguma imunidade ao vírus”, seja por vacinação, seja por infeção.

No relatório vem mencionado que a covid-19 “passará a ser uma doença residente na Europa em geral e em Portugal em particular”, tornando-se a “longo prazo como em tempos foram poliomielite, sarampo ou varíola” ou, atualmente no mundo, a “dengue, febre-amarela, gripe, hepatite, herpes, HPV e SIDA, entre tantas outras”.

No entanto, nenhuma destas três conclusões deixa margem para relaxamento. Da parte do ECDC, por exemplo, não se descartou ainda “o aparecimento de novas variantes com características de fuga imunitária que causem doenças mais graves do que a Ómicron”. O que o ECDC teme, no fundo, é que surja uma variante com o mesmo potencial infeccioso da Ómicron, mas com maiores riscos para a saúde.

Fazendo projeções, o centro europeu estima que “o SARS-CoV-2 continuará a circular globalmente e novas variantes continuarão a surgir”. “Não podemos prever com suficiente certeza que as futuras variantes irão necessariamente causar uma doença mais branda”, salienta a agência europeia de aconselhamento aos países.

O ECDC adianta que, a longo prazo, “a circulação contínua do SARS-CoV-2 será provavelmente alimentada por fatores tais como bolsas de pessoas suscetíveis - por exemplo, crianças pequenas e disparidades na cobertura vacinal -, novas variantes ou deriva antigénica, sazonalidade, e/ou reinfeções devido à diminuição da imunidade”.

Pedro Simas pede também para que “o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge continue a monitorizar as variantes”, considerando, porém, que não é expectável que apareça uma variante que destrua a nossa imunidade protetora. Em princípio, "isso não vai acontecer”. Já o estudo do IST pede para que não se “relaxem os mecanismos da avaliação, monitorização e resposta a esta doença em geral e a outras pandemias que, no futuro, são expectáveis”.

A mensagem é esta: é provável que as coisas melhorem, mas temos de continuar com cuidado. Ou, por outras palavras, temos de esperar pelo melhor, preparados para o pior.

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