Os receios do inverno começaram em setembro?

Fechado temporariamente para trabalhos de manutenção, a Rússia parecia estar pronta a retomar no sábado o fornecimento de gás à Europa através do Nord Stream 1. No entanto, esta sexta-feira, a Gazprom, operadora do gasoduto, revelou que foram descobertas "fugas de óleo" numa turbina. Agora, e de acordo com a empresa, "até que seja reparado, o transporte de gás via Nord Stream está completamente suspenso".

O maior problema é que não há uma data de previsão para a recuperação do fornecimento e este pode ser o início de um pesadelo numa Europa que vive com o receio de novas interrupções, concretamente no inverno. Refira-se que este é gasoduto que liga a Rússia ao norte da Alemanha e é importante relembrar que a estrutura está só a funcionar a 20% da sua capacidade.

Hoje, também, o Kremlin tinha indicado que o funcionamento do gasoduto está "ameaçado" pela escassez de peças para reposição, devido às sanções impostas a Moscovo depois do início da ofensiva russa na Ucrânia.

No contexto de guerra na Ucrânia, a energia tem estado no centro de um braço-de-ferro entre Moscovo e os países ocidentais, que acusam a Rússia de utilizar o gás "como uma arma".

Um responsável alemão considerou a interrupção agendada desta semana como "incompreensível no plano técnico".

A Gazprom tem reduzido o gás fornecido via Nord Stream nos últimos meses e em julho já tinha feito trabalhos de manutenção durante 10 dias, tendo depois retomado as entregas com um nível mais limitado.

Para compensar as quantidades em falta, os países europeus tentam encontrar outros fornecedores e reduzir o consumo, numa altura em que os preços do gás disparam nos mercados.

É neste contexto que Portugal tem sido citado como uma possível solução. Ainda hoje, António Costa disse que gostaria de ver gás natural liquefeito moçambicano a entrar na Europa através do porto de Sines.

"Podemos desde já usar o porto de Sines e o gás moçambicano será muito bem-vindo, se o escolher como ponto de entrada na Europa", referiu o primeiro-ministro, à margem do Fórum de Negócios Portugal-Moçambicano, em Maputo.

A decisão está nas mãos das empresas petrolíferas e de energia e a produção que está prestes a arrancar na plataforma flutuante da bacia do Rovuma já está vendida por 20 anos - ainda assim, a vontade política de aproximação nesta área ficou patente, numa altura em que uma crise energética afeta o mundo e, em particular, a Europa.

A "primeira resposta" à crise passa por acelerar o uso de energias renováveis, uma transição em que serão necessários "recursos como aqueles em que Moçambique é rico, como o gás natural".

"O início da exploração de gás natural em Moçambique não podia vir seguramente em melhor altura para Moçambique e para quem é importador, como somos quase todos os países da União Europeia (UE)", sublinhou.

"Se não aumentarmos a oferta de gás natural, dificilmente responderemos a esta crise global de inflação que se vai transmitindo de produto em produto, país em país e contamina a economia mundial", ilustrou António Costa.

A haver capacidade de fornecimento, "nós temos todo o interesse" em que o gás moçambicano assim como de outras origens "possa entrar na Europa pelo porto de Sines" - seja para alimentar a futura interligação a Espanha e França, seja de imediato por trasfega.

"Estamos a criar condições para que, entretanto, o porto de Sines possa funcionar como porto de trasfega de gás natural", destacou Costa, apontando a infraestrutura como o porto do Atlântico "mais perto do continente africano" e com águas profundas.

"Não está sobrelotado como estão os portos do centro e norte da Europa", ou seja, "a operação de atracação e trasfega" é mais rápida em comparação com portos "da Holanda", exemplificou Costa.

Tal significa uma poupança de quatro dias por viagem de ida e volta, o que considera relevante no mercado dos "grandes metaneiros", cargueiros de gás natural que "são um bem escasso a nível mundial".

"Poupar quatro dias em cada viagem aumenta imenso a capacidade de exportação e fornecimento de gás", assinalou.

Será que os receios do inverno chegaram mais cedo? Como é que em tão pouco tempo a Europa irá conseguir diversificar o fornecimento? Fechou-se a torneira, não há gás, nem respostas.

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