Obviamente, demitia-o “na hora”

Manuel Ribeiro
Manuel Ribeiro

A comissão parlamentar de inquérito da semana passada, sobre a gestão na TAP, continua a embaraçar o governo de maioria absoluta. Não fosse a atual conjuntura de crise, que se abate sobre o país, seria o governo dissolvido pelo presidente, ou não? Já lá vamos.

Hoje de manhã, antes de partir para a Coreia do Sul, o primeiro-ministro repudiou a atuação do ex-secretário de Estado do seu governo, Hugo Mendes. “Não conhecia esse email”, disse Costa, “e se o tivesse conhecido teria pedido ao ministro Pedro Nuno Santos para o demitir na hora”, afirmou na nota enviada à Lusa antes de embarcar.

O primeiro-ministro considerou gravíssima a conversa que Hugo Mendes trocou com a presidente executiva da TAP sobre o chefe de Estado e afirmou que teria obrigado à sua “demissão na hora”, fazendo lembrar a célebre resposta do general "sem medo", Humberto Delgado, quando lhe perguntaram o que faria com Salazar se ganhasse as eleições presidenciais de 1958, respondeu: "Obviamente, demito-o!".

O que foi que Hugo Mendes disse na conversa?

Não se tem falado noutra coisa, desde que foi abordado na comissão parlamentar de inquérito à CEO da TAP, na terça-feira, mas aqui vai novamente.

De acordo com o que foi divulgado, Hugo Mendes trocou um e-mail com Christine Ourmières-Widener sobre uma eventual mudança de data de um voo de Maputo a Lisboa, que tinha como passageiro o chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa. Nesse e-mail, Hugo Mendes argumentava que era importante manter o apoio político de Marcelo Rebelo de Sousa, considerando que era o “principal aliado” do Governo mas que poderia tornar-se o “pior pesadelo”.

Hoje de manhã, Costa disse ser “gravíssimo do ponto de vista da relação institucional com o Presidente da República e inadmissível no relacionamento que o Governo deve manter com as empresas públicas”.

PSD e BE dizem que o governo quer "fugir às responsabilidades"

Exato, Montenegro disse-o no Twitter. E acrescentou: “Só acha isto gravíssimo?? Então fazer reunião entre CEO, PS e Governo para preparar audição, ter ministro e ex-ministro a faltar à verdade, ser o Governo a preparar as respostas da TAP, isso é tudo normal??”, questionou o líder do PSD.

Catarina Martins reagiu mais tarde, afirmando que o primeiro-ministro "nunca aparece na hora de assumir responsabilidades ou de fazer de conta que não sabia".

E o Chega apelou hoje ao líder do PSD que apresente uma moção de censura ao Governo. Porque não o fez diretamente?

O Chega e a IL já apresentaram moções na atual sessão e, uma vez que o Regimento da Assembleia da República estabelece que se uma moção de censura não for aprovada, os seus signatários não poderão apresentar outra na mesma sessão legislativa.

Então, André Ventura considerou que existe uma "degradação permanente e evidente das instituições" e que se chegou a um "grau zero da política" e, por isso apelou a Montenegro que apresente uma moção de censura urgente ao Governo. Se o PSD não o fizer, Ventura promete fazê-lo nos primeiros dias de setembro [início da próxima sessão legislativa].

Catarina Martins também abordou a questão da moção, mas afastou a hipótese de avançar, neste momento.

E o presidente, como reagiu a tudo isto?

No imediato, a presidência da República respondeu afirmando que “nunca solicitou a alteração do voo da TAP, se tal aconteceu terá sido por iniciativa da agência de viagens”, disse na quarta-feira.

Mas hoje de tarde, Marcelo Rebelo de Sousa classificou a ideia do pedido de alteração do voo, em março de 2022, como "estúpida e egoísta".

“Estúpida porque só um político muito estúpido ia sacrificar 200 pessoas por causa de partir um dia mais cedo ou um dia mais tarde numa visita que se reajusta facilmente”, afirmou Marcelo, em Murça.

E sobre a dissolução do governo?

Também se tem falado muito, sobretudo do lado da oposição. Mas o presidente já veio afirmar que não é a altura para novas eleições e avisou “não fazer sentido neste momento falar de dissolução”.

Marcelo deixou claro que a atual conjuntura não é favorável para novas eleições por causa da crise económica do país e da Europa, da inflação, do conflito na Ucrânia e, também, por causa da execução que está em curso dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

E sublinhou que o "presidente não está nem no bolso da oposição nem no bolso do governo. Está no bolso dele, e é livre e independente”.

Marcelo enviou ainda recados para ambas as partes, frisando ser preciso que de um lado “a oposição seja uma boa alternativa ao governo”. E do outro, o governo que governe bem”.

De acordo com o presidente, "o desafio é tentar evitar situações que aos olhos dos portugueses sejam desgaste do governo e das instituições".

O caso TAP, e o que tem vindo a público, é uma dessas situações.

*com Lusa

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