O que aconteceu no Hospital de Faro? Segundo a Ordem dos Médicos, “há indícios de alguma gravidade”

Manuel Ribeiro
Manuel Ribeiro

Depois do Ministério Público ter iniciado uma investigação a alegados erros e casos de negligência no serviço de cirurgia do Hospital de Faro, a Ordem dos Médicos (OM) anunciou hoje a criação de uma comissão técnico-científica de médicos independentes para avaliar o caso.

O que aconteceu?

Na semana passada, soube-se que Diana Carvalho Pereira, médica interna de Cirurgia Geral no Hospital de Faro, denunciou vários casos de negligência e erros no serviço onde trabalhava, através de uma queixa formal apresentada na Polícia Judiciária (PJ).

"Fiz uma queixa na Polícia Judiciária de Faro contra o meu antigo orientador de formação e contra o Diretor do Serviço de Cirurgia", disse a médica que denunciou onze casos ocorridos entre janeiro e março deste ano.

"Dos onze doentes: três morreram, dois estão internados nos cuidados intermédios, os restantes tiveram lesão corporal associada a erro médico, que variam desde a castração acidental, perda de rins ou necessidade de colostomia para o resto da vida. Um dos doentes esteve uma semana com compressas no abdómen", descreve a doutora que chegou àquele serviço hospitalar há um ano e que, desde então, diz ter sido alvo de chacota pela forma como tem desempenhado as suas funções.

Segundo descreve, na sua conta de Facebook, a médica interna “fez turnos de 24 horas seguidas”. Quando pedia turnos mais reduzidos “para descansar” era “alvo de discussão”. Chegou a trabalhar “100 horas numa semana” e descreve que “foi posta em causa vezes sem conta, por chamar colega à telefonista”.

Diana Pereira sinaliza ainda a maneira empática como tratava os doentes e por isso, era também motivo de troça.

“Sou alvo de chacota quando tento arranjar cadeiras de rodas de uma senhora amputada que não saía da cama por ter o travão da cadeira avariado”, conta a médica interna ou por ter “feito a barba a uma doente”, porque o “barbeiro se recusou a fazer por ser mulher”, descreve a jovem do Porto, que fez medicina em Coimbra e lamenta que no Hospital de Faro “se normalizam situações que noutro não seriam normalizadas”.

No mesmo post do Facebook, poucas horas antes da denúncia chegar à comunicação social, Diana Pereira sinaliza a forma como era tratada por ser médica "do primeiro ano".

"O Diretor do serviço, também é chefe da minha ex-equipa. Não precisava de fazer uma queixa interna para ele me voltar a dizer (como aconteceu vezes sem conta) que sou uma interna do primeiro ano e não tenho que opinar. Ele conhece os casos das queixas e não decidiu fazer queixa ou afastar o cirurgião em causa. É, portanto, conivente com os atos e foi também, pelo mesmo motivo, alvo das queixas", diz a médica.

“Inventaram uma história para me difamar junto ao hospital inteiro. Alegam insanidade, quando a minha queixa é referente a atos clínicos, baseada em provas com meios complementares de diagnóstico e relatos cirúrgicos. Alegam insanidade. Eu nunca fui um perigo para nenhum doente, ao contrário deles”, acrescenta na publicação, onde afirma ter-se submetido a consultas de psicologia pelo “cansaço” e pela “frustração” e onde essas mesmas consultas a “ajudaram a perceber” que não tinha mal nenhum a não ser empatia pelo doente.

No seguimento do exposto pela jovem médica, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) e a Inspeção Geral das Atividades em Saúde (IGAS) juntaram-se ao Ministério Público (MP) e à Ordem dos Médicos (OM) e também vão investigar as alegadas denuncias.

Até que se apure a verdade, a jovem médica reitera o juramento que fez quando se graduou no curso de Medicina.

“Olho para cada doente idoso com se de um avô se tratasse, porque sei que é o avô amado de alguém. Olho para cada doente mais novo como o pai/mãe/irmão/filho de alguém, que com certeza espera que seja tratado da melhor forma possível. Olho para cada doente com o foco da minha atenção e energia, porque foi por isso que escolhi ser médica (...). Defendo todos os doentes, mais do que me defendo a mim, porque mais uma vez, sou médica e não posso continuar a aceitar como normal que os doentes que passam pelas nossas mãos, não recebam os melhores cuidados possíveis. Sou médica. Fiz um juramento"

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