Portugal perde cônsul numa das mais importantes cidades em tempos de guerra

Manuel Ribeiro
Manuel Ribeiro

O Kremlin confirmou esta tarde a retirada das credenciais ao cônsul honorário português na cidade russa de Nizhni Novgord. Acácio Durães, natural de Valença, Viana do Castelo, era o cônsul honorário de Portugal nesta importante cidade industrial, localizada a sul de Moscovo. Porque é uma cidade importante? Já lá vamos.

Os cônsules

Contactado pela SIC Notícias, o cônsul Acácio Durães diz que não lhe foram dadas quaisquer explicações. Mas a razão por que lhe foram retiradas as credenciais diplomáticas por parte do Kremlin, estão relacionadas com semelhante medida diplomática levada a cabo pelo Estado Português.

Em janeiro, o empresário Bruno Valverde Coto ficou sem autorização para representar a Rússia no Algarve (Faro).

De acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, confirma-se “ter sido retirado, em janeiro passado, o ‘exéquatur’ ao cônsul honorário da Rússia no Algarve por desenvolvimento de atividades que não estão em conformidade com a Convenção de Viena sobre Relações Consulares”, referiu a diplomacia portuguesa à Lusa.

Valverde Coto, casado com uma cidadã russa, nascida na Ucrânia, gere uma empresa vocacionada para a imobiliária de luxo e vistos gold. Em 2020, foi nomeado pelo embaixador russo como representante diplomático honorário.

Segundo o Portal Diplomático, os cônsules honorários “têm funções de defesa dos direitos e interesses do Estado Português e dos seus nacionais”, mas não são competentes para a prática de atos consulares.

“Contudo, em determinadas circunstâncias, excecionais e fundamentadas, os cônsules honorários podem ser autorizados a praticar operações de recenseamento eleitoral, atos de registo civil e de notariado e a emitir documentos de viagem”, acrescenta-se, ficando assim explicada a reciprocidade das ações diplomáticas por ambas as partes.

Cidade industrial com forte componente na produção automóvel

Nizhni Novgord é uma importante cidade industrial, base de fábricas de montagem automóvel, incluindo a Volkswagen e a Porsche que, entretanto, abandonaram as instalações no seguimento das sanções impostas à Rússia por causa da invasão à Ucrânia. 

Instalações que Putin quer recuperar e retomar imediatamente a produção de carros.

Segundo o jornal alemão Spiegel, um membro do conselho de supervisão de componentes automativos Schaeffler e Porsche SE - que controla o trabalho da Volkswagen AG-, o austríaco Siegfried Wolf, terá oferecido o know-how alemão de empresas como a Volkswagen (VW) para reconstruir a indústria automóvel na região.

O plano, que a holding do grupo VW diz não ter conhecimento, foi apresentado em carta "enviada diretamente a Putin", inclui uma “linha aberta de crédito de 800 milhões de euros” e será apresentado pessoalmente pelo empreendedor austríaco em janeiro de 2024, diz o jornal. Siegfried Wolf é uma das pessoas mais influentes na indústria automotiva europeia, acrescenta a publicação.

Na cidade de Nizhni Novgord, são produzidas marcas de automóveis e camiões russas pelo grupo GAZ, o qual Wolf fez parte no passado, mas que ainda detém 10%. Ali também se montam carros de combate.

De acordo com o Spiegel, a empresa quer aproveitar as instalações deixadas pela VW para "receber a Skoda" e "reativar a produção das marcas Volga e Pobeda", que ficaram conhecidas no tempo soviético.

A carta prevê que os veículos devem ter "um visual russo fundamentalmente redesenhados do lado de fora" para recriar "as características" dos lendários modelos produzidos originalmente na Hungria.

*com Lusa e Der Spiegel

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