Guterres é brando com os russos? Os EUA dizem que sim, em nova onda de espionagem sobre os seus aliados

Manuel Ribeiro
Manuel Ribeiro

Ficamos hoje, de novo, a saber que os EUA espiam a ONU e os seus aliados. Olha a novidade.

De acordo com documentos do Pentágono, que foram divulgados na rede Discord, por um militar norte-americano identificado com o nome Jack Douglas Teixeira, António Guterres “é brando com os russos” e está "demasiado disposto a acomodar os seus interesses", pode ler-se numa referência ao acordo de exportação de cereais que foi mediado por Guterres, em julho de 2022, juntamente com a Turquia.

Melhor ainda, é a reação do secretário-geral que, segundo o seu porta-voz, "não está surpreendido" por ser "espiado" e as suas conversas privadas "escutadas".

“O secretário-geral está nestas funções há bastante tempo, já esteve na política e é uma figura pública há muito tempo, e não está surpreendido com o facto de alguns o espiarem e de que as suas conversas privadas sejam escutadas”, disse Stéphane Dujarric na conferência de imprensa diária da ONU, em Nova Iorque.

Ao que se consta, António Guterres queria preservar o acordo “a todo o custo” para assegurar que a Ucrânia exportasse os seus cereais para o mundo, perante a ameaça global de escassez de alimentos.

Mas os americanos queriam responsabilizar a Rússia pelas suas ações na Ucrânia e por isso classificaram que Guterres estava a "minar esforços mais amplos para responsabilizar Moscovo pelas suas ações na Ucrânia".

Num outro documento, revelado por Jack Teixeira, Guterres também expressou "consternação" com um apelo da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no sentido de a Europa produzir mais armas e munições.

Uma vez mais, os documentos que vieram agora a público, voltam a mostrar que os EUA mantêm operações de espionagem sobre os seus aliados. Em 2013, Edward Snowden revelou, em documentos, que os americanos espiavam os presidentes do Brasil e do México. Em 2021, ficou-se a saber que a NSA espiava Angela Merkel, por exemplo.

Quem é Jack Teixeira?

Natural do Massachussets, Jack Douglas Teixeira, é um militar de 21 anos, e o principal suspeito da fuga de documentos classificados do Pentágono. O militar trabalha nos serviços de informação da Guarda Nacional Aérea, que lhe terá facilitado o acesso aos ficheiros classificados que partilhou na rede social Discord.

Segundo o Washington Post, Teixeira pertencia a um grupo de 20 pessoas que se reuniram nessa rede durante a pandemia. A Discord é uma plataforma de chat que serve de apoio a jogadores online (gamers).

O New York Times escreve que o grupo chamado de "Thug Shaker Central" era gerido por Jack Teixeira e reunia entre 20 a 30 utilizadores, na sua maioria jovens que partilhavam o “amor pelas armas, memes racistas e videojogos”.

Que mais dizem os ficheiros?

Ainda sobre os documentos classificados, sabe-se que foram divulgados ao longo dos últimos meses, mas só estas últimas semanas é que o seu conteúdo chegou aos jornais. Sabe-se que continham segredos militares e políticos dos EUA e dos seus aliados, mas também paira no ar a dúvida sobre a sua veracidade, já que muitos acreditam terem sido adulterados.

Entre a espionagem, além da já referenciada sobre o secretário-geral da ONU, encontram-se pormenores da guerra da Ucrânia como a previsão de escassez de munições da parte do exército de Zelensky e informações sobre a contraofensiva prevista para a primavera.

Segundo o NYT, um dos documentos descreve uma análise da Agência de Inteligência de Defesa norte-americana com quatro cenários chamados de "wild card" e como podem afetar o curso do conflito na Ucrânia.

Os cenários hipotéticos incluem a morte dos presidentes Vladimir V. Putin da Rússia e Volodymyr Zelensky da Ucrânia, a remoção da liderança dentro das Forças Armadas russas e um ataque ucraniano ao Kremlin.

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