O Equador está a ferro e fogo, mas não é de agora

Gonçalo Lopes
Gonçalo Lopes

Nas últimas horas as palavras medo e violência serão das mais usadas e ouvidas no Equador. No entanto, as ondas de violência neste país sul-americano vêm de há já alguns anos.

As histórias de sequestros de civis, forças de autoridade e fugas de presos das cadeias são recorrentes nos últimos anos, mas a violência tem aumentado na última década e esta semana o Equador volta à berlinda sobretudo por estes temas.

O que aconteceu então esta semana?

Tal como em outras ocasiões, o pânico surgiu devido à fuga de um dos principais chefes de um grupo criminoso, Afolfo Macías, vulgo Fito (cumpria pena de 34 anos de prisão no presídio Regional de Guayaquil por crime organizado, narcotráfico e homicídio), que fugiu da prisão onde estava detido, na última segunda-feira.

Ou melhor, as autoridades pensam que Fito fugiu apenas na segunda-feira, mas a verdade é que os alertas sobre o seu paradeiro desconhecido começaram a surgir no domingo, quando notaram a sua ausência durante uma operação. Fito deixou para trás uma prisão adornada com imagens que exaltam a sua própria figura, armas, dólares e leões.

Além desta fuga, também na terça-feira vários homens armados invadiram um estúdio do canal de televisão TC, na cidade de Guayaquil, e fizeram os jornalistas e outros funcionários reféns durante uma transmissão em direto. Nas imagens, os homens armados com pistolas, espingardas e granadas caseiras, são vistos a agredir os trabalhadores e a obrigá-los a permanecerem no chão. Os criminosos acabaram por ser detidos.

O que foi feito perante este cenário?

Perante a fuga de Fito, um dos chefes dos Los Choneros, o grupo criminoso mais temido no país, o presidente do Equador Daniel Noboa declarou estado de exceção por 60 dias em todo o país, inclusive nas prisões. A medida inclui um toque de recolher de seis horas, a partir das 23:00 locais.

As forças públicas ativaram este plano na esperança de capturar o chefe deste gangue de traficantes que surgiu na década de 1990 na província costeira de Manabí (sudoeste), estratégica para o tráfico de droga para os Estados Unidos e Europa.

Quais as razões para a atual violência?

De acordo com alguns especialistas na América do Sul, a recente violência deve-se à privatização da segurança pública.

"A questão da segurança pública é a só a parte mais visível deste iceberg. Este episódio remonta ao candidato assassinado em agosto. Estava visível a falta de controlo absoluto. Qual a solução que as urnas apontaram? A solução das urnas foi entregar o Estado ao homem mais rico do Equador. A verdade é que no Equador, houve uma absurda privatização da segurança pública, talvez o mais alto índice de toda América Latina, o país tem mais de 125 mil homens armados em segurança privada, isso é o dobro dos polícias", disse o professor de relações internacionais da ESPM, Leonardo Trevisan, salientando que "Noboa prometeu exatamente o que está a fazer: privatizar a segurança pública, transformar a segurança pública num negócio muito eficiente. Acho que esse talvez é o processo mais periclitante e o que estamos a assistir é o resultado disso".

A realidade criminosa no Equador

O Equador é um país situado entre a Colômbia e o Peru, os maiores produtores mundiais de cocaína. De acordo com dados estatísticos, o Equador encerrou o ano com mais de oito mil homicídios e 220 toneladas de drogas apreendidas, novos recordes para o país de apenas 17 milhões de habitantes.

Nos últimos dois anos, os confrontos entre presidiários têm aumentado e deixaram quase 500 mortos desde 2021. Nas ruas os homicídios aumentaram quase 800%, passando de 6 para 46 por cada 100.000 habitantes.

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