Buscas no Martim Moniz: num país com imigração, todos falam mas quem será que tem razão?

Beatriz Cavaca
Beatriz Cavaca

Duas pessoas foram detidas pela PSP na operação de quinta-feira no Martim Moniz, em Lisboa, que resultou a apreensão de quase 4.000 euros em dinheiro, bastões, documentos, uma arma branca e um telemóvel. Entretanto, da esquerda à direita partidos e figuras políticas foram reagindo a esta operação policial.

Na zona moram e trabalham muitos imigrantes, sobretudo oriundos do subcontinente asiático.

Em comunicado, o Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis) da PSP esclareceu que uma pessoa foi detida por posse de arma proibida e droga e outra por ser suspeita de pelo menos oito crimes de roubo.

A operação foi acompanhada por uma procuradora da República e foram cumpridos seis mandados de busca não domiciliária.

A atuação policial – que passou por encostar à parede dezenas de pessoas, de mãos no ar, para serem revistadas – foi denunciada por imagens partilhadas nas redes sociais, que geraram várias críticas e acusações de abuso de poder.

A porta-voz do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP, Ana Raquel Ricardo, explicou que uma “operação especial de prevenção criminal dá legitimidade para fazer outro tipo de diligências, nomeadamente a revista de cidadãos que se encontrem no local e revista de viaturas” que por ali circulem.

Quais foram as reações?

Marcelo Rebelo de Sousa

"Eu estava em Cabo Verde, não tive a oportunidade de ver sequer as imagens, porque cheguei tarde e hoje estive ocupado com vários outros compromissos. E, portanto, não me vou pronunciar sobre a matéria", começou por responder Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas, antes de uma iniciativa em Cascais, no distrito de Lisboa.

Em seguida, o chefe de Estado referiu, contudo, que "em geral" tem defendido "que a segurança é muito importante para a vida das pessoas e para a estabilidade da situação social, económica e política" e que "deve ser exercida respeitando as regras constitucionais e legais".

"Deve ser exercida, quer a segurança, quer, por exemplo, a investigação judicial, sem riscos de se considerar que a publicidade ou a utilização de formas de cobertura dos acontecimentos enquanto eles decorrem retira significado e caráter pedagógico que deve ter essa intervenção", afirmou.

"E deve ser feito com recato. Deve ser feito com recato, que eu também penso noutro tipo de atuações, por uma questão de afirmação das instituições e do peso pedagógico e exemplar das instituições", acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa quer "ver exatamente o que é que aconteceu" na operação da Polícia de Segurança Pública (PSP) no Martim Moniz para perceber "até que ponto é que houve esse equilíbrio de intervenção", "se teve o recato ou não que era indicado para essa situação".

O Presidente da República salientou que, segundo o comunicado da PSP, que disse ter lido, "se tratava de cumprir seis mandatos judiciais" e que "a intervenção, à primeira vista, foi cumprimento de uma decisão judicial com intervenção do Ministério Público para fins muito específicos".

Interrogado se essa operação poderá ter sido feita em resposta a uma perceção de insegurança, respondeu: "Ali não era a perceção, ali era o cumprimento de mandatos de natureza judicial".

"Agora, se isso, de alguma maneira, não teve o recato que esse tipo de intervenções deve ter, só se pode verificar quando eu vir as imagens e perceber o que se passou efetivamente", reforçou.

Sobre a possibilidade de ir ao Martim Moniz, o chefe de Estado respondeu que primeiro quer "ver exatamente o que é que aconteceu".

"Neste momento, não se deve passar lá nada, a não ser aquilo que se passa todos os dias, que é, normalmente, ali encontrarmos muitos portugueses e muitos estrangeiros das mais diversas nacionalidades, é uma área que é multicultural, multicivilizacional, há muito tempo", considerou.

Marcelo Rebelo de Sousa mencionou que já lá esteve várias vezes, com "irmãos timorenses" e "em contactos com comunidades como chinesa, paquistanesa, indiana e outras, que têm ali os seus estabelecimentos ou as suas atividades".

Montenegro

Na quinta-feira, em Bruxelas, o primeiro-ministro considerou que a operação da PSP no Martim Moniz, em Lisboa, foi "muito importante" para criar "visibilidade e proximidade" no policiamento e para aumentar a sensação de tranquilidade dos cidadãos portugueses.

"Há uma coisa que me parece óbvia, é muito importante que operações como esta decorram, para que haja visibilidade e proximidade no policiamento e fiscalidade de atividades ilícitas", defendeu Luís Montenegro, em conferência de imprensa na capital da Bélgica.

O primeiro-ministro considerou que as operações policiais de prevenção "têm um duplo conteúdo", ou seja, aumentar a "tranquilidade dos cidadãos, por um lado", e combater as "condutas criminosas".

PS

O secretário-geral do PS almoçou hoje no Martim Moniz, em Lisboa, acompanhado pelo presidente da junta de Santa Maria Maior, voltando a criticar a operação policial que foi levada a cabo na quinta-feira naquele local.

Este almoço não foi divulgado à comunicação social, mas fonte oficial do PS confirmou à Lusa que este aconteceu no Martim Moniz, estando Pedro Nuno Santos acompanhado pelo presidente da junta de freguesia de Santa Maria Maior, o socialista Miguel Coelho, e o líder da comunidade do Bangladesh.

À saída, em declarações aos jornalistas que estavam no local citadas pela RTP, Pedro Nuno Santos disse acreditar que a segurança é "um tema que preocupa os portugueses", mas que tem de ser resolvido "com seriedade", questionando a legalidade desta intervenção da PSP.

Esta manhã, no parlamento, o líder do PS teceu duras críticas ao Governo e à direção nacional da PSP por esta operação policial.

Pedro Nuno Santos manifestou-se “envergonhado e revoltado” com o executivo e a direção da PSP pela operação policial no Martim Moniz, considerando que este é o “Governo mais extremista” das últimas décadas da democracia portuguesa.

“Sinto-me triste, envergonhado enquanto político e revoltado com o Governo do nosso país, mas também com a direção nacional da PSP”, afirmou.

O líder do PS não hesitou e disse: “temos neste momento em Portugal o Governo mais extremista que nós tivemos nas últimas décadas da nossa democracia”.

Para Pedro Nuno Santos, é preciso que Governo e PSP expliquem os fundamentos desta ação, sobre a qual há “fundadas razões” para haver dúvidas sobre a sua legalidade.

“Há um limite que foi ultrapassado”, sintetizou, considerando que as declarações do primeiro-ministro “corroboram que há instrumentalização das forças de segurança”.

PSD/Lisboa

Em comunicado, o PSD/Lisboa recorda que foi Miguel Coelho (PS) que “reiterou publicamente, muito recentemente, a necessidade de maior policiamento nas zonas da Mouraria e da Baixa, clamando por mais polícias”.

“Não havendo, como diz o povo, possibilidade de em simultâneo termos sol na eira e chuva no nabal, também não é possível protestar por mais policiamento para, a seguir, acusar as forças de segurança de comportamentos ditatoriais”, refere o presidente da concelhia social-democrata, Luís Newton, citado no comunicado.

Tal situação, acrescenta, é “como gritar lobo e depois matar o caçador quando ele aparece para nos defender, um contrassenso evidente e clamoroso".

Telmo Correia

O secretário de Estado da Administração Interna considerou hoje que “não fazem sentido” as críticas dos partidos à esquerda parlamentar sobre a operação policial no Martim Moniz, mas reconheceu que faz parte do debate político e democrático.

“Na minha opinião não fazem sentido [críticas], mas isso é o debate político, é o debate democrático, há sempre quem se queixe de falta de polícia e há sempre quem se queixe quando aparece a polícia”, disse Telmo Correia.

O governante, que falava à agência Lusa em Portalegre, à margem da cerimónia de compromisso de honra de 447 guardas provisórios da GNR, considerou que a polícia fez o seu trabalho e tem o “todo o apoio” do Governo.

“A polícia faz o seu trabalho, tem todo o apoio do Governo, tem toda a confiança e deve merecer também toda a confiança dos portugueses”, sublinhou, destacando a formação dos polícias como “do melhor que há no mundo”, nomeadamente ao nível da forma como atuam, preocupação com direitos humanos e respeito pelas populações.

“Portanto, os portugueses podem confiar nas suas forças de segurança”, acrescentou.

No entanto, Telmo Correia alertou que “não compete” ao Governo comentar operações policiais em concreto.

“Não compete ao Governo comentar operações policiais em concreto, isso cabe à GNR na sua área, teve de resto uma operação também muitíssimo importante no norte de combate ao tráfico de droga, ontem mesmo (quinta-feira), ou à PSP definirem o caráter operacional e a forma como atuam operacionalmente”, defendeu.

Para o secretário de Estado da Administração Interna, o Governo “tem de se limitar” a fazer aquilo que “é da sua competência” e que passa por cumprir o seu programa.

“O programa do Governo é muito claro, o senhor primeiro-ministro tem sido muito claro e a senhora ministra da Administração Interna tem sido muito clara: o programa do Governo consiste em termos mais policiamento, com maior visibilidade, mais polícia na rua, mais operações em zonas que sejam consideradas sensíveis, ainda bem que assim é”, disse.

Junta de Freguesia de Santa Maria Maior

O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior pediu hoje a demissão da ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, após a “inaceitável” operação policial de quinta-feira no Martim Moniz.

“Aquilo que aconteceu ontem [quinta-feira] é típico de uma ditadura islâmica ou de uma ditadura da América Latina […]. Julgo, como cidadão e como autarca, que não há condições para a senhora ministra da Administração Interna continuar e os comandos da polícia têm de explicar porque é que fecharam uma rua inteira e encostaram pessoas à parede. Seriam capazes de fazer isto em Campo de Ourique, nas Avenidas Novas, no Lumiar?”, questionou Miguel Coelho.

Francisco Assis

“A operação policial ontem levada a cabo na Mouraria inscreve-se na reprovável linha política ultra-securitária que este Governo de forma irresponsável tem vindo a prosseguir”, escreveu Francisco Assis nas redes sociais.

Para o eurodeputado socialista, esta atuação “é muito grave, pelo que representa e pelo que fomenta” e contribui para criar “um ambiente de medo e desperta os instintos mais selvagens em relação a certos segmentos da população”.

“O Ministério da Administração Interna parece ter-se transformado no braço institucional da extrema-direita arruaceira”, acusou.

Assis defendeu que é preciso travar esta situação “sob pena de se ter de concluir que a direita democrática está a ceder em questões fundamentais e a renegar os valores que sempre a orientaram durante as várias décadas do regime democrático”.

José Luís Carneiro

“A partir do momento em que o primeiro-ministro chamou a si o comando político das operações policiais, o que se passou ontem na Mouraria exige explicações claras da sua parte”, afirmou o socialista José Luís Carneiro através das redes sociais.

Segundo o antigo ministro e deputado do PS, “as operações policiais, mesmo preventivas, exigem justificação e o cumprimento dos princípios da adequabilidade e da proporcionalidade”.

Ferro Rodrigues

O antigo líder socialista Ferro Rodrigues afirmou-se hoje chocado com o que observou da operação policial realizada na Mouraria, em Lisboa, e com as “declarações indecorosas” proferidas sobre o assunto pelo primeiro-ministro.

“Estou em estado de choque com o que se passou na Mouraria”, na quinta-feira, afirmou Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República entre 2015 e 2022 e secretário-geral do PS entre 2002 e 2004, numa mensagem que enviou à agência Lusa.

Ferro Rodrigues destacou em particular uma foto exibida “com dezenas de pessoas encostadas às paredes perante polícias armados, como se estivessem numa guerra”.

O antigo secretário-geral do PS condenou também as declarações “indecorosas e irresponsáveis proferidas pelo primeiro-ministro”, Luís Montenegro, sobre esta operação policial e concluiu: “Agora sim, é caso para dizer vergonha. Quem cala consente e não quer consentir".

IL

Numa conferência de imprensa, em Lisboa, o presidente da IL Rui Rocha responsabilizou o Governo pela “falta de informação” sobre a operação policial de ontem no Martim Moniz, em Lisboa e criticou o primeiro-ministro Luís Montenegro, afirmando que “às vezes fica até a dúvida se é diretor de uma polícia” ou se “já substituiu a ministra da Administração Interna”.

Para o líder dos liberais, a falta de informação detalhada sobre a operação policial abre a porta para dois cenários: “havia denúncia, indícios, ameaças à segurança dos cidadãos que justificaram aquela ação” ou não havia qualquer indício de perigo e esta operação não passou de uma “mera ação de propaganda ou manobra de diversão”.

“Eu não quero cidadãos, sejam eles quem forem, sujeitos a excessos policiais. Eu quero segurança em Portugal. A segurança é fundamental para termos liberdade. Mas quero uma segurança proporcional. Não quero forças policiais instrumentalizadas e como instrumentos de ações de propaganda do Governo. Eu coloco as duas possibilidades sobre a mesa, e aquilo que exijo é esclarecimentos adicionais do Governo para poder ter uma opinião definitiva sobre aquilo que aconteceu”, apelou.

Perante os resultados da operação, Rui Rocha afirmou que, se não se vierem a conhecer mais informações, houve “uma desproporção entre os meios e os resultados” na atuação policial.

O líder liberal considerou os resultados da operação - duas pessoas detidas e apreensões de dinheiro, uma arma e artigos contrafeitos - “escassos face a uma ação policial com tantos meios” e apelou a uma intervenção das forças de segurança que não ponha em causa direitos, liberdades e garantias.

Chega

O presidente do Chega, André Ventura, considerou hoje que operações policiais como a que decorreu na quinta-feira no Martim Moniz, em Lisboa, deveriam "realizar-se mais vezes" e defendeu que a polícia tem de "mostrar autoridade".

"Não só concordamos com estas ações como achamos que elas deviam ir mais longe e realizar-se mais vezes para mostrar aos portugueses e aos estrangeiros que Portugal está seguro e que não tem medo nem às zonas do seu território onde a polícia não entra", afirmou, durante uma visita ao evento Wonderland, em Lisboa.

André Ventura defendeu que a polícia tem de "mostrar autoridade" e que "as pessoas sentirem que há presença da autoridade, que não há bolhas de impunidade, dá-lhes uma segurança maior", considerando que Portugal "tem sido tolerante demais" ao permitir que se desenvolvam "bolhas de segurança, de instabilidade, de impunidade".

"Nós temos que começar a dar o sinal de que, seja zona de criminalidade, seja zona de mais estrangeiros, seja zona de minorias, a polícia não tem medo e portanto quando é preciso lá ir, também vai, e não se diga que a polícia só vai porque estão ali estrangeiros", defendeu.

Ventura defendeu que a política "estava mais do que legitimada para fazer esta ação" por estar a cumprir "vários mandados judiciais", considerando que "ao agir, e ao agir dentro da lei, muitas vezes no cumprimento de mandados judiciais, a polícia está a mostrar a autoridade".

O líder do Chega assegurou que o partido não vai inviabilizar a audição da ministra da Administração Interna, já pedida por vários partidos, mas considerou que tal pedido "é caricato".

Quanto às acusações de conluio entre Chega e PS, André Ventura considerou-as injustas e disse que são "apenas uma tentativa de menorizar o Chega". Quanto às propostas aprovadas por Chega e PSD, respondeu que vota de acordo com "o interesse do país".

Bloco de Esquerda

Numa conferência de imprensa no parlamento, a coordenadora do BE, Mariana Mortágua, afirmou que a operação policial de quinta-feira no Martim Moniz, em Lisboa, foi um “ato inédito na democracia portuguesa”, com uso desproporcional de meios e não foi “determinada pela hierarquia das próprias forças policiais”.

“Uma operação que se destina a um alvo particular, que é a população migrante que vive na zona do Martim Moniz. Tenhamos isto claro, um Governo que mobiliza politicamente forças de segurança para atacar indiscriminadamente um alvo como a população migrante é um governo perigoso”, atirou Mortágua.

Mortágua disse que o Governo mobilizou as forças de segurança para fazer propaganda, acrescentando que em democracia “não se montam encenações para ganhar votos”, nem se faz “uso autoritário e indiscriminado das forças de segurança”.

A líder do Bloco anunciou que o partido vai chamar a ministra da Administração Interna Margarida Blasco e o diretor nacional da Polícia de Segurança Pública (PSP) Luís Carrilho ao parlamento para que possam explica o que dizem ser “uma ação injustificada e inédita na democracia portuguesa”.

Mortágua sublinhou ainda que a “responsabilidade desta ação é do primeiro-ministro”, acrescentando que este não foi um “ato digno da democracia e do Estado de direito”.

Livre

Em declarações aos jornalistas no parlamento, Rui Tavares afirmou que a operação policial de quinta-feira no Martim Moniz, em Lisboa, representa uma “viragem na estratégia deste Governo” que, disse, segue “uma agenda ditada pela extrema-direita e não pelo mandato que recebeu dos portugueses”.

Rui Tavares considerou que, sobre a operação policial de quinta-feira, “aboslutamente nada está esclarecido” relativamente, por exemplo, ao cumprimento daos critérios de segurança e investigação.

“Tudo isso é grave do ponto de vista do Estado de direito, mas também grave do ponto de vista das próprias alianças políticas que sustentam o Governo. Havendo uma viragem política desta dimensão, achamos que é adequado discuti-la com o senhor Presidente da República e entender como é que ele vê esta evolução do quadro político nacional”, disse o líder do Livre.

Rui Tavares lamentou as propostas aprovadas quinta-feira em plenário no sentido de limitar o acesso de migrantes ao SNS, apontando as medidas como exemplos da influência da extrema-direita nas decisões do PSD.

Tavares salientou que esta audiência “não serve para que ele tenha exatamente as mesmas opiniões” que o Livre mas sim para que o partido possa comunicar a sua visão e, a partir daí, Marcelo Rebelo de Sousa “fazer a sua leitura”.

PAN

O PAN, pela porta-voz Inês de Sousa Real, lamentou o que diz ter sido a “desproporcionalidade de meios” nesta operação policial num caso em que, disse, “não existia qualquer evidência” que justificasse a dimensão da intervenção.

Para Inês de Sousa Real, o PSD “vem de alguma forma procurar seguir uma agenda anti-direitos humanos” que “vai sair cara” aos sociais-democratas” por se afastarem dos valores constitucionais, do princípio da proporcionalidade e de uma política de integração de prevenção.

“Caberá agora à ministra da Administração Interna esclarecer aqui na Assembleia da República o porquê deste tipo de intervenção. Nós não podemos estar a ir a reboque de uma agenda claramente de desintegração para justificar aquilo que possa ser este tipo de intervenções”, disse anunciando que o PAN acompanhará todos os pedidos de audição de Margarida Blasco.

Inês de Sousa Real considerou também que o Presidente da República já deixou um “recado” ao Governo ao apelar ao cumprimento das regras constitucionais, e que só não entenderá essa mensagem “quem não quiser”.

PCP

O PCP em Lisboa criticou hoje a operação policial que ocorreu na quinta-feira na zona do Martim Moniz, manifestando preocupações acerca da adequação e proporcionalidade da atuação da PSP, e defendeu intervenções numa perspetiva preventiva e não securitária.

“O caminho para permitir à população um maior sentimento de segurança não passa por uma intervenção policial com o uso de meios ou força desta dimensão, sob pena de ter exatamente o efeito contrário”, afirmou o organismo de direção do PCP na cidade de Lisboa.

Em comunicado, o PCP fez referência às imagens que vieram a público, que retratam o momento em que dezenas de cidadãos estavam encostadas à parede, de mãos no ar, para serem revistadas pela polícia, no âmbito da operação policial de “grande envergadura” que ocorreu na quinta-feira na zona do Martim Moniz, na Rua do Benformoso, “envolvendo muitas dezenas de pessoas, maioritariamente cidadãos imigrantes”.

Para os comunistas, a intervenção no Martim Moniz, na sua forma e dimensão, motiva várias questões e “preocupações acerca da adequação e proporcionalidade” da atuação policial, apesar de o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP alegar a suspeição de atos criminosos e apontar a necessidade de aumentar o sentimento de segurança da população, tal como o primeiro-ministro, Luís Montenegro (PSD), defendeu como linha de orientação, nomeadamente com a maior visibilidade da intervenção policial.

Na perspetiva do PCP, a atuação policial no Martim Moniz contraria os princípios consagrados no artigo 272.º da Constituição da República Portuguesa, inclusive que "a prevenção dos crimes, incluindo a dos crimes contra a segurança do Estado, só pode fazer-se com observância das regras gerais sobre polícia e com respeito pelos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos".

Criticando a dimensão do uso de meios ou força presentes na operação policial, o PCP defendeu que a segurança da população se alcança com a resolução dos problemas sociais e económicos vividos e com a existência de policiamento de proximidade, “que significa um conhecimento e envolvimento com os problemas das populações e com as próprias comunidades, numa perspetiva preventiva e não numa perspetiva securitária”.

A este propósito, os comunistas lembraram que o processo de reorganização do dispositivo de esquadras na cidade de Lisboa, que se iniciou em 2012 e ao qual o PCP se opôs, levou a que hoje exista “um menor policiamento de proximidade, com a diminuição de efetivos, de meios e equipamentos e ao encerramento de 14 esquadras”, uma delas na Mouraria e outra no Rossio, ambas a escassos metros do Martim Moniz.

SOS Racismo

A SOS Racismo salientou hoje em comunicado que o executivo tem reduzido os direitos dos imigrantes, “revogando os procedimentos de regularização baseados em manifestações de interesse e marginalizando assim milhares de pessoas, atirando-as para a precariedade e para a exclusão social” e “intensificou a perseguição e assédio, consagrando a visão securitária, xenófoba e racista sobre os fluxos migratórios”.

Segundo a associação "são dinheiros públicos gastos apenas para a perseguição infundada e sem sentido de pessoas, pelo simples facto de serem imigrantes”, a partir de “perceções e imaginários típicos da extrema-direita”.

Em Portugal, sublinha a SOS Racismo, “não existe nenhuma relação entre índices de criminalidade e fluxos migratórios”, mas "o discurso e prática do Governo tem-se centrado em ‘perceções’ e cenários imaginários, para propagar a ideia de que essa relação de causalidade existe”.

“O atual governo, cuja agenda política está ao reboque do Chega, está desde o início empenhado em recuperar e higienizar a retórica racista e xenófoba da extrema-direita contra imigrantes em geral e todas as minorias étnicas em particular”, considera a SOS Racismo, dando como exemplo a intenção de marginalizar os irregulares no acesso à saúde ou a outros serviços.

“Não há nenhum estudo, nenhum facto, que indique que existe em Portugal um ‘turismo de saúde’ de massas. As pessoas imigrantes em situação irregular que acedem ao SNS, representam uma percentagem ínfima”, cerca de um por cento, refere.

Apesar disso, “com estas construções à base de perceções, o Governo e o PSD aplicam, na íntegra, o programa de ódio da extrema-direita, preferindo a exclusão social, a pobreza, o sofrimento e a precariedade de milhares de pessoas”, conclui a associação, que pede a mobilização de todos “os partidos políticos, associações e movimentos e todas as pessoas que não se revêm nesta atitude persecutória e infame”.

Comunidade do Bangladesh

O líder da comunidade do Bangladesh em Lisboa, considerou hoje "inaceitável" a operação policial com "meios excessivos" na quinta-feira no Martim Moniz, que cria uma má imagem dos imigrantes sem terem detetado qualquer crime entre os seus compatriotas.

"Aquelas pessoas encostadas na parede parece que são criminosos" e isso é "o que fica" das imagens da operação policial, afirmou à Lusa Rana Taslim Uddin, que responsabiliza também a atuação das forças de segurança como fatores para o aumento do racismo, particularmente contra os imigrantes do subcontinente indiano, particularmente do Bangladesh, Nepal e Índia.

Daquela fila de pessoas que foram revistadas "todas estavam legais", disse o dirigente, salientando que os imigrantes foram abordados num dia normal quando iam "beber um chá ou à mercearia", como "qualquer cidadão em Portugal".

Deste modo, as autoridades construíram "uma imagem contra os imigrantes", acusou, acrescentando que "não é desta maneira que se vai procurar máfia ou criminalidade".

Por outro lado, em toda a operação, a polícia "não encontrou ninguém da minha comunidade" que tivesse cometido crimes, salientou o dirigente, que vive em Portugal há 35 anos, mais do que viveu no seu país natal.

O que se passou "foi uma vergonha e é inaceitável", e só "aumenta o racismo nacional e a xenofobia em Portugal", disse.

"Nunca vamos aceitar isto" e "estou a apelar ao Governo para que, se quer procurar pessoas ilegais, máfias ou drogas, esta não é a maneira de se fazer", acrescentou Rana Taslim Uddin.

*Com Lusa

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