"Atendendo ao que sabemos sobre os movimentos dos planetas do sistema solar, a nossa investigação permite-nos dizer que é possível que esse nono planeta exista, mas não em qualquer lugar", disse à AFP Jacques Laskar, astrónomo do Observatório de Paris, autor de um estudo sobre este tema em parceria com Agnès Fienga, do Observatório da Côte d'Azur (sul da França).
A 20 de janeiro, Konstantin Batygin e Mike Brown do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltec), causaram surpresa ao anunciar que um "nono planeta", muito grande e muito distante, poderia existir no nosso sistema solar. Para chegar a essa conclusão, os dois cientistas apoiaram-se em modelos matemáticos e simulações computacionais. Dotado de uma massa de cerca de dez vezes a da Terra, este planeta se encontraria numa órbita vinte vezes mais distante do que a de Netuno. Muito lenta, levaria entre 10.000 e 20.000 anos para completar sua volta em torno do sol.
Do outro lado do Atlântico, em França, uma equipa de outros investigadores teve a ideia de acrescentar este nono planeta, ainda virtual, no modelo INPOP do sistema solar. "Supusemos que havia um planeta sobre a órbita proposta pelos americanos e olhamos para a influência que teria sobre os outros planetas", explica Laskar, cujos trabalhos foram divulgados na revista Astronomy & Astrophysics Letters. "Graças à sonda Cassini que acompanha Saturno desde 2004, sabemos qual a distância entre a Terra e Saturno. E o que fizémos foi observar como esta distância seria modificada pela existência de um nono planeta", em razão da atração gravitacional entre os corpos celestes, refere o diretor de pesquisa no Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) francês.
Trabalho 'dividido por dois'
As equipas dos dois astrónomos identificaram duas zonas onde está excluído que o planeta esteja, pois os seus efeitos seriam incompatíveis com os dados da sonda Cassini. Antes do estudo, a comunidade científica não sabia onde procurar. "Agora, eliminámos metade das direções possíveis", sublinha Laskar, "dividimos o trabalho por dois".
O estudo permite também dizer que "nada impede a existência deste nono planeta em todas as outras direções". Há um local onde sua presença poderia ser "provável" já que quando este planeta é acrescentado, o modelo se ajusta melhor às observações, afirma Laskar, que continua prudente apesar das evidências. "Não coloco as minhas mãos no fogo", disse.
Os investigadores trabalharam sobre dados da sonda Cassini que vão até 2014. "Estes resultados poderiam ser melhorados se a Cassini fosse prolongada até 2020", afirma Laskar. "Isso permitiria dividir ainda mais a zona" por onde pesquisar. Por enquanto, está previsto que a sonda Cassini, fabricada pela Nasa em colaboração com a Agência Espacial Europeia (ESA), termina sua missão ao mergulhar em Saturno em 2017. Mas um grupo de cientistas espera que a sonda obtenha o financiamento necessário para o prolongamento da sua actividade.
Se para os astrónomos amadores não há qualquer esperança de encontrar este novo planeta bem distante, já do lado dos investigadores a perspectiva é diferente. Muitos estão a mobilizar-se para encontrar o planeta visualmente, contou Francis Rocard, responsável pelos programas de exploração do sistema solar na agência espacial francesa CNES. "Por conta da baixa luminosidade, só podemos usar grandes telescópios como o VLT no Chile ou o telescópio especial Hubble", escreve no blog do CNES. Mas seria mais eficaz usar instrumentos com um campo de visão maior, como o telescópio Subaru sitiado no Havai. "Vai levar tempo, talvez cinco anos, pois é preciso comparar as imagens do céu espaçadas de um a vários anos para confirmar que o objeto está na órbita prevista" pelos cientistas americanos, nota Rocard.
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