Bill Gates, fundador da Microsoft, anunciou publicamente esta sexta-feira a sua decisão de deixar os dois conselhos de administração a que pertencia, a da gigante tecnológica e a da Berkshire Hathaway. A razão prende-se com a vontade de se dedicar a "prioridades filantrópicas", entre as quais: o desenvolvimento da saúde pública, a educação e o combate às alterações climáticas.

"As lideranças de Berkshire e da Microsoft nunca foram tão fortes, é o momento certo para sair", escreveu o milionário norte-americano na sua conta da rede social Linkedin, onde anunciou a decisão.

No comunicado, Bill Gates confessa que ter feito parte do conselho de administração da Berkshire foi uma das "maiores honras" da sua carreira. "Eu e o Warren éramos os melhores amigos ainda antes de eu ter entrado e continuaremos a sê-lo. Estou ansioso por continuar a nossa parceria como co-administradores da Fundação Bill & Melinda Gates e como co-fundadores da Giving People," escreveu. A Berkshire Hathaway é a holding de Warren Buffet, um dos homens mais ricos da América e do mundo, e que foi também um dos investidores da Microsoft na década de 90.

Numa conferência organizada pelo New York Times, em novembro do ano passado, Gates recordou publicamente o primeiro jantar com Warren Buffett, confessando que, por ele, não teria ido. Vivia-se o ano de 1991 e  Gates tinha "apenas" 36 anos e não via grande valor acrescentado para o seu negócio em ter o milionário então com 61 anos como investidor. ""Pensei, este tipo compra e vende coisas, portanto encontra imperfeições nos mercados, não é valor acrescentado para a sociedade, é um jogo de soma zero, quase parasita".

A verdade é que os dois homens acabaram mesmo por jantar juntos, a convite dos pais de Bill Gates, que tinha lançado um ano antes, em 1990, a primeira versão do Microsoft Office e o Windows 3.0.

Warren Buffett, o milionário que tem a Coca-Cola e a American Express como alguns dos seus investimentos mais simbólicos - e também um apaixonado por jornais tendo também investido no Wall Street Journal, em 1973, tornando-se um amigo próximo de Katharine Graham (cuja história durante o Watergate foi contada no filme The Post), acabaria por ser não só investidor na Microsoft como um amigo que se manteve ao longo dos 30 anos que se seguiriam. Desse jantar, Gates contou numa publicação no seu blog, em 2016, que Buffett o tinha pressionado "com questões incríveis que nunca ninguém lhe tinha colocado". E é assim que, em 2020, Bill Gates, além de fundador e presidente da Microsoft, acaba sentado no conselho de administração da Berkshire Hathaway.

Mas, claro, a Microsoft é - e continuará a ser - a "sua empresa", um dos gigantes tecnológicos mundiais que h0je Gates considera preparada para alcançar "os objetivos ambiciosos" sem precisar da sua presença na administração.

"Com todo o respeito pela Microsoft, deixar o conselho de administração não significa deixar a empresa. A Microsoft será sempre uma parte importante do trabalho da minha vida e continuarei envolvido através de Satya [CEO da Microsoft] e pela liderança técnica, para ajudar a moldar a visão e a atingir os objetivos ambiciosos da empresa. Sinto-me mais otimista do que nunca sobre o progresso que a empresa está a alcançar e como ela pode continuar a beneficiar o mundo", pode ler-se.

Sobre o futuro, Gates assume-me ansioso pelo que aí vem, pois será uma "oportunidade para manter amizades e parcerias que significam muito" ao mesmo tempo que continuará a contribuir para duas empresas das quais se orgulha. Tudo, para poder "priorizar" o seu " compromisso para trabalhar com alguns dos maiores desafios do mundo".

Gates e Buffett também participaram  juntos, em 2010, na iniciativa The Giving Pledge campaign, para a qual recrutaram 200 milionários do mundo inteiro para contribuir com parte das suas fortunas para causas filantrópicas. Uma espécie de antecâmara da decisão hoje anunciada e que fez justiça à revelação que o fundador da Microsoft teve no célebre jantar de 1991 quando percebeu que, apesar de virem por caminhos diferentes, ambos queriam moldar o mundo. Uma vontade cujas fortunas tornam uma realidade possível, já que são,  respetivamente e de acordo com a Forbes, a segunda e a terceira maior fortuna (hoje Bill Gates é mais rico que Warren Buffett).

O nome do casal Gates esteve recentemente entre os destaques da atualidade, quando a Fundação Bill & Melinda Gates anunciou um investimento de 100 milhões de dólares (cerca de 90 milhões de euros) no combate ao novo coronavírus. Desse valor, 20 milhões de dólares (cerca de 18 milhões de euros) serão destinados a instituições, como: a Organização Mundial de Saúde (OMS), os centros Americano e Chinês de Controle e Prevenção de Doenças, bem como a Comissão Nacional de Saúde da China.

Verba idêntica será destinada às autoridades de saúde pública em países da África Subsaariana e do Sudeste Asiático, áreas que foram afetadas desproporcionalmente por epidemias recentes, incluindo a pandemia do H1N1, em 2009.

Os restantes 60 milhões de dólares (cerca de 55 milhões de euros) serão aplicados na pesquisa de vacinas, tratamentos e ferramentas de diagnóstico.