Numa conferência de imprensa na sede do executivo comunitário, em Bruxelas, que acolhe entre hoje e terça-feira uma conferência de alto nível sobre “Interferência Eleitoral na Era Digital”, o comissário europeu com a pasta da União para a Segurança, Julian King, e o antigo secretário-geral da NATO e atual copresidente da Comissão Transatlântica sobre Integridade Eleitoral, Anders Fogh Rasmussen, sublinharam que “não há mais tempo a perder” no combate à manipulação digital, uma ameaça cada vez mais séria e sofisticada.

O comissário Julian King garantiu este é “um tema-chave” e uma das grandes prioridades da Comissão Europeia, defendendo que as ações mais imediatas devem ser tomadas em três frentes, no sentido de reforçar a ciber-resiliência das redes atuais, melhor contra-atacar as tentativas de manipulação dos processos democráticos e, num contexto eleitoral, proteger os dados pessoais.

Rasmussen, por seu turno, argumentou que é necessário que os parceiros transatlânticos melhorem a sua coordenação e afetem mais recurso à cibersegurança, pois atualmente, sustentou, “a resposta continua a ser fraca, e sempre focada no mais recente caso de interferência, e não no próximo”.

“E sabemos que a próxima vaga (de ingerência externa digital) incluirá inteligência artificial, para chegar a um maior número de pessoas”, advertiu.

Durante a conferência de imprensa foi abordado por diversas vezes pelos jornalistas o papel concreto da Rússia, tendo o comissário europeu da União para a Segurança observado que “há uma peculiaridade sobre a Rússia” nesta matéria, que é o facto de, ao contrário de outros atores estatais, “eles assumirem abertamente que utilizam este género de abordagem, que está mesmo incluída na sua doutrina militar”, o que é mais uma razão para "levar muito a sério a informação patrocinada pelo Kremlin".

Sublinhando que a ameaça das ingerências externas digitais é, acima de tudo, uma ameaça à própria democracia, numa tentativa de a deslegitimar, King e Rasmussen voltaram a apelar a um trabalho conjunto, coordenado e urgente, entre autoridades públicas nacionais, setor privado e sociedade civil, incluindo também as grandes plataformas de redes sociais.

Por ocasião do discurso sobre o “Estado da União”, em setembro passado, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, anunciou medidas para garantir que as eleições europeias do próximo ano decorrerão de forma livre e justa, imunes a “manipulações por países terceiros e interesses privados”.

“Quero que os cidadãos europeus possam fazer as suas escolhas políticas em maio próximo no quadro de eleições europeias justas, seguras e transparentes. No nosso mundo ‘online’, o risco de interferências e de manipulação jamais foi tão elevado. Chegou o momento de adaptar as nossas regras eleitorais à era digital, a fim de proteger a democracia europeia”, declarou na ocasião Juncker.

King fez hoje votos para que, até final do ano, haja progressos em torno das medidas propostas pela Comissão, que incluem uma recomendação sobre redes de cooperação eleitoral, transparência em linha e proteção contra incidentes de cibersegurança e sobre a luta contra as campanhas de desinformação, assim como orientações sobre a aplicação do Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados da UE, e uma alteração legislativa para tornar mais estritas as regras sobre o financiamento dos partidos políticos europeus.