"Essa é a ideia mais parva que eu já ouvi", disse o pai de Diogo Mónica quando lhe comunicou que ia aceitar a proposta da Square. Parva, porquê? Porque corria o ano de 2010, a economia portuguesa entrava numa crise profunda e a americana, país para onde Diogo Mónica ia trabalhar, ainda estava mal refeita do colapso financeiro de 2008.

E foi neste contexto que o atual fundador da Anchorage, um dos unicórnios portugueses, recusou propostas de trabalho em empresas como Facebook ou Google a favor de uma empresa pequena e desconhecida à época (hoje vale mais de 100 mil milhões de dólares) – a Square.

No episódio de estreia da edição especial "Únicos" do The Next Big Idea, Diogo Mónica explica porquê. E as razões podem parecer contra-intuitivas se avaliadas de uma perspetiva mais convencional. “Eu sabia que só havia uma pessoa a trabalhar na área de segurança na Square, portanto tinha a certeza que ia fazer de tudo”, conta.

Isto ia permitir-lhe ganhar experiência e acelerar um processo de competências profissionais que descreve como “maximizar o desconforto e maximizar a aprendizagem”. Que acabou por ser uma das razões que o levou não só a tornar-se um profissional de topo na área, mas também a ganhar uma exposição ao mercado de criptoativos, em que viria a fundar a Anchorage. “A Square e a Docker foram empresas onde fiz de tudo e aprendi o que precisava saber.

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Diogo “sempre soube” que queria ter a sua própria empresa e o percurso de sete anos em duas startups – a Square primeiro e a Docker depois – teve como premissa aprender a fazê-lo. Mesmo que a oportunidade tenha acabado por surgir de forma inesperada quando um fundo de investimento com criptoativos o contactou para recuperar a chave perdida de uma carteira no valor de 1,5 milhões de dólares, oferecendo como pagamento o valor equivalente a 20% desse montante.

Foi o início de uma experiência como consultor que lhe permitiu validar três variáveis que conduziram ao lançamento da Anchorage: havia um mercado disposto a pagar por serviços que podia oferecer, podia potenciar o valor do que fazia se fizesse uma empresa em vez de continuar como consultor e tinha o co-fundador ideal para o fazer (basicamente a pessoa com quem partilhou percurso profissional desde o primeiro dia na Square e na Docker, Nathan McCauley).

Seguiram-se meses a entrevistar clientes num café, o Bravado, em frente às instalações da Docker que funcionou como uma espécie de primeiro escritório. “É muito giro termos três ou quatro fundos de investimento que me estão a pagar como consultor, mas é muito diferente ter uma plataforma que eles estão dispostos a pagar X dólares por mês ou uma percentagem dos ativos por mês”, afirma, rematando: “não angariámos investidores, mas sim clientes”. O que, na verdade, era um dois em um, já que os clientes eram os potenciais investidores.

E foi assim, com uma apresentação de 22 slides, sem uma empresa formalmente criada, que Diogo Mónica e Nathan McCauley tiveram um investimento inicial de 17 milhões de dólares assinado fundos respeitados no mercado como a Andreessen Horowitz e a Sequoia. “Foi quase um milhão por slide”, brinca hoje Diogo Mónica, para quem o nome dos investidores teve sempre um peso superior ao do valor do investimento financeiro.

“Os investidores são o cartão de visita para entrada no mercado, não só pela forma como podem ajudar a resolver problemas – como foi, por exemplo, no nosso caso a situação com a compra do domínio Anchorage que obrigou a várias negociações – mas também para contratarmos uma equipa com o melhor talento possível. Sendo uma empresa nova, que ninguém conhece, o nome dos investidores ajuda a dar segurança que nos permite recrutar bem”.

Para quem desde cedo soube que queria fazer uma empresa, o valor na economia das novas ideias é inequívoco e a geração de riqueza uma consequência natural – e benigna.  “É possível e é muito mais provável que ao criar algo que a sociedade dá valor, a riqueza venha, não como objetivo primário, mas como resultado. Não há aqui extração de riqueza que talvez seja muito a mentalidade de Portugal que é ‘zero sum’: se eu estou rico significa que alguém está pobre. Mas a realidade é que o mundo não funciona assim, há muita possibilidade de criar riqueza para todos”.

“A grande questão é que há capacidade de se utilizar a riqueza para andar para a frente com as ideias ou com os objetivos pessoais. Isso é um super-poder também quando usado para bem”.

Ser fundador de uma startup que hoje está já avaliada em mais de três mil milhões de dólares permitiu a Diogo Mónica, aos 35 anos, ser ele próprio investidor noutras startups. “Eu vejo o meu dinheiro como a capacidade de investir noutros empreendedores e noutras startups no futuro. Tanto que já fiz mais de 100 investimentos de capital de risco que são empresas em que invisto o meu próprio dinheiro porque quero ver a acontecer no mundo”.

Veja aqui o primeiro episódio da série “Únicos”