O bem conhecido Paradoxo de Fermi contrasta a ausência de qualquer evidência da existência de civilizações extraterrestres, com a quase impossibilidade probabilística de elas não existirem de facto. Trata-se de uma forma sofisticada de perguntar "onde está toda a gente?”
Se as leis da Natureza forem as mesmas em todo o Universo não há nenhuma boa razão para acreditar que as condições que levam ao aparecimento de vida e de inteligência apenas ocorreram num local, a Terra. A Equação de Drake permite quantificar estas probabilidades e estimar o número de planetas com civilizações que podem existir numa dada região do universo, digamos a Via Láctea, num dado momento. As estimativas para o número de civilizações que existem na nossa galáxia dão resultados muito díspares que vão de zero a dezenas de milhões.
Um dos termos na Equação de Drake que é mais difícil de estimar é o intervalo de tempo em que as civilizações são detetáveis. Para uma civilização ser detetável por outra é necessário, no mínimo, que tenha desenvolvido tecnologias de telecomunicações como o rádio ou os lasers, cujas transmissões se propagam à velocidade da luz pelo espaço. Em princípio, a tecnologia que permite a deteção destas transmissões surge em simultâneo com a que permite as próprias emissões.
A probabilidade de civilizações surgirem em simultâneo em dois planetas nas proximidades um do outro é baixíssima. Seria necessária uma enorme coincidência para que, ao mesmo tempo que os homo sapiens desenvolviam a escrita, houvesse outra civilização no raio de alguns milhares de anos-luz a lançar os seus primeiros astronautas.
Parece um fosso tecnológico gigante, mas que para a humanidade apenas tomou cerca de 5000 anos, quando as estrelas e planetas têm ciclos de vida de milhares de milhões de anos. Assim, para que várias civilizações existam e sejam detetáveis umas para as outras no mesmo instante de tempo é necessário que a vida inteligente, uma vez surgida, dure vários milhões de anos num estado tecnologicamente avançado.
Isto é precisamente o que indicam as estimativas feitas com a Equação de Drake. Se o tempo médio de vida de uma civilização tecnologicamente avançada for de apenas alguns séculos ou poucos milénios, então é altamente provável que a humanidade esteja sozinha na galáxia e que milhões de outras civilizações já tenham surgido e desaparecido naquilo que se assemelha a um piscar de olhos na escala de tempo cósmica, sem nunca existirem duas no mesmo instante de tempo. Por outro lado, para que um número grande de civilizações exista em simultâneo na nossa galáxia, é necessário que estas permaneçam detetáveis durante, provavelmente, milhões de anos. Recordemos que a humanidade conta ainda apenas com cerca de 5000 anos de registos históricos e pouco mais de 100 anos a difundir algo que possa ser detetável.
Também é verdade que, dentro das nossas limitações tecnológicas, a humanidade já leva 50 anos de esforços mais ou menos sistemáticos na procura de inteligência extraterrestre.
Mensagem enviada do radio-telescópio de Arecibo em 1975 para o aglomerado de estrelas M13 a 25000 anos-luz. Se lá houver alguém para a receber e responder, receberemos a reposta dentro de cerca de 50000 anos.
A Inteligência Artificial (IA) têm sido recentemente um assunto da ordem do dia a diversos propósitos, nomeadamente os relacionados com a transformação da economia e o futuro do trabalho. Há também discussões mais futuristas sobre como será a interação das futuras máquinas inteligentes com os humanos. Inúmeros investigadores da área, como o Prof. Arlindo Oliveira do Instituto Superior Técnico, têm abordado inclusivamente a possibilidade de virem a existir máquinas capazes de albergar uma mente humana ou outro tipo de IA sintética virtualmente indistinguível da humana.
Empreendedores de Silicon Valley, como Elon Musk, colocam expectativas tremendas no futuro da IA. Poderá a IA ser o passaporte de humanos individuais para a imortalidade e da humanidade para a eternidade?
São possibilidades bastante radicais e, no mínimo, algo especulativas. Mas deixando, por agora, de lado as reserva e assumindo que este é um futuro possível para a IA, podemos estar perante a chave que permitiria à humanidade libertar-se do seu inconveniente invólucro biológico e explorar o espaço. Sem a necessidade de suporte de vida nem o limite de um tempo de vida humano, as viagens interestelares podem até tornar-se plausíveis. Como é evidente, o mesmo seria verdade para qualquer civilização extraterrestre que desenvolvesse esta tecnologia. Se admitirmos que uma fração significativa das civilizações que surgem no Universo desenvolvem IA e que esta tem as características e possibilidades que agora se apresentam, então quase todas essas civilizações deveriam conseguir subsistir por milhares ou milhões de anos.
Regressemos então ao Paradoxo de Fermi. Se colocarmos em cima da mesa uma probabilidade razoável de uma civilização tecnologicamente avançada desenvolver Inteligência Artificial, pelo menos, tão avançada como aquela que a humanidade espera ter nas próximas décadas, então a galáxia devia estar repleta de máquinas inteligentes que sobreviveriam à extinção das formas de vida que as criaram.
Isto coloca o Paradoxo de Fermi sob toda uma nova perspetiva. Não só ainda não encontrámos nenhuma civilização extraterrestre, como também não encontrámos nem fomos encontrados por nenhuma espécie de Inteligência Artificial de origem extraterrestre. Assim, somos levados a pensar que a Inteligência Artificial não contém a chave para eternizar a inteligência de base biológica nem para catapultá-la para viagens interestelares nem para a colonização do espaço em larga escala. Podem também existir limites fundamentais ao desenvolvimento da Inteligência Artificial que encontraremos em breve e que nos impedirão de realizar as previsões mais otimistas e entusiásticas que têm sido feitas nos últimos anos.
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