A história da BEEVERYCREATIVE começa devagar, com poucas pessoas e na cidade conhecida como a Veneza de Portugal. “É uma entidade que surgiu como quase todas estas coisas novas e inovadoras: do nada. Duas pessoas que estavam mais ou menos disponíveis, dois jovens, que tinham por acaso estudado no mesmo sítio mas não se conheciam, andavam ambos à procura destas coisas inovadoras no mundo do 3D”, começa por contar Aurora Batista, CEO da empresa.

“Um deles, muito organizadinho, começou a juntar informação num site e a escrevê-la em português e o outro, muito fora da caixa e muito inovador, andava a procurar tudo quanto havia sobre 3D e encontrou [informação] em português e ficou muito admirado. Nunca tinha ouvido falar que já houvesse algum projeto sobre 3D e então foi à procura da pessoa que iniciou esse processo e descobriu que estavam na mesma cidade. Marcaram um encontro num restaurante — porque era onde havia Internet disponível — e descobriram que tinham estudado na Universidade de Aveiro. Não se conheciam antes, foi uma coincidência muito engraçada”, afirma.

Aproveitando as competências dos dois — um mais especializado em maquinação e o outro em eletrónica e software —, começaram o projeto comum. “O primeiro produto, porque a paixão que os tinha juntado era o 3D, foi uma placa para controlar movimentos em três dimensões. Fizeram essa placa, inovaram muitíssimo porque fizeram algo que substituiu três aparelhos anteriores. E começaram a pôr a placa à venda para realizarem algum dinheiro, já que tudo o que fizeram foi com as poupanças que tinham acumulado, e o feedback que começaram a receber dos makers por esse mundo todo — não eram muitos, mas eram muito espalhados — foi fabuloso”, refere Aurora.

Mas a atual CEO da empresa só se juntou numa fase posterior, aquela em que, depois do feedback positivo do mercado do 3D, era preciso financiamento para continuar o caminho iniciado. “Eu vim a convite de um amigo que estava a fazer coaching na incubadora e que se tinha entusiasmado com o projeto. Chamou-me, eu vim e apaixonei-me pelo projeto e por aqueles cérebros. Já foi juntos que decidimos fazer uma impressora. Tornei-me sócia da empresa, financiei-a e decidimos que o caminho era fazer uma impressora, que tinha de ser diferente”.

Mas, afinal, o que é uma impressora 3D? Aurora Batista explica de uma forma simples, com uma imagem singular. “Uma impressora 3D não é uma coisa onde se põe papel, que era uma pergunta que há uns anos todos faziam. Uma impressora 3D é uma ferramenta que, em vez de produzir coisas pegando num bloco e subtraindo, adiciona material para formar um objeto. No fundo é como uma seringa de enfeitar bolos, só que, em vez de pôr apenas a camada onde nós escrevemos os parabéns, o material funde para ser molinho e depositar no formato de desenho que queiramos. A seguir é seco e aguenta que se faça outra camada por cima, e outra, e outra. E assim nasce um objeto em três dimensões”.

Com esta impressora, o mundo do 3D mudou. “Fizemos a primeira impressora com design, a primeira impressora que resolveu problemas que as outras não conseguiam resolver. Até aí as impressoras eram assim umas fasquias, umas traves com fios por todo o lado, por fora, não eram nada bonitas. Eram próprias para estar numa oficina, na garagem de um maker, ou na cave de um maker”, refere Aurora entre risos.

A impressora da BEEVERYCREATIVE marcava pela diferença: “uma impressora fechada, bonita, limpa, brilhante, com uma pega para ser portátil, quase silenciosa, quase não se ouve”. E as inovações não ficaram por aqui. A impressora “pesa 10 kg, não é um peso gigante. Fizemos uma caixa [para transporte] e que é muito leve, onde cabe a impressora e todas as coisas que é preciso levar quando vamos imprimir para outro lado: uma bobine, uma fita azul, as ferramentas. Tudo cabe naquela caixa bonita”, conta.

Uma evolução no produto — e na empresa — pedia, pois, um nome que marcasse o projeto. “A empresa tinha um nome relacionado só com eletrónica e passámos a ter um nome ligado à impressão: BEEVERYCREATIVE. É interessante, porque nós queríamos um nome curtinho, com apenas duas ou três letras. BEE era o ideal, porque as abelhas foram as primeiras impressoras do universo, daquilo que há história. As abelhas constroem as suas colmeias adicionando material de uma forma muito estruturada e queríamos registar BEE, mas não nos deixaram. Então achámos que podia ser BEECREATIVE. Também não nos deixaram e acrescentámos o VERY, que lhe deu muita força. Quem queria um nome curtinho acabou com um nome gigante, o que também foi muito notado no mercado internacional porque era o único nome gigante da área do 3D, por isso toda a gente nos conheceu”, relembra.

Mas impressoras há muitas, hoje em dia. Contudo, a BEEVERYCREATIVE pode dizer que já tem um projeto pronto a ir para o Espaço. “Para além das impressoras que vendemos fazemos outros projetos por encomenda. Saiu um concurso da ESA [European Space Agency] para fazer uma impressora para trabalhar em gravidade zero e com polímeros de alta performance. Nós ganhámos esse concurso! É um empolgamento na empresa, entregar uma impressora que produz em polímeros de alta densidade, que produz em temperaturas altíssimas e faz peças de substituição e ferramentas que vão ser usadas no Espaço e vão permitir que lá em cima não tenham de ter uma área gigante de peças para todas as necessidades mas apenas de levar uns rolos e depois imprimir o que faz falta, é uma transformação”, começa por explicar Aurora.

“O espaço já tem uma impressora 3D mas só funciona com polímeros de baixa densidade, que servem para fazer coisas menos robustas, mas é uma sensação de orgulho enorme saber que uma empresa pequenina de Portugal vai contribuir para este avanço na humanidade”, conta orgulhosa.

Neste sentido, há há margem para dúvidas acerca do grande sonho da empresa, baseado no lema “imprimir mudança”. “Com o 3D só adicionamos o que faz falta e ainda por cima podemos escolher quanto pomos por dentro — e não precisa de muito por dentro para um objeto ser resistente. Assim conseguimos gastar menos e só assim é que o mundo vai ser salvo. E o sonho é um bocadinho esse, é que toda a gente possa usar esta tecnologia e salvar o planeta e os outros planetas para onde se vá. Salvar a humanidade”, remata.


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