Em termos de cibersegurança, “a fragilidade dos nossos sistemas vitais”, dos “sistemas críticos que fazem a sociedade funcionar é assustadora”, afirmou, em entrevista à Lusa, o ex-presidente do Departamento de Engenharia Informática do IST de Lisboa e fundador do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Investigação e Desenvolvimento (INESC).
Para “quem saiba criar perturbações”, se “em vez de criar uma perturbação, criar quatro, cinco seis sete e a repetir massivamente durante uma semana, não há nenhum governo que resista”, afirmou, evitando dar exemplos práticos por que “não é apropriado”, sublinhando, porém, que as forças de segurança em Portugal conhecem estes riscos.
E “é evidente que não há nenhuma medida de proteção tipo milagre de Fátima” nem para Portugal nem para os restantes países, acrescentou.
Sendo certo que este tipo de “ataques” cibernéticos “não tem nada a ver com grandes potências nem exige muito dinheiro”, pode ser feito por pequenos grupos de pessoas, o que justifica a sua frase: “Eu com cem mil euros e uma pequena equipa deito abaixo o governo deste país, em quinze dias.”
Para o professor universitário, que foi investigador no MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos Estados Unidos, Portugal sofre de uma “falta de pensamento” na cibersegurança.
José Tribolet dá vários exemplos, a começar na administração pública, onde “não há um inventário” dos sistemas, de equipamentos, das instalações ou até dos técnicos.
A informação das conservatórias dos registos “tem de estar protegida” e, administração pública, hoje está “tudo desconjuntado”.
“Hoje em dia, como em alguns sítios existem, essa informação está guardada em bancos de dados que não estão ligados a nada. Têm de estar numa cave, algures numa gruta bem protegidos fisicamente”, disse.
Depois, numa lógica quase militar nesta guerra de defesa cibernética, faltam, segundo o professor que foi aluno do Colégio Militar, “oficiais de combate”, “comandos” para defenderem as estruturas vitais do país, como a distribuição de eletricidade, água ou telecomunicações.
O professor e fundador do INESC tem um plano, desde 2016, para fazer formação nesta área da segurança, mas não tem tido candidatos e a razão é simples: os alunos que saem das universidades portuguesas em áreas como engenharia informática ou engenharia de redes ou sistemas e computadores não têm falta de emprego.
A solução passa, por isso, por envolver, num curso pago, as cerca de 40 empresas, públicas e privadas, que operam sistemas sob concessão, nas águas, gás, eletricidade, transporte.
“Se cada um desses operadores se comprometer a recrutar, contratar” a formação de um técnico, por semestre, num curso do Instituto Superior Técnico (IST), então, durante quatro anos serão 320 os técnicos formados nesta área da cibersegurança.
Não são “precisos acordos ou criar institutos” e “o Estado não precisa de meter dinheiro nisto”, afirmou.
Prestes a fazer 70 anos e a reformar-se, José Tribolet faz uma definição “sui generis” da sua ideia e do curso.
“Isto é o trivial, é necessário e não há tempo a perder. É uma daquelas ideias à Tribolet. Na minha vida, felizmente que vou fazer 70 anos e vou-me reformar da universidade este ano, metade das ideias estúpidas que tive cumpriram-se e tiveram sucesso. Sou um homem feliz”, concluiu.
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