Diogo Mónica, um dos rostos da criptoeconomia em Portugal e do mundo enquanto CEO e fundador do Anchorage Digital Bank, é taxativo sobre o atual momento. Diz ele:
1. O inverno já chegou (na economia global)
2. Contrariamente ao que se passa no "Game of Thones", na criptoeconomia chega a cada três anos
O inverno das criptomoedas é a mesma coisa que a recessão económica que se antecipa?
Não, mas a coexistência de uma quebra nos criptoativos com um contexto macroeconómico de inflação e de possível recessão torna o momento atual diferente de "invernos" anteriores e deixa várias questões em aberto.
Uma primeira questão refere-se à capacidade das criptomoedas serem imunes à inflação, característica que lhes era apontada até ao atual contexto de elevada inflação. O comportamento das principais criptomoedas tem sido, na prática, idêntico aos das principais divisas internacionais, como o dólar ou o euro cuja valorização / desvalorização pode ser promovida pela atuação das autoridades monetárias centrais, como a Reserva Federal ou BCE.
A segunda questão prende-se com confiança, um fator tão determinante na criptoeconomia como na economia de sempre. Nos Estados Unidos aponta-se para que cerca de 50 milhões de pessoas tenham já investido em criptoativos; isso significa uma relativa generalização, mas também um aumento de risco. A desvalorização da criptomoeda Luna (que desceu a pique até praticamente zero) deixou quem investiu furioso e a exigir um outro controlo sobre as plataformas de criptoativos (mesmo que o seu fundador tenha já entretanto anunciado um nova vida com a Luna 2.0).
"Ainda bem que o bear market aconteceu agora", têm dito vários protagonistas da Web3, incluindo Diogo Mónica em entrevista ao The Next Big Idea. Porquê? Porque, afirmam várias vozes no setor, a escassez de recursos (financeiros e não só) vai obrigar as empresas a focarem-se em melhorar os seus produtos e serviços e a procurarem onde podem ser efetivamente úteis. Outros, mais ácidos, recordam uma máxima do setor financeiro atribuída a Warren Buffett: "só quando a maré está baixa, é que se vê quem está a nadar despido".
Ou seja, depois deste inverno, saberemos quem serão realmente os protagonistas na nova internet.
Do inverno para a Web 3.0
Afinal, o que é a Web3 de que tanto se fala agora? E porque é que se diz que é a "nova internet"? Ora, simplificando, Web3 designa uma nova etapa da internet cujo início tem lugar em 2008 com a invenção de uma nova tecnologia – a blockchain – por Satoshi Nakamoto, um nome cujo rosto ninguém conhece e que muitos questionam a efetiva identidade. A blockchain surge como tecnologia de suporte da Bitcoin, a primeira criptomoeda cuja circulação foi limitada pelo seu criador a 21 milhões de unidades.
Como evoluiu a internet?
Procurando simplificar o que, em cada etapa, foi na verdade mais complexo, podemos apresentar assim a evolução de três décadas:
Web1, ou a primeira etapa da internet, é o período inicial de acesso global à internet em que podíamos "ver coisas" online
Web2, ou a segunda etapa da internet, tem início com o Facebook (2004), a primeira rede social global, e explode com o lançamento do iPhone (em 2007); além de podermos "ver coisas" passávamos a poder "fazer coisas" online
Web3, a nova etapa que atualmente vivemos, inicia-se com a invenção da blockchain e criação da Bitcoin e tem como premissa a possibilidade de sermos donos da nossa identidade na internet ou de ativos que só existem online
Uma imagem que é habitualmente usada para se descrever estes três momentos recorre a uma analogia desportiva: na Web1 podíamos ver um jogo, na Web2 podíamos participar no jogo e na Web3 podemos ser donos da equipa
Web5? Alguns nomes bem conhecidos da tecnologia questionam a Web3 que apontam como sendo uma "invenção" de investidores. Jack Dorsey, fundador do Twitter e da Square, contrapropõe mesmo um novo conceito - a Web5 - que seria o somatório da Web2 (a internet das redes sociais) com a Web3 (a internet dos criptoativos, dos NFTs e do Metaverso).
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