O país assinou o acordo de adesão ao OES em 27 de junho de 2000, tornando-se Estado-Membro de pleno direito em 07 de maio de 2001.
Para Nuno Peixinho, que integra o Comité de Utilizadores do OES, a adesão de Portugal ao observatório permitiu-lhe "na prática ser astrónomo".
"Se Portugal não tivesse aderido ao OES, a astronomia não teria crescido, seria uma ciência secundarizada", sustenta à Lusa.
Nuno Peixinho representa há três anos Portugal no Comité de Utilizadores do OES, uma espécie de "delegação sindical", ironiza, que defende os interesses dos investigadores que ganham os concursos que lhes possibilitam fazer observações com os telescópios do observatório, instalados no deserto de Atacama, no Chile.
O astrónomo, que preside à Associação de Bolseiros de Investigação Científica, utilizou pela primeira vez, em 1999, um dos equipamentos do OES, o radiotelescópio SEST, para medir o sinal de nuvens moleculares (nuvens interestelares que possibilitam a formação de moléculas de hidrogénio, o elemento químico mais abundante no Universo).
Posteriormente, a partir de observações realizadas com um conjunto de quatro telescópios óticos, o VLT, aprofundou o estudo sobre os corpos celestes da Cintura de Kuiper, região do Sistema Solar que se estende para lá da órbita de Neptuno, tendo concluído que os planetas gigantes como Júpiter, o maior de todos os planetas, se moveram da zona onde se formaram.
Nuno Peixinho realça que, apesar de a quotização financeira de Portugal para o OES ser inferior à de países mais ricos, como a Alemanha, os astrónomos portugueses concorrem em pé de igualdade com os estrangeiros no acesso aos telescópios e ao tempo dado para os usarem e fazerem observações do céu.
"Não há quotas de tempo, apesar de haver quotas financeiras", frisa, acrescentando que a seleção das candidaturas é feita com base no "mérito científico".
Graças aos telescópios do OES, o astrónomo Pedro Figueira participou na "descoberta e caracterização" de sistemas planetários extrassolares, trabalho que efetuou com colegas de várias nacionalidades.
Hoje, coordena as operações do espetrógrafo ESPRESSO, que desenhou para o telescópio VLT e que é "o mais avançado caçador de planetas do mundo", ao detetar planetas fora do Sistema Solar com as "mesmas propriedades" da Terra.
Pedro Figueira afiança, categórico, que sem o Observatório Europeu do Sul "não seria possível ser astrónomo em Portugal".
"Estaríamos relegados a um provincianismo a nível científico", advoga, salientando que o observatório tem permitido aos astrónomos "trabalharem com tecnologia de ponta".
Hugo Messias, astrofísico que esteve envolvido nas observações que revelaram ao mundo, em 2019, a primeira imagem de um buraco negro, considera que o OES lhe deu a oportunidade de "crescer tanto a nível técnico como científico".
"O estar envolvido nesta instituição possibilitou-me estar a par das últimas descobertas, mas também maximizar o uso e a eficiência de instrumentos de ponta como o ALMA", justifica.
O radiotelescópio ALMA, com o qual continua a trabalhar, foi um dos radiotelescópios utilizados por uma vasta equipa internacional de cientistas para obter a primeira imagem de um buraco negro, mais concretamente da sua silhueta, um feito amplamente noticiado na imprensa e distinguido nos Estados Unidos com um prémio de 2,7 milhões de euros.
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