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A Web Summit divulgou esta semana os resultados do seu relatório anual sobre o estado da igualdade de género no setor da tecnologia, e os números revelam um cenário ambivalente: se por um lado 81% das mulheres se sentem preparadas para assumir cargos de liderança, por outro lado 60% consideram que o equilíbrio de género no setor piorou no último ano.
O inquérito, que envolveu 671 participantes da comunidade global de mulheres na tecnologia da Web Summit, abrange profissionais de cinco continentes: Europa, América do Norte, América do Sul, Ásia e África. A faixa etária vai dos 18 aos 74 anos, com 40% das respostas a vir de mulheres entre os 35 e os 44 anos.
Retrocesso no equilíbrio entre géneros preocupa setor
O dado considerado mais alarmante no relatório é a perceção de retrocesso: 60% das inquiridas afirmam que o equilíbrio de género na tecnologia piorou no último ano, um aumento face aos 48% registados em 2024. Mais de metade (56%) aponta mudanças geopolíticas recentes como responsáveis por minar a equidade de género no setor.
Uma das participantes no inquérito resume a questão de forma direta: “Ter presidentes que desprezam abertamente pessoas LGBT, mulheres em posições de liderança, igualdade e direitos humanos envia uma mensagem negativa para todas as mulheres e homens.” Outra testemunha que “os clubes dos rapazes estão de volta com toda a força”.
Para sermos levadas a sério, precisamos de ter um desempenho acima da média; os erros não são tolerados da mesma forma.
Apesar de uma década de programas e iniciativas dedicadas à inclusão, o documento indica que o sexismo mantém-se como uma barreira concreta. Quase metade das inquiridas (49%) afirma ter sofrido sexismo no local de trabalho, um número apenas ligeiramente inferior aos 51% de 2024.
Ainda mais revelador é o facto de 82% das mulheres no setor da tecnologia sentirem que precisam de ter um desempenho superior ao dos homens para serem levadas a sério. Este número representa um agravamento face aos 76% que em 2024 disseram ter de trabalhar mais para provar o seu valor.
“Para sermos levadas a sério, precisamos de ter um desempenho acima da média; os erros não são tolerados da mesma forma”, desabafa uma das inquiridas. Outra acrescenta: “Sempre tive de provar que sou ‘apenas um dos rapazes’. Sempre precisei de estar à frente e no topo de tudo, porque qualquer falha menor era rotulada como ‘as mulheres não conseguem lidar com isto’, em vez de uma oportunidade para aprender e crescer.”
A inteligência artificial é uma oportunidade ou um risco?
A inteligência artificial (IA) surge no relatório como uma tecnologia de dupla face. Por um lado, 77% das mulheres utilizam IA diariamente e 75% veem o seu potencial para promover a inclusão. Por outro, uma em cada quatro (25%) receia que possa reforçar preconceitos existentes.
Muitas inquiridas destacam a IA como uma ferramenta que pode aliviar a pressão sobre o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. “A IA permite-me poupar tempo, o que torna o equilíbrio com a vida familiar menos difícil”, refere uma participante.
Este equilíbrio continua a ser um desafio central: 56% das mulheres dizem que ainda têm de escolher entre o sucesso na carreira e a vida familiar, um aumento face aos 49% do ano anterior.
Progressos na remuneração, mas questão das quotas divide
Nem tudo são más notícias. O relatório mostra uma melhoria na perceção sobre equidade salarial: 37% das inquiridas consideram agora que são pagas de forma injusta em comparação com colegas homens, uma descida face aos 51% de 2024.
A questão das quotas para cargos de liderança mantém-se divisiva. Cerca de metade das inquiridas (51% em 2025 e 53% em 2024) concorda que são frequentemente oferecidas posições de liderança às mulheres para preencher quotas, o que mostra opiniões ainda divididas sobre o tema.
As mulheres precisam de financiamento, não de palestras motivacionais.
Algumas testemunhas do inquérito são perentórias sobre o assunto. “A verdadeira inclusão exige envolvimento significativo e mudança cultural, não apenas o preenchimento de quotas”, afirma uma participante. Outra vai mais longe: “Quero ser tratada como igual. Não preciso de uma nova mesa só para mulheres. Coloquem-me como oradora principal com o resto dos rapazes.”
Década de programa traz resultados visíveis
A Web Summit lançou o seu programa dedicado às mulheres na tecnologia há 10 anos, em 2015. Desde então, os números mostram mudanças: a participação feminina nos eventos da organização saltou de apenas 25% em 2013 para 42% em 2016, um ano após o lançamento do programa, e mantém-se próxima da paridade desde então.
A edição de 2024 da Web Summit registou outro marco: 44,5% das startups fundadas por mulheres, um aumento face aos 29% de 2023.
Catarina Burguete, gestora de comunidade da Web Summit, sublinha a importância de perceber as experiências das mulheres no terreno. “Embora haja muitos relatórios sobre tendências de financiamento para empresas fundadas por mulheres e o número de mulheres a trabalhar na tecnologia, também é importante compreender as experiências, boas e más, das mulheres que trabalham na indústria.”
A responsável reconhece que, apesar de maior consciencialização sobre os desafios, os problemas centrais mantêm-se: “O preconceito e as questões de equilíbrio entre vida profissional e pessoal ainda dominam. Ainda mais preocupante é que a pressão em torno da manutenção desse equilíbrio continua a crescer. Isto mostra claramente que precisamos de avançar mais depressa se queremos ver as mudanças pelas quais lutamos.”
O próximo evento da Web Summit em Lisboa acontece entre os dias 10 e 13 de novembro. À semelhança das edições anteriores, o The Next Big Idea vai marcar presença na conferência tecnológica.
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