“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” é uma expressão com vários entendimentos. Para o ano de 2021, mudou-se o calendário, algumas coisas ficaram na mesma, mas a aplicação de troca de mensagens pode estar para mudar. O WhatsApp, aplicação detida pela Facebook, anunciou novas políticas de privacidade, e uma parte dos seus utilizadores não se deu por satisfeita. A consequência? A procura de alternativas, claro. Na frente da corrida estão o Telegram e o Signal, que abordam a proteção de dados dos utilizadores de formas distintas.
Sobre o WhatsApp, dada a sua popularidade, a aplicação ainda reina enquanto principal modo de trocar mensagens privadas no mundo inteiro. Ora, em outubro passado, veio-se a saber que o WhatsApp iria passar a partilhar dados dos utilizadores com a Facebook, empresa que detém a aplicação desde 2014. Na realidade, desde essa altura que esta “promiscuidade” de dados acontece — a diferença, agora, é que a Apple exigiu uma maior clareza das políticas de privacidade de cada aplicação na sua App Store, o que levou a que o WhatsApp enviasse uma notificação para os seus utilizadores para as suas “novas” políticas de privacidade a exigir que estes as aceitem até dia 8 de fevereiro. Exigir pode parecer uma palavra forte, mas a verdade é que a empresa se dispôs a apagar as contas dos utilizadores que não aceitem os termos. É por isso que muita gente está a migrar para outros serviços, ou que, por outro lado, os que já usavam esses serviços estão a receber tantas notificações sobre novos utilizadores.
Parte deste tópico é o conceito de encriptação, e isso merece uma adenda antes de se poder avançar com o texto: encriptar informação é o processo de a codificar, de forma a que apenas quem tenha a chave ou uma identidade aprovada a possa entender. Isto não é, de todo, uma tecnologia nova. O que não faltam nas histórias de guerra, seja o cenário a II Grande Guerra, ou a Guerra Fria, são mensagens codificadas, ou encriptadas, que cientistas de dados tentam decifrar por meio de algoritmos. Este mesmo tipo de processo é usado nos serviços de mensagens instantâneas para proteger a informação trocada entre utilizadores.
O WhatsApp, de facto, partilha dados com a empresa-mãe, Facebook, e a forma como protege os dados do utilizador é, igualmente, alvo de críticas. Além de recolher mais dados do que a concorrência (número de telefone, identificação do dispositivo, histórico de compras, localização, email, contactos, e mais detalhes do utilizador), a aplicação partilha-os com o Facebook, que tem um mau histórico de proteção de dados, para propósitos publicitários. Ao nível da informação das conversas entre utilizadores, esses dados estão, até ver, protegidos pela encriptação feita em “end-to-end”, ou seja, nos dispositivos, o que significa que só quem estiver no grupo ou na conversa da app poderá aceder às mensagens trocadas.
Vale a pena trocar de aplicação de mensagens privadas?
Esta é questão a que só o utilizador pode responder, mas para a qual toda a gente quer uma resposta. A verdade é que se tem uma conta de Instagram ou de Facebook, a conta de WhatsApp não representa um verdadeiro problema a nível do que partilha dos seus dados. O mesmo se pode dizer sobre qualquer utilizador de uma conta Google, empresa cujos algoritmos, e com base no comportamento de cada utilizador online, já permitem assumir uma série de características de cada um (pode confirmar no site adssettings.google.com).
Mesmo assim, se mais uma “fuga” de dados é algo que preocupa, não há nada melhor do que conhecer as alternativas.
Telegram
O Telegram, como o WhatsApp, também precisa de dados dos utilizadores. A saber, são eles: informações do contacto, número de telefone, e ID de Utilizador. Menos em comparação com a solução da Facebook. A informação das mensagens é encriptada num servidor — e aqui está a crítica mais famosa à plataforma, com base no preconceito de o seu dono ser, na verdade, o empreendedor russo Pavel Durov. O problema da idoneidade do “inventor” coloca-se para qualquer nacionalidade como o próprio Facebook o demonstra. Contudo, descansem-se os mais paranoicos, porque o Telegram tem um serviço de mensagens secretas que usa a mesma solução para encriptar mensagens que o WhatsApp, ou seja, nos dispositivos dos utilizadores que as trocaram.
Signal
O Signal precisa apenas de um dado para funcionar: o número de telefone. Além disso, a aplicação encripta todas as mensagens e chamadas feitas, assim como os próprios metadados (informação sobre outras informações) de cada conversa. Mais importante, como se trata de uma solução comunitária e de código aberto (o código fonte em que a aplicação assenta, que programa e permite o seu funcionamento, é público e livre de propriedade), com um modelo de negócio baseado em donativos, todos os utilizadores têm acesso ao software, podem propor alterações no seu funcionamento e, mais importante, notar se há alguma alteração nos critérios de segurança. Em toda a justiça, o Telegram também usa código aberto e, apesar de ter um modelo de negócio claro e focado no lucro, permite o mesmo escrutínio que o Signal.
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