A empreendedora social, de origem senegalesa, fundadora da organização I Am the Code, abre hoje o 1.º EurAfrican Forum, em Cascais, e vai mostrar de que forma a educação para a tecnologia pode contribuir para um futuro melhor. Como aconteceu consigo.
A história de Mariemme não começou de forma feliz. Nascida no Senegal, foi traficada para França com 13 anos para ser prostituta e andou pelas ruas até ser resgatada pela polícia e enviada para um centro de refugiados, como relatou em entrevista à Lusa.
A alfabetização tardia (a partir dos 16 anos) não a impediu de tentar uma nova vida no Reino Unido, onde acabou por se fixar e onde fundou o movimento I Am The Code, um projeto que, segundo disse em entrevista à agência Lusa, já chegou a 10 mil raparigas de 60 países.
“O nosso objetivo é chegar a um milhão em 2030”, tendo como destinatárias preferenciais mulheres e raparigas “que sofrem violência ou vivem em condições difíceis”.
“Damos-lhes orgulho e dignidade, segurança, ferramentas que podem usar para ficar seguras em casa e construírem os seus sites, tornarem-se empreendedoras”, sublinhou à Lusa
“O objetivo é assegurar que as raparigas não são traficadas para a Europa, que não sofrem o que eu sofri, sozinha, sem família, sem amor. Essa experiência traumatizou-me muito”, acrescentou.
Mariéme deu como exemplo o Brasil, um dos países onde o I Am The Code já está implementado, garantindo que, em três meses, ajudou a diminuir a prostituição infantil em 47% nas favelas.
É absolutamente chocante que, em 2018, as raparigas vivam nestas condições”, lamentou, afirmando que quer travar o ciclo de pobreza e ajudar as raparigas a permanecerem nos seus países, aprendendo a programar.
O I Am the Code começa por identificar raparigas ou jovens mulheres em risco de pobreza ou que possam ser vítimas de mutilação genital, marginalização ou tráfico de seres humanos, “que vivem em sociedades frágeis”, e encontrar parceiros locais para desenvolver os seus programas educativos.
Procura também envolver os governos e o setor privado, além das próprias comunidades, para ajudar que os executivos possam desenhar políticas mais favoráveis às mulheres e “ajudar a pensar com empatia e compaixão”.
Sentimentos que Mariéme considerou estarem pouco presentes nas atuais políticas migratórias europeias.
“Penso que é preciso olharmos para as pessoas como pessoas, e não como pessoas que precisam de ajuda. Mas os decisores políticos não estão a pensar nisto, estão a olhar para as pessoas como um fardo, como uma perturbação. Temos de pensar de forma mais amigável, as pessoa não vêm para a Europa porque querem, mas porque enfrentam condições difíceis, porque estão desesperadas”, vincou.
Recordando a sua própria história de vida, bem como a do irmão - um refugiado que chegou de barco através da Líbia até Itália e que vive atualmente na Alemanha – Mariéme salientou que todos querem “ser felizes, prosperar, sentir segurança”.
Espera, por isso, que a 1.ª edição do EurAfrican Fórum, onde hoje participa e que junta líderes africanos e europeus num evento direcionado para as novas gerações, sirva também para mudar as relações entre a Europa e África.
“A Europa sempre olhou para os africanos como se os africanos quisessem vir para a Europa. Mas os africanos já não querem vir para a Europa, querem ficar em casa. Penso que o que precisamos de fazer é encontrar parcerias que façam sentido. Precisamos de encontrar uma relação equilibrada entre os dois continentes, porque a Europa precisa de África e África precisa da Europa”, concluiu.
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