As ambições da Colossal BioSciences fazem jus ao nome da startup norte-americana que está a trabalhar para reverter a extinção de uma espécie que nos habituámos a ver em livros, filmes e museus.
O CEO da empresa, Ben Lamm, explicou ao Expresso que o objetivo é editar células de elefantes-asiáticos, que partilham partilham 99,6% do genoma dos mamutes-lanosos, fazendo com que ganhem características semelhantes ao do extinto animal. Depois, levar esta espécie híbrida para o Ártico, recuperando o seu ecossistema e travando o degelo do permafrost.
Nas suas palavras: “estima-se que iremos perder até 50% de toda a biodiversidade até 2050 se nada fizermos. Mas temos agora ferramentas genéticas que nos permitem assegurar melhor a preservação das espécies e até a ‘desextinção’. Trazer o mamute-lanoso de volta corresponde a três grandes objetivos: conseguir avanços na edição genética que possam ser usados para a conservação das espécies, cura de doenças que as ameaçam e na saúde humana; desenvolver tecnologias de gestação extrauterina, como úteros artificiais, e recriar o ecossistema entretanto degradado do Ártico, reintroduzindo parte da megafauna que ali vivia, de forma a retardar o degelo do permafrost”.
O permafrost é um solo que passa o ano todo congelado e que ocupa cerca de 25% da superfície terrestre do Hemisfério Norte, sobretudo na Rússia, no Canadá e Alasca. Composto por pequenos fragmentos de gelo ou por grandes massas de gelo, pode ter poucos metros ou centenas. O permafrost é também um dos maiores armazenadores naturais de dióxido de carbono e de metano. O aquecimento global, todavia, está a contribuir para que o gelo derreta e estes gases com efeitos de estufa sejam libertados para a atmosfera.
Onde é que entra aqui o mamute-lanoso? Acredita-se que ao desbastarem o musgo que passou a cobrir a tundra siberiana e ao deitarem abaixo pequenas árvores, seriam capazes de manter a terra mais fria e adiar ou mesmo travar o degelo. Bastariam “alguns poucos milhares para ter impacto no aprovisionamento de carbono”, diz o CEO da Colossal ao semanário.
No que diz respeito à gestação, numa primeira fase a Colossal está a pensar em usar barrigas de aluguer — de elefantes — e depois construir mesmo úteros artificiais.
E porquê parar no mamute?
“Se pensarmos neste projeto como um todo, o que estamos a fazer é desenvolver novas tecnologias que, combinadas com as existentes, possam atuar como um kit de ‘desextinção’ das espécies, seja o mamute-lanoso ou o rinoceronte-branco-do-norte”, diz Ben Lamm.
Apesar do entusiasmo do CEO da Colossal BioSciences, este projeto levanta várias questões éticas e práticas. Está por provar que o regresso dos mamutes à Sibéria tivesse o impacto esperado, depois é questionável se é legítimo implantar embriões de uma espécie no útero de outra. E estas estão longe de ser as únicas questões em cima da mesa.
No entanto, a startup criada em 2021, já conseguiu angariar 75 milhões de dólares para este projeto.
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