Um vídeo de dois mamutes a andar pela neve.

Um vídeo de dois barcos piratas a combater numa chávena de café.

Um vídeo animado de um monstro a apagar uma vela.

Antigamente, os três só podiam ser o resultado de muitas horas de trabalho de uma equipa de criativos a utilizar software de ponta. Mas já não é necessariamente assim.

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Num futuro próximo, poderão ser o produto do Sora, a nova plataforma de text-to-video desenvolvida pela OpenAI. O que é? Da mesma forma que fazemos perguntas ao ChatGPT e este nos dá respostas ou que damos indicações ao Dall-E e este dá-nos uma imagem, o Sora é o próximo passo no leque de produtos da empresa de Sam Altman. No entanto, o foco agora está no vídeo. Sendo que a plataforma já consegue:

  • Gerar vídeos até um minuto
  • Interpretar vídeos já criados e expandi-los para uma maior duração
  • Interpretar uma imagem e transformá-la num objeto em movimento

No entanto, não é a primeira plataforma a conseguir fazer isto.

A Runway, uma concorrente da OpenAI, já tinha ganho protagonismo ao ser utilizada nos efeitos especiais de "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo", que ganhou o Óscar de Melhor Filme em 2022. Em junho de 2023, a startup levantou inclusive uma ronda de 141 milhões de dólares, em que participaram nomes como a Google, a Nvidia e a Salesforce.

Além da Runway, também a Google anunciou recentemente o Google Lumiére, que ainda está em desenvolvimento, mas mostrou resultados promissores na geração e edição de vídeo através de texto e de imagem.

O contexto do Sora não é muito diferente, mas acontece no seguimento da polémica que levou à saída temporária do CEO Sam Altman da empresa e a consequente nomeação de um novo conselho de administração mais favorável aos seus desejos para o futuro da OpenAI.

Ainda há bastante trabalho a fazer

Para já, a plataforma ainda não está disponível ao público e a OpenAI está a trabalhar com especialistas, artistas e cinematógrafos para explorarem tantos os benefícios como as fragilidades da plataforma. Tal como os outros produtos da OpenAI, há um investimento grande que tem de ser feito em termos de segurança para garantir que conteúdo abusivo não é produzido e que há, por exemplo, uma marca de água a sinalizar vídeos produzidos com o Sora (é o que vemos no cantinho inferior direitos dos vídeos).

Depois, há também a questão de como é que isto impacta toda a indústria do entretenimento, das séries e filmes ao gaming e criadores de conteúdo nas redes sociais.

Por um lado, é um setor que emprega muitas pessoas, com as mais diferentes competências, que subitamente podem ver uma plataforma a substituir todo o seu trabalho. Imaginemos as empresas cuja principal valência é o desenvolvimento de ambientes artificiais para filmes, jogos e séries. Se, de repente, há um serviço que faz esse trabalho em menos tempo através de um simples prompt, qual é o seu papel doravante? E deverão os grandes estúdios de Hollywood recorrer só a especialistas de geração de vídeo em plataformas como a Sora, se isso lhes compensar financeiramente?

Por outro, é uma plataforma que democratiza a produção de conteúdo para milhares de criativos no mundo inteiro. Pessoas com boas histórias para contar, mas, que, por norma, não têm acesso a um mercado e a recursos para as produzir da melhor forma. A Sora e outras plataformas podem ser uma forma se resolver esse desafio e permitir o aparecimento de uma nova onda de criativos e narrativas que até agora não tínhamos observado.

É um tema sensível, como a maior parte dos relacionados com inteligência artificial, e que vai colocar naturalmente pessoas da indústria e fora dela em lados opostos.