Atrasado 15 minutos e com umas gotas de suor na cara. Foi assim que Tim Draper chegou à sua sessão no palco Q&A Stage, no Dia 1 da Web Summit, mas emanava toda aquela boa disposição de sempre, que o tornou uma das figuras mais carismáticas do tecido empresarial norte-americano. A sua empresa, a Draper Associates, tem cerca de 5 mil milhões de dólares em ativos no seu portofólio, com investimentos em empresas de renome como o Hotmail, o Skype, a Tesla e a Coinbase.
Primeiro, começou por responder a uma pergunta muito simples: quais é que vão ser as “next big ideas?”. Para Tim Draper, vão necessariamente de ter estas três condições:
- Melhores a gerir dinheiro
- Melhores a contratar e a reter talento
- Melhor a desenvolver tecnologia que poucos competidores têm acesso
“As recessões económicas são boas para construir boas empresas”, diz, frisando acreditar que nos próximos nove meses vamos começar a ver quais são as empresas que de facto têm um modelo de negócio e quais são aquelas que estavam demasiado dependentes de investimento para se manterem competitivas no mercado. Para essas, não é necessariamente o fim, mas vão ter de repensar aquilo que é a sua organização para se manterem competitivas. “Tenho a certeza que aquelas que são apoiadas pela Draper Associates se vão aguentar”, diz o empresário.
“A próxima grande ideia ainda não aconteceu porque não está num produto está numa pessoa”, de acordo com Tim Draper. Nas suas palavras, serão sempre pessoas com um sentido de missão e capacidade de olhar para um problema de forma diferente que vão trazer inovação a um mercado global. Os que estão só mesmo à procura de dinheiro, não terão grande sorte.
Quais podem ser a próximas boas ideias?
“Cada vez que me mostram uma nova plataforma ou um novo produto, a primeira pergunta que eu faço é: isto é um mundo onde eu quero viver?”, explica. É nesse contexto que entra o metaverso, uma tecnologia e uma realidade na qual a Draper Associates já conta com alguns investimentos.
“Isto vai definitivamente acontecer. Ainda não sabes bem como, mas vai ser um pouco como o iPhone. Um dia damos por nós e estamos todos com um na mão e já não sabemos viver sem ele”, afirma. Para Tim Draper, ainda é uma tecnologia apenas para uma certa demografia, mas esse foi o caso para todas as grandes inovações tecnológicas: todas elas começaram com gerações mais jovens e depois foram-se espalhando para o resto da sociedade.
“No metaverso vamos observar uma revolução nos videojogos, no mundo do trabalho, na forma como operam os marketplaces e acredito que no espaço de uma década vamos ter os primeiros interfaces para computadores cerebrais”, remata.
Para Draper, as criptomoedas também são uma ideia para ficar e vão ter cada vez maior adoção e aplicação em mais contextos do nosso dia-a-dia. Apesar do contexto de inflação e de queda nos mercados de criptomoedas, não rejeita hipótese de a Bitcoin ser o modelo monetário do futuro. “U a Bitcoin será sempre uma Bitcoin e só vão existir 21 milhões. A libra estrelina poderá continuar a cair em valor sem se saber bem o seu futuro”, exemplifica.
Sobre o Twitter
“O Elon é brilhante, mas teve um timing terrível quando fez a proposta pelo Twitter. Foi numa altura em que o mercado estava no pico e agora está a sofrer com a recessão económica. As despesas em publicidade são as primeiras a sofrer um corte neste tipo de períodos e é normal que o Twitter não só valha menos agora, como precise de encontrar novas formas de receita”, elabora Draper. O investidor acredita que o bilionário sul-africano poderá estar a tentar encontrar algumas sinergias entre os seus três principias negócios (Tesla, SpaceX e Twitter) ou simplesmente provar que consegue dar a volta a qualquer tipo de negócio. Se no caso do Twitter será por começar a cobrar uma subscrição para ser verificado e depender menos da publicidade, teremos de aguardar para ver.
Sobre a China
“Eu fui o primeiro investidor a ir para a China procurar negócios e fui o primeiro a sair assim que percebi o que o Governo estava a fazer”, conta o investidor. A administração de Xi Jiping lançou no último ano e meio um severo ataque (através de multas e regulação) às super-apps chinesas que estavam a acumular muito poder e prejudicou a sua posição económica, de acordo com o fundador da Draper Associates. Na sua perspetiva capitalista e liberal, “monopolistas odeiam monopolistas”, mas a China está a cometer um erro que poderá comprometer a sua hegemonia.
Antes de se despedir, Tim Draper deixou uma mensagem aos fundadores que estavam na audiência do palco Venture. “Foquem-se no vosso cliente e nas pessoas que vão fazer parte do vosso futuro”.
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