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Trabalho híbrido – dizem que veio para ficar. Depois de uma pandemia, que nos obrigou a ficar fechados em casa, este modelo foi adotado por muitas organizações, nomeadamente nos setores e áreas em que isso era possível. E, a julgar pelos dados disponíveis em estudos e inquéritos, parece que, mesmo depois de o vírus deixar de ser uma ameaça, vai continuar a ser uma opção para grande parte das empresas.
Na verdade, o conceito de trabalho híbrido não é novo. Já todos tínhamos aquele amigo que trabalhava em casa há uns quantos anos. Mas era a exceção, não a regra. Hoje sabemos que é possível viver desta forma e até reconhecemos vantagens de o fazer.
Do lado das empresas, há uma redução significativa de despesas, por exemplo, nos custos de renda (uma vez que podem ter espaços menores e onde o desgaste das instalações acaba por ser menos acentuado). Do lado dos colaboradores, há a flexibilidade de tempo e de espaço, de acordar mais tarde, de não ter de apanhar o autocarro e de, por todos estes motivos, ter mais disponibilidade para conjugar a vida profissional com a pessoal.
Mas neste ano e meio também aprendemos outras coisas. Como, por exemplo, que trabalhar num modelo híbrido não é trabalhar em casa: é ter essa possibilidade, mas poder optar por passar uns dias no escritório da empresa, ou escolher outros locais para o fazer, como bibliotecas, espaços de cowork, cafés e todos os sítios onde seja possível produzir. Muitos asseguram que até se produz mais.
Andamos todos ao mesmo
Segundo um estudo feito pela Microsoft, no qual participaram mais de 30 mil pessoas em 31 países e que analisou “biliões de sinais de produtividade no Microsoft 365 e no LinkedIn”, as ofertas de emprego remoto nesta rede social ligada ao trabalho aumentaram 5 vezes durante a pandemia. E 46% daqueles que trabalham nestes moldes estão a pensar mudar de casa porque, afinal de contas, já não precisam de estar amarrados à secretária que os espera, todos os dias, algures no centro (ou não tão no centro) de uma cidade barulhenta.
Já um outro estudo, realizado pela consultora McKinsey, que analisou 100 organizações da Europa, da Ásia, da América Latina e dos EUA, revela que 9 em cada 10 empresas querem optar por este modelo misto de escritório + trabalho remoto.
As duas faces da moeda
De acordo com os dados recolhidos pela McKinsey, 58% dos executivos de topo afirma que, com o trabalho híbrido, a produtividade dos trabalhadores aumentou ao nível individual, e 49% afirma que aumentou ao nível global. No que toca à satisfação do cliente, 36% também aponta para um aumento.
No entanto, há muitos colaboradores a acusar níveis algo preocupantes de ansiedade e 49% revela estar a passar por ou estar perto de ter um burnout (estado de esgotamento físico e mental causado pelo trabalho). Por vezes, a transição do in loco para a conetividade digital torna difícil que “desliguemos” e, fora de horas, ignoremos aquele mail que nos caiu na caixa de entrada quando já estávamos no sofá prontos para ver uma série.
Colegas ou amigos?
Ainda na linha da produtividade, o trabalho feito pela McKinsey mostra que as organizações que mantiveram os colaboradores em contacto foram os que mais beneficiaram neste sentido, para debater ideias, discutir projetos ou ter pequenas sessões de mentoria. E o estudo da Microsoft dá-nos outro dado interessante: com a pandemia, reduzimos as nossas redes de contactos pessoais e agarrámo-nos mais aos nossos colegas de trabalho.
De certa forma, o trabalho tornou-se mais humano. Durante estes tempos atípicos, que obrigaram as nossas casas a ser escritório, infantário e escola, 20% dos trabalhadores conheceu os familiares ou animais de estimação dos seus colegas de trabalho através de videochamadas, e 17% chorou com um colega de trabalho.
As empresas líderes vs. as outras
Nem todas as empresas são iguais e os dados, obtidos no estudo da McKinsey, mostram como organizações diferentes lidaram com esta realidade de forma diferente. Tipos de empresa analisados: leaders (empresas inovadoras, que concebem produto e criam conceitos), middlers (empresas no meio termo), e laggards (empresas obsoletas e de estrutura pouco flexível). O que lhes aconteceu perante a realidade do trabalho híbrido?
- As empresas leading são aquelas cujos gestores mais mudaram a sua forma de liderar as equipas (57%).
- As empresas lagging são as que estão menos predispostas a mudar o seu modus operandi e a experimentar modelos de trabalho diferentes (63% não fez mudanças significativas).
- A maioria das organizações mudou o seu processo de recrutamento, mas grande parte das empresas leading redesenharam-no totalmente (41%).
- A maioria das organizações reavaliou a adequação dos trabalhadores para cada função, mas apenas algumas (8% das leading) fizeram efetivamente mudanças.
O caminho a percorrer
O trabalho híbrido pode ser o futuro, mas a maioria das empresas (68%) ainda não sabe como é que vai desenhar este modelo de gestão de recursos humanos e implementar medidas que tornem isso possível. No entanto, podemos já olhar para exemplos de algumas gigantes que estão, ao que tudo indica, a fazer algo de certo:
Microsoft. Os colaboradores desta big tech podem passar 50% do horário laboral em casa. Mas, com autorização da gestão, este tempo poderá ser estendido.
Amazon. A gigante do e-commerce optou por um modelo de 3 dias por semana no escritório. Contudo, as equipas mais pequenas dentro da própria empresa podem ajustar-se internamente. Além disso, os funcionários podem ainda trabalhar durante quatro semanas, de modo totalmente remoto, num local à escolha.
Citigroup. Grande parte dos trabalhadores do maior grupo de serviços financeiros do mundo optou pelo modelo 50/50, entre trabalho remoto e presencial. Já os funcionários do data center (armazenamento e organização de informação tecnológica no espaço físico da empresa) devem voltar ao escritório. Como "bónus", foram banidas as videoconferências à sexta-feira.
Lockheed Martin. Na empresa aeroespacial cerca de 45% da força de trabalho vai permanecer em casa. Contudo, foram feitas várias formações para que isto fosse exequível num mundo pós-pandémico.
Target. A gigante do retalho norte-americana vai reduzir a área dos seus escritórios a um terço e deixar o espaço de mais de 300 mil metros quadrados que ocupava anteriormente, na cidade de Minneapolis, Minnesota, e onde trabalhavam cerca de 3.500 pessoas. Alguns destes funcionários, vão permanecer em trabalho remoto. Outros serão espalhados por diferentes escritórios.
Por aqui, a equipa do Next (ainda) escreveu este texto a partir do sofá de casa.
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