Susan Fowler, uma engenheira que trabalhou no Uber de novembro de 2015 até dezembro do ano passado, publicou no domingo um artigo no seu blog pessoal no qual revela que abandonou a sua posição na empresa por ter sofrido assédio sexual e que o departamento de recursos humanos nada fez perante as suas inúmeras queixas sobre o sucedido.

No seu artigo, Fowler revelou que apresentou reclamações a diretores da empresa no departamento de Recursos Humanos, na sequência do assédio que, segundo a mesma, sofreu ao longo de um ano por parte de um diretor da Uber. Contudo, após reclamar, a agora ex-funcionária da empresa ouviu que tal se tratava de uma "primeira ofensa" relativamente a este funcionário e que a empresa não queria punir e deixar incomodado um "alto executivo".

Esta segunda-feira, o diretor executivo e co-fundador do Uber, Travis Kalanick, anunciou o início de uma “investigação urgente”. Esta notificação foi feita através de um e-mail enviado aos funcionários e ao qual a agência AFP teve acesso. Nele, Kalanick informa que Eric Holder e a advogada Tammy Albarran vão elaborar uma "revisão independente dos problemas específicos vinculados ao ambiente de trabalho revelados por Susan Fowler, assim como vão tratar de averiguar a diversidade e a inclusão na empresa".

Em 2008, Eric Holder fora nomeado pelo Presidente Barack Obama para ocupar o cargo que tutela a Justiça, tornando-se o primeiro afro-americano a ser nomeado para o cargo de Procurador-Geral. Com uma longa carreira na justiça norte-americana, tinha sido nomeado em 1993 pelo Presidente Bill Clinton como procurador federal de Washington e, em 1997, “número dois” do Departamento de Justiça.

Acusações de sexismo

Susan Fowler alega ainda que não foi caso único e que outras engenheiras da empresa confessaram e reportaram outros casos de assédios similares. Fowler menciona ainda que existem políticas sexistas no Uber, ao destacar que a percentagem das mulheres na empresa caiu de 25% para 3%, desde o momento em que foi contratada até ao seu pedido de demissão. Estes números, na sua opinião, evidenciam o "sexismo dentro da organização".

Kalanick respondeu a estas alegações dizendo que nas de áreas engenharia, gestão de produto e científica, 15,1% dos funcionários são mulheres. O índice "não mudou consideravelmente no último ano", disse, antes de estabelecer uma comparação com o número de mulheres contratadas por outras empresas do setor: 17% no Facebook, 18% no Google e 10% no Twitter.

Note-se que Fowler não está sozinha na matéria de queixas apresentadas à companhia. Existem ex-funcionários da empresa que fizeram eco por terem apresentado queixas similares. O caso mais mediático será o de Chris Messina, conhecido por ser o criador da hashtag, que deixou o seu emprego após estar apenas um ano a trabalhar como programador. Messina expressou no Twitter que ele próprio teve experiências difíceis com os executivos que chefiam os recursos humanos.

Movimento Anti-Uber

Esta denúncia chegou rapidamente às redes sociais e trouxe de volta o movimento #deleteUber. Esta foi uma hashtag que ganhou bastante notoriedade quando os utilizadores da aplicação acusaram a companhia de estar a dobrar esforços para lucrar com a greve dos taxistas quando estes estiveram parados em protesto nos aeroportos americanos, após Donald Trump ter avançado com o decreto-lei que proibia a entrada de pessoas oriundas de sete países nos Estados Unidos.

O impacto foi de tal ordem que Kalanick deixou de integrar, no início de fevereiro, o fórum estratégico de dirigentes de empresas encarregados de aconselhar o Presidente norte-americano.

“Falei hoje [no passado dia 2] brevemente com o Presidente sobre o seu decreto sobre imigração e os problemas para a nossa comunidade. Informei-o também de que não posso participar no seu conselho económico”, anunciou Travis Kalanick aos funcionários da Uber numa comunicação interna, a que a Agência France Press teve acesso.

Travis Kalanick acrescentou que “integrar o grupo (de conselheiros económicos) não significa uma validação do Presidente ou da sua agenda, mas infelizmente foi mal interpretado”.

Donald Trump tinha avançado com um veto migratório (entretanto rejeitado por um painel de três juízes do Tribunal de Recurso do Nono Circuito de São Francisco) que proibia a entrada nos Estados Unidos de cidadãos originários de sete países de maioria muçulmana (Irão, Iraque, Iémen, Somália, Sudão, Síria e Líbia)

Este movimento atingiu fortemente o negócio da Uber, que terá lançado um relatório em que é reportado que existiram 200 mil contas desativadas. No entanto, o site Recode escreve que o número deve ter sido mais elevado que o divulgado. Esta controvérsia poderá elevar ainda mais esses números.

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